Barbara Migliori revela como é ser diretora de moda da Vogue Brasil
A fashionista listou tendências, falou de seu estilista preferido e contou um pouco do que aprendeu em 12 anos de trabalho na revista
atualizado
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Barbara Migliori, diretora de moda da Vogue Brasil, tem uma história de longa data com a revista e com o universo fashion. No dia 8 de novembro, ela veio a Brasília para uma colaboração com a renomada designer de joias Carla Amorim. Aproveitei a oportunidade e fiz uma entrevista exclusiva. Além do importante cargo na publicação, tem seu próprio canal no YouTube da Vogue: Dicas Bárbaras. Nos vídeos, a profissional fala sobre tendências e as diversas formas de produzir looks.
Vem comigo!
No evento em Brasília, Barbara veio acompanhada de Camila Garcia, redatora-chefe da Vogue. Juntas, elas escolheram cinco tendências da temporada e fizeram um mix com as joias da mais nova coleção de Carla Amorim.
Durante um pequeno desfile para um seleto grupo, o alto escalão da Vogue comentou sobre o melhor jeito de usar peças contemporâneas com os acessórios escolhidos pelos presentes. O foco da discussão foi sobre como as joias podem realçar tanto produções mais esportivas e informais quanto visuais luxuosos. Uma verdadeira aula e o resultado foi muito positivo.
A interação com as clientes foi muito divertida e as dicas de moda, melhores ainda. Afinal, não é qualquer dia que recebemos conselhos de uma das maiores fashionistas do Brasil. No vídeo abaixo, Barbara mostra algumas peças para a Duda Portella Amorim.
No tema acessórios, as meninas conversaram sobre como o ouro-negro pode deixar um look ainda mais sofisticado. Sem falar no pulseirismo – em alta nesta temporada . Além disso, a mistura de diferentes tipos de ouro e a valorização das joias com técnica de espuma, como foram observadas no evento, são outros hits que jamais saem de moda.https://youtu.be/pSJ_jIdGCYg
Conheça um pouco mais sobre Barbara na entrevista abaixo:
Você trabalha na Vogue desde maio de 2005. Quais são as memórias que você tem dessa época?
Em 2005, tínhamos uma redação mais enxuta e precisávamos nos dividir em muitas funções. Não havia a estrutura atual, onde tem uma pessoa cuidando de cada coisa específica. Então, a necessidade de fazer diferentes atividades me ajudou muito a ter o conhecimento que tenho hoje. Na época, eu precisava produzir, ir a sessões de foto, fazer styling, ligar para todas as pessoas. Era muita coisa. Ainda tem a parte de escrever tudo, entregar pronto, bater emenda e fechar a revista. Bastante trabalho, mas se for parar para pensar, isso nos traz bagagem. Então, foi muito bom.
Quais principais mudanças que você viu em nível pessoal e profissional nesses 12 anos de Vogue? O que mais aprendeu nessa jornada?
Todos os dias, eu passo isso para quem colabora comigo. É essencial saber fazer de tudo para crescer. Não existe uma coisa menos importante que outra. Para ensinar alguém ou ter autonomia sobre o seu trabalho, é necessário mostrar conhecimento. Saber ligar na hora, dar conta daquele styling, ajudar em qualquer foto. Conseguir se virar em todas as etapas. Às vezes, as pessoas ficam muito ansiosas para chegar ao topo rápido. Mas a pergunta é: você sabe tudo o que precisa para alcançar o que deseja? Para mim, o trabalho é mais importante do que a fama.
Sua formação em arquitetura te ajudou no trabalho que você faz hoje?
Sim. Arquitetura é uma profissão muito séria. Tanto que eu não me sentia boa o suficiente nessa área. É necessário ter muito talento. Mas todo o conhecimento adquirido na faculdade foi útil, até para entender o meu ofício hoje. Envolve estética e arte. Os embasamentos teóricos são super importantes para quem gosta de moda.
Você já disse que a Vogue francesa é seu estilo de Vogue favorito. Existe um motivo para isso?
Sim. Eu acredito na simplicidade. Considero um pensamento bem resolvido algo simples. Até por ser difícil de alcançar. Na maioria das vezes, a clareza é mais elaborada que coisas muito extravagantes, pois atinge algo simples, mas ao mesmo tempo funcional, harmônico e atemporal. Estamos falando de imagem, mas, para mim, a simplicidade na vida é o ápice.
O que acha da moda atualmente? Acredita, como a analista de tendências Li Edelkoort, que os designers vêm reciclando ideias antigas?
A moda é uma repescagem de coisas do passado já faz um tempo. Hoje, ela é mais funcional e olha bastante para a rua. Não adianta fazer roupa com muita fantasia ou que sirva só como um statement. É necessário vencer comercialmente, mas as peças devem funcionar no dia a dia da mulher de verdade. Para mim, esse é um conceito sem o qual não se faz moda atualmente ou, pelo menos, a pessoa acaba não tendo o êxito desejado. Sim, as ideias são requentadas, mas precisam ser. Se você só reproduzir, está fazendo figurino e não moda.
Qual estilista internacional você mais gosta?
Jonathan Anderson, o diretor criativo da Loewe, marca francesa que deu um revamp nos últimos anos. Antigamente, a label tinha apenas acessórios, mas agora apresenta coleção completa, com desfile em Paris. Acho o máximo. Ele também tem sua grife própria, a JW Anderson, e é genial porque traz coisas diferentes. Serve a mulher de hoje com uma intenção muito sofisticada, mas, ao mesmo tempo, simples e bem-resolvida. Anderson não explora recursos e processos decorativos óbvios. Isso fala comigo pessoalmente: não gosto de ver coisas já conhecidas. Quando observo um desfile, uma imagem ou uma pessoa que admiro, gosto de ver algo inédito, seja no styling ou na própria confecção da roupa. Esse estilista tem uma concepção de moda nova, autoral e contemporânea, mas não é compreendido por todo mundo.
E o estilista nacional que você mais gosta?
Hoje em dia, vemos muita coisa boa por meio do projeto VesteRio, que visa apoiar novos talentos e, ao mesmo tempo, dialogar com o mercado. Existem marcas nacionais incríveis. Eu amo André Namitala, da Handred; os meninos da Paradise – eles têm uma identidade muito forte –; e o Reinaldo Lourenço. No Brasil, temos ótimos estilistas e grifes consolidadas. Elas vendem bem e merecem o nosso respeito. Também adoro fazer compras na Cris Barros. Lilly Sarti também fala com a mulher moderna e cresceu muito no sentido comercial. Admiro quem consegue vencer neste país.
Quais são as três tendências atemporais de um guarda-roupa?
Uma jaqueta de couro – de preferência a perfecto, que tem um “corte motociclista”, com pontas mais agudas, porque dá para usar com tudo, até roupa de festa. Um vestido de tricô, mas aquele novo, tecnológico, que não esquenta. Acho interessante, pois não amassa na mala e, dependendo dos acessórios, é muito versátil, podendo ser usado de dia e de noite. Minha terceira escolha seria um conjunto coordenado. Camisa combinando com calça. Amo! Seja com a mesma estampa ou com o mesmo tecido, um conjuntinho não ocupa o seu tempo e mostra uma atenção para produzir algo chique sem mesmo ter se preocupado com isso.
Você já relatou que gosta muito de peças novas. O que você quis dizer com isso?
Não sou fã de vintage. Na minha compreensão, aquilo que uso faz parte do mundo no qual vivo hoje. Isso é uma pensata contemporânea e não algo antigo.
Além de muito simpática, Barbara é uma das maiores referências de moda no Brasil. Ela tem um estilo incrível e foi uma delícia bater esse papo.