Balaclava na moda: entenda a polêmica sobre o acessório de vestuário
Tendência nas passarelas, a peça tem gerado debate principalmente após um vídeo da influenciadora Malu Borges viralizar nas redes sociais
atualizado
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Existe um limite na moda? Essa é uma das perguntas que tem permeado o debate sobre o uso da balaclava. O acessório, que cobre da cabeça até o pescoço, virou tendência das grifes e fashionistas dos países no Hemisfério Norte. Contudo, tem sido questionada por grupos sociais que a definem como um privilégio branco.
Vem entender mais!
Afinal, o que é uma balaclava?
Não é incomum a moda trazer para o seu universo itens que, até então, não faziam parte do seu habitat. A peça da vez é a balaclava. O gorro, que cobre cabeça e pescoço, surgiu durante a Guerra da Crimeia, em 1850. A principal função era ajudar os soldados a se manterem quentes nas baixas temperaturas do inverno russo.
Atualmente, o acessório mantém essa característica de proteção. Por isso, não demorou para que as grifes desenvolvessem as próprias versões modernas.
Tendências nas passarelas
Na moda, uma peça vira tendência quando aparece em vários desfiles pelas semanas de moda mundo afora. Ao longo dos anos, marcas como Calvin Klein e Gucci estiveram entre as primeiras a incluir o acessório em coleções.
A peça retornou com bastante fôlego na temporada de outono/inverno, em coleções reveladas no ano passado, com Miu Miu, Eckhaus Latta, e Marine Serre, que a recriaram com cores vibrantes e padrões. Assim, não demorou para que as fashionistas incluíssem a balaclava no radar fashion.
No Milão Fashion Week, a grife Max Mara abraçou o hype e colocou vários visuais com balaclavas na passarela. A cartela de cores passou pelo preto e tons terrosos, chegando a tons vibrantes, como vermelho, laranja e amarelo. Outra marca que colocou o item na coleção de fall/winter 2022/23 foi a Sunnei, com versão texturizada e colorida.
Polêmica
A partir do uso da balaclava por famosos e influenciadores, o debate sobre a peça chegou às redes sociais. Usuários questionam o aspecto político e social que a peça tem para certos grupos.
A consultora de estilo e comunicóloga, Andreza Ramos, afirma que a branquitude é o único público real da balaclava, tirando os artistas. “Vivemos em uma realidade onde jovens pretos morrem por vestirem moletom, capuz, por portarem guarda-chuvas e serem ‘confundidos’. Então, seria muita ingenuidade pensar que esta é uma tendência viável onde pretos e brancos seriam lidos exatamente da mesma forma”, explica.
Ela acrescenta que a utilização do item pela moda escancara como o segmento pode ser previsível sempre definindo como cool quando é usada por pessoas que não são negras. “Foi assim com tranças, com turbantes, com o hijab; nada é interessante o suficiente até que tenha sido embranquecido”.
Por fim, Ramos comenta sobre a situação confortável que indivíduos brancos adotam quando são questionadas sobre as práticas. “O privilégio é escancarado quando um influente ou empresas milionárias dizo contrário, esvazie o significado e transforme nossos elementos em commodities culturais”, reitera.
Balaclava é o cúmulo do privilégio branco no mundo da moda. Vcs conseguem imaginar o que acontece se uma pessoa negra sai com isso na rua aqui no Brasil? Vcs tem noção do problema que isso tá causando pra pessoas que usam hijab? Olha sinceramente é muita falta de noção https://t.co/PQiQ5N3vd5
— maria ta quebrada (@mariaclarafnsc) February 10, 2022
Gente branca forçando balaclava como acessório é algo que me deixa meio ablublé das ideias pic.twitter.com/KoSyx6aP27
— dinossauro de 1m60 🧜🏽♀️ (@tramaabstrata) February 10, 2022
A influenciadora da balaclava
O uso da balaclava no Brasil foi levado à tona com mais afinco quando a influenciadora Malu Borges compartilhou com os seguidores utilizando a peça. O vídeo em que a jovem mostra o acessório no TikTok já foi reproduzido mais de 8 milhões de vezes.
A jovem já havia viralizado com um vídeo após usar a “bolsa toalha” da Bottega Veneta nas redes sociais. O mais novo viral de Malu surgiu em razão da parceria com a Crocê. Em colaboração com a marca, a digital influencer lançou um modelo exclusivo de balaclava feito de crochê.
Em entrevista à coluna, a jovem comenta sobre o processo de criação da collab as polêmicas levantadas sobre a utilização do acessório em terras brasileiras. Confira abaixo a conversa com Malu Borges:
Como foi o processo de criar a coleção? O que a motivou?
Malu Borges: Eu já conhecia a Crocê por conta dos buckets. Aí, comentei que estava indo a Nova York [Estados Unidos] e que queria uma balaclava de crochê. Foi um “casamento” de sucesso, pois ela já estava fazendo as peças. E eu sabia que o item estava bombando lá fora por acompanhar a moda desde sempre. Assim, tive a ideia de assinar a collab.
Qual foi a primeira vez que usou uma balaclava?
A primeira vez que usei foi nessa viagem para Nova York. Já tinha experimentado antes, mas, usar mesmo, criar um look, compor e dar ênfase no assunto, foi nessa viagem para a New York Fashion Week.
A peça virou tendência nas passarelas, mas é muito questionada por movimentos sociais e raciais por ser um item que pessoas desses grupos não usariam, ainda mais no Brasil. Você teve consciência a respeito e o que acha da problemática?
A moda está o tempo todo propondo coisas diferentes e esses itens podem estar relacionados a questões socioculturais passadas. Apesar disso, muitas vezes, ela está desconectada da questão social. É claro que há um contexto diferente quando eu uso a balaclava, então por isso quis trazer para a minha estética, de forma leve.
Eu nunca usaria em um sentido ruim. Acredito que se fosse para não usar, justamente por essas questões, a gente não usaria o espartilho, que foi o maior elemento de opressão feminina, mas hoje ele é usado. Com a pandemia, o acessório [balaclava] virou virou um item necessário.
@maluborgesm BALACLAVA MALU IS COMING @shop.croce #arrumesecomigo #fy #fyp ♬ original sound – MALU BORGES
Estar consciente das demandas e reivindicações da atualidade precisa fazer parte dos que trabalham e amam a moda. O conhecimento a respeito de narrativas e problemáticas é o caminho para compreender se deve ou não escolher uma peça ou estilo.
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Colaborou Luiz Maza