“Sanções contra Rússia foram extremamente pesadas”, diz Mourão
Em entrevista à coluna, vice-presidente ponderou, entretanto, que as sanções são a reação que o Ocidente pode ter sem escalar o conflito
atualizado
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Na entrevista que concedeu à coluna nessa terça-feira (8/3), o vice-presidente Hamilton Mourão também fez comentários sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e suas consequências para o Brasil e o mundo.
O general avaliou que as sanções econômicas impostas aos russos por outros países até agora foram “extremamente pesadas”, mas ponderou que são as reações que o Ocidente pode ter “sem escalar o conflito”.
O militar também disse não ver dualidade na posição do Brasil, que condena oficialmente a invasão no Conselho de Segurança da ONU, enquanto o presidente Jair Bolsonaro evita adotar uma posição pessoal mais dura contra os russos.
O vice-presidente ainda saiu em defesa da medida estudada por Bolsonaro e ministros da ala política para conter a alta nos preços dos combustíveis no Brasil, provocada pelo conflito no Leste Europeu.
Como o Metrópoles vem mostrando, o governo federal avalia congelar temporariamente o valor dos combustíveis distribuídos pela Petrobras, bancando esse congelamento com os dividendos que a estatal deve à União.
A seguir os principais trechos da entrevista:
Até onde o senhor acredita que vai o conflito entre Rússia e Ucrânia?
Não é um conflito simples, porque você tem que olhar as questões históricas que estão envolvidas. (…) Vamos lembrar que, após a Revolução de Maidan, no final de 2013, início de 2014, a Rússia tomou a Crimeia, alimentou a questão separatista no leste da Ucrânia, e a Ucrânia, nesses oito anos, ficou se preparando para um combate de resistência, buscando desgastar as forças russas que eventualmente invadissem o país. E é isso que estamos vendo.
Ao mesmo tempo, a Rússia está usando um poder de combate limitado. Não está usando toda a força, por causa, obviamente, até da questão humanitária. É um conflito que hoje você não pode dizer que vai terminar em cinco dias, 10 dias. Pode, eventualmente, o Putin obter os objetivos limitados que ele deseja, mas os ucranianos continuarem combatendo em uma guerra de guerrilha.
As sanções econômicas impostas à Rússia por países do Ocidente vão ter algum efeito sobre o presidente russo, Vladimir Putin?
As sanções foram extremamente pesadas, não foram sanções simples. Até porque a Rússia já vinha sob sanções desde que invadiu a Crimeia, em 2014. Então, as sanções agora foram muito pesadas em termos econômicos, financeiros, praticamente derrubando os mercados russos. A moeda russa caiu em torno de 30%. Bancos deixando de negociar. Apesar de a Rússia estar com reservas internacionais, essas reservas estão espalhadas, não estão na mão dela. E ela também tem dificuldade de utilizá-las. Vamos ver até quando ela aguenta essa pressão.
É obvio que ela (Rússia) tem assim um hard power sobre a Europa, que é o fornecimento de petróleo e gás, principalmente gás. Estamos ainda no inverno europeu. Você pega um país como a Alemanha, que abriu mão de toda a sua energia nuclear e ficou extremamente dependente só da energia que vem da Rússia. Então a Rússia ainda tem esse poder de pressão.
Mas as sanções econômicas são a melhor forma de tentar pressionar o presidente Putin?
Acho que é o que o Ocidente pode fazer sem escalar o conflito. O Putin já fez uma ameaça nuclear, mas não acho que isso iria ocorrer. No entanto, pode ocorrer um conflito de mais alta intensidade envolvendo mais nações, o que vai ser péssimo para o mundo na situação em que estamos neste momento, terminando a pandemia.
Até agora o Brasil só condenou a invasão russa em órgãos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, enquanto o presidente Bolsonaro tem evitado se pronunciar de forma mais incisiva contra a Rússia. Há uma dualidade na posição brasileira?
Não vejo como dualidade, até porque vamos sofrer parte dos reflexos desse conflito. Não só a questão dos fertilizantes como o aumento desmesurado do preço do petróleo, que vai ter reflexo no preço dos combustíveis. O Brasil fez uso dos fóruns internacionais, especialmente nas Nações Unidas, condenando a ação armada e deixando muito claro que os princípios do equilíbrio internacional, do direto internacional de manutenção da soberania, da solução pacífica dos conflitos, da autodeterminação dos povos. O Brasil respeita isso aí. E, por outro lado, nos reservamos o momento em que a gente pode até ser chamado para participar de um processo de pacificação desse conflito.
Acha que há espaço, no contexto mundial, para o Brasil atuar na pacificação desse conflito?
Aqueles que não se manifestaram de forma mais veemente têm mais liberdade de manobra para tentar atenuar as consequências disso aí.
O presidente o criticou numa live por ter feito comentários sobre o conflito na Ucrânia. Ele reclamou diretamente com o senhor?
Não conversamos sobre esse assunto. Eu coloquei minha posição pessoal, e é uma questão que envolve apenas eu e o presidente. Não é o caso de comentarmos esse assunto.
Qual alternativa defende hoje para tentar reduzir o preço dos combustíveis?
Há uma solução aí, que seria o uso daqueles recursos que o governo teria a receber da Petrobras, os dividendos e royalties de petróleo, como amortecimento. Seria uma medida temporária até o conflito cessar, e consequentemente os preços retornarem a um nível aceitável. Acho que esse seria o caminho menos danoso à economia como um todo, porque, se você for chegar e dizer ‘não tem aumento mais’, isso vai gerar um certo distúrbio no mercado e, consequentemente, reações negativas para o nosso país.
Essa medida por si só já não parece uma espécie de mudança na política de preços da Petrobras?
É aquela história: momentos difíceis necessitam de decisões diferentes. Você não pode continuar com a mesma toada num momento em que o mundo está vivendo um conflito, uma escalada de preços, que terá reflexos enormes no país. Muitas vezes a pessoa pensa que é só o preço da gasolina que eu abasteço no meu dia a dia. Não é o preço da gasolina. É o preço, principalmente, do diesel, num país como o nosso, que depende tremendamente do transporte terrestre para fazer a circulação de bens pelo país como um todo, e isso vai encarecer esses produtos.
O sr. vai embarcar nesta quarta-feira (9/3) para a posse do novo presidente do Chile, Gabriel Boric, que é de esquerda. Vai levar algum recado do Brasil?
Vamos levar uma mensagem de sucesso e êxito para o presidente Boric na missão que o povo chileno confiou a ele. E, ao mesmo tempo, deixar clara a manutenção dos nossos laços não só culturais, de afinidade, mas também econômicos e comerciais, uma vez que o Chile é um grande parceiro nosso.