“A PatBo está seguindo um caminho muito bonito”, diz Patricia Bonaldi
Após passagem recente por Brasília (DF), a estilista aguarda seu primeiro desfile presencial no NYFW e comenta as novidades da grife
atualizado
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Nova coleção, flagship recém-inaugurada, loja e desfile internacional… A agenda de Patricia Bonaldi está a todo vapor com as novidades da PatBo. Perto de seu primeiro desfile presencial no New York Fashion Week, a estilista e empresária veio a Brasília (DF) recentemente celebrar a chegada da primeira loja da grife na cidade, inaugurada no fim de março. Em entrevista à coluna, por chamada de vídeo, Bonaldi comentou sobre as novas investidas da marca e deixou claro um detalhe: ela não é mineira, como costuma ser chamada.
Vem conferir!
Patricia Bonaldi é fundadora e diretora criativa da PatBo. Lançada em 2012, a grife explora o lado mais experimental da designer, aliado à essência festiva e ao bordado que a acompanham desde sua primeira marca, atualmente incorporada na linha de vestidos de festa PatBo Atelier. Até o momento, a label tem nove lojas próprias no Brasil, incluindo a nova flagship em São Paulo (SP) e o espaço em Brasília.
Com forte presença internacional, os produtos da PatBo são comercializados em 25 países; são cerca de 250 pontos de vendas. Ainda neste mês, a marca abrirá as portas de sua primeira loja própria no exterior, localizada no SoHo, em Nova York, nos Estados Unidos. A inauguração antecede o primeiro desfile presencial da marca no New York Fashion Week, marcado para o dia 8 de setembro, após duas participações em edições digitais do evento.
Com a loja própria em NY, a experiência ficará ainda mais completa para as clientes internacionais, incluindo as várias celebridades que já vestiram peças da grife. Até hoje, quando isso acontece, Patricia garante que a emoção continua igual à primeira vez. Especialmente quando se trata de personalidades das quais ela é fã, como as cantoras Alicia Keys e Janelle Monáe.
“Sou emocionada, zero blasé. Tenho o privilégio de trabalhar com o que eu amo, então eu realmente vibro e vivo isso full time. Nada para mim é pouco, tudo tem que ser comemorado, porque sabemos de onde viemos, tudo que acontece é mais um passo dado, mais uma vitória”, comenta. “Tem momentos muito especiais para a marca, mas é sempre frio na barriga.”
Com a chegada da pandemia, a PatBo explorou a categoria lifestyle com a linha Home, que incorpora almofadas, perfumaria para ambientes e pijamas. Na passagem recente por Brasília, Bonaldi aproveitou para lançar a coleção de verão 2022, intitulada ArtBo, na loja da capital federal. Em bate-papo com a coluna, ela conversou sobre esse e outros tópicos, como o que teria feito diferente quando deu o primeiro passo na moda ao abrir uma multimarcas em Uberlândia (MG), em 2002.
Você esteve recentemente em Brasília. Como foi sua passagem pela cidade?
Foi muito legal. Até notei um pouco que a mulher de Brasília é muito parecida com Uberlândia, Goiânia… O perfil de comportamento, o jeito de consumir. A loja está indo bem. Foi uma oportunidade que abriu no meio da pandemia e decidimos seguir. Eu estava esperando me vacinar, as coisas acalmarem, para ir pessoalmente. Foi muito especial, um momento muito legal para a marca no varejo.
Como é a sua relação com Brasília? A cidade inspira você de alguma forma?
Vendo em Brasília há muitos anos, então, conheço bastante a cidade. É um outro jeito de se arrumar. A carioca, mais perto do mar, é mais solta. As pessoas que não têm mar, como mineiros e brasilienses, se arrumam para os eventos, é mais social. Tem tudo a ver com a minha marca. Minha roupa é mais elaborada, mais maximalista, então tem um “fit“.
Você aproveitou a oportunidade para lançar sua coleção verão 2022. Pode falar sobre a inspiração dela?
Fizemos uma coleção inspirada no modernismo. Diferentemente de outras coleções, demos um toque mais gráfico para as estampas, que eram mais orgânicas. Agora, trabalhamos muito com color blocking, até brincamos que a coleção se chama “ArtBo” porque foi um mergulho em arte e, nessa história de trazer uma energia positiva, uma vibração de alegria para o momento.
Desde que você traçou o plano de expansão da marca, que prevê cerca de 20 lojas da PatBo no Brasil até 2025, como você avalia o momento atual dela?
Acho que a PatBo está seguindo um caminho muito bonito. Decidimos não vender nossa marca, trilhar o nosso caminho sozinhos, eu e meu sócio [Luiz Moraes], meu marido. Nós somos os fundadores. Temos um conceito para a marca. Por mais que ela possa crescer mais, entendemos qual é o nosso tamanho, para não deixarmos de ser a PatBo, e continuarmos fazendo o trabalho manual.
Isso define alguns limites. A Fundação Dom Cabral, uma escola muito bacana e importante de negócios, tem nos ajudado a estruturar e fazer esse crescimento com mais base, com pensamento não só em dinheiro, mas de quem queremos ser, de levar a marca sem destruir o DNA dela. Não que o dinheiro não seja importante. Nós temos um crescimento, ele é visível, mas é controlado, para que não deixemos de ser a nossa marca.
Durante o período de isolamento social, o interesse das pessoas por técnicas manuais, como crochê e tricô, aumentou. Algumas estavam aproveitando o tempo livre em casa para praticar essas técnicas. Você viu algum reflexo disso nas vendas da PatBo, que sempre teve o artesanal como uma das características?
Bordado é uma coisa que eu defendo desde o dia 1. Ele tem fases na moda, mas sempre foi nossa maior bandeira na marca, está no nosso DNA. Fico muito feliz de ver essa valorização e esse retorno para o trabalho manual. Vou levar isso comigo enquanto eu estiver na PatBo, trabalhando. Acho que é um saber tão milenar, uma coisa que daqui a pouco ninguém vai querer fazer. As pessoas estão lidando com o tempo de outra maneira, quem topa bordar uma peça, passar dias, horas fazendo uma coisa, é algo que tem que ser muito apreciado. Não pelo material, mas pelo tempo das pessoas, o maior bem que há.
Você também lançou sua linha Home, que fez muito sucesso com os pijamas. Esse era um desejo seu mesmo antes da pandemia?
A linha Home, sim. Os pijamas eu nunca tinha pensado. Foi um insight que tive durante a pandemia, quando começou, porque nossa roupa é para eventos, e ficamos pensando: como as pessoas vão comprar sem ter eventos? O que podemos oferecer a elas? Veio a ideia dos pijamas, que foi um sucesso absoluto. Hoje, é o item mais vendido do meu e-commerce, acho que nunca mais vai sair do nosso mix, porque foi um acerto. Agora, estamos fazendo para meninos também. Já já vai ter uma collab com um menino bem famoso.
Você está prestes a fazer sua estreia presencial na Semana de Moda de Nova York e também tem uma loja em Nova York a caminho. Como estão os ânimos para esse novo passo, levando em conta que você já se apresentou duas vezes, nas edições digitais?
Agora, a pressão está diferente. O digital é mais controlado, o presencial é muito desafiador. Estou sentindo como se estivesse fazendo o meu primeiro São Paulo Fashion Week, a mesma emoção. No caso do New York Fashion Week, quando você apresenta nos Estados Unidos, é para o mundo. Sabe vestibular? Essa é a sensação. Mas a coleção está linda. Estou segura do que estamos fazendo, até pelo fato de estarmos vendendo em vários pontos. Nós temos uma operação estruturada de quatro anos de trabalho. O desfile vem abrilhantar, coroar o momento em uma hora bem certa.
Em uma entrevista recente, você comentou sobre o desejo de lançar coleções regulares de calçados. Esse projeto está em andamento?
Está, tenho muita vontade de ter essa linha de sapatos mais estruturada. Não um sapato aqui e outro lá, é realmente a marca PatBo de sapatos. E já está andando, viu? Graças ao meu marido, porque eu não estou tendo tempo para nada (risos). Só vou desenhar, mas não vou pensar em mais nada.
Você é normalmente chamada de mineira, mas vimos que você nasceu em um município de Goiás. Afinal, você é goiana ou mineira?
Eu sou goiana! Nunca pedi para ninguém me chamar de mineira, esse pessoal não se informa. Outra coisa que não entendo é por que tem que falar o estado da estilista. Ninguém fala “estilista paulista”. Quando as pessoas vão dar entrevista, é a “estilista mineira”, “o estilista pernambucano”, mas só nós que não somos de São Paulo temos que falar o estado. Quem é de lá, é só “o estilista”.
Eu nunca dei entrevistas falando que sou mineira. Isso é tão repetido que entra no inconsciente das pessoas. Sou goiana, nasci em Ceres (GO), com muito orgulho. Me sinto muito mineira também, minha influência como estilista, a cultura, as coisas que eu aprecio, é [tudo] muito mais mineiro. Eu só nasci [em Goiás], não tive nenhum contato com a cultura goiana, tinha 30 dias quando saí de lá e nunca mais voltei.
Com a experiência que você tem hoje, qual conselho você daria para a Patricia que abriu uma multimarcas em 2002?
As coisas tinham que ser como foram. Muitos erros e acertos, levanta e cai. Se eu pudesse corrigir, teria investido mais em formação de pessoas, um RH robusto. A coisa mais difícil do negócio é gerir pessoas. Quem minimiza isso, está cometendo um erro. Nós somos complexos e precisamos de ajuda no dia a dia, desenvolver habilidades, e você não faz isso sozinho. Hoje, eu tenho um time de RH muito estruturado, consultorias voltadas para desenvolvimento de pessoas. Isso é o que fez mais diferença no meu negócio nos últimos anos.
Colaborou Hebert Madeira