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“Sanções contra Rússia foram extremamente pesadas”, diz Mourão

Em entrevista à coluna, vice-presidente ponderou, entretanto, que as sanções são a reação que o Ocidente pode ter sem escalar o conflito

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Na imagem colorida, um homem está posicionado no centro. Ele usa terno escuro
1 de 1 Na imagem colorida, um homem está posicionado no centro. Ele usa terno escuro - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Na entrevista que concedeu à coluna nessa terça-feira (8/3), o vice-presidente Hamilton Mourão também fez comentários sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia e suas consequências para o Brasil e o mundo.

O general avaliou que as sanções econômicas impostas aos russos por outros países até agora foram “extremamente pesadas”, mas ponderou que são as reações que o Ocidente pode ter “sem escalar o conflito”.

O militar também disse não ver dualidade na posição do Brasil, que condena oficialmente a invasão no Conselho de Segurança da ONU, enquanto o presidente Jair Bolsonaro evita adotar uma posição pessoal mais dura contra os russos.

O vice-presidente ainda saiu em defesa da medida estudada por Bolsonaro e ministros da ala política para conter a alta nos preços dos combustíveis no Brasil, provocada pelo conflito no Leste Europeu.

Como o Metrópoles vem mostrando, o governo federal avalia congelar temporariamente o valor dos combustíveis distribuídos pela Petrobras, bancando esse congelamento com os dividendos que a estatal deve à União.

A seguir os principais trechos da entrevista:

Até onde o senhor acredita que vai o conflito entre Rússia e Ucrânia?

Não é um conflito simples, porque você tem que olhar as questões históricas que estão envolvidas. (…) Vamos lembrar que, após a Revolução de Maidan, no final de 2013, início de 2014, a Rússia tomou a Crimeia, alimentou a questão separatista no leste da Ucrânia, e a Ucrânia, nesses oito anos, ficou se preparando para um combate de resistência, buscando desgastar as forças russas que eventualmente invadissem o país. E é isso que estamos vendo.

Ao mesmo tempo, a Rússia está usando um poder de combate limitado. Não está usando toda a força, por causa, obviamente, até da questão humanitária. É um conflito que hoje você não pode dizer que vai terminar em cinco dias, 10 dias. Pode, eventualmente, o Putin obter os objetivos limitados que ele deseja, mas os ucranianos continuarem combatendo em uma guerra de guerrilha.

As sanções econômicas impostas à Rússia por países do Ocidente vão ter algum efeito sobre o presidente russo, Vladimir Putin?

As sanções foram extremamente pesadas, não foram sanções simples. Até porque a Rússia já vinha sob sanções desde que invadiu a Crimeia, em 2014. Então, as sanções agora foram muito pesadas em termos econômicos, financeiros, praticamente derrubando os mercados russos. A moeda russa caiu em torno de 30%. Bancos deixando de negociar. Apesar de a Rússia estar com reservas internacionais, essas reservas estão espalhadas, não estão na mão dela. E ela também tem dificuldade de utilizá-las. Vamos ver até quando ela aguenta essa pressão.

É obvio que ela (Rússia) tem assim um hard power sobre a Europa, que é o fornecimento de petróleo e gás, principalmente gás. Estamos ainda no inverno europeu. Você pega um país como a Alemanha, que abriu mão de toda a sua energia nuclear e ficou extremamente dependente só da energia que vem da Rússia. Então a Rússia ainda tem esse poder de pressão.

Mas as sanções econômicas são a melhor forma de tentar pressionar o presidente Putin?

Acho que é o que o Ocidente pode fazer sem escalar o conflito. O Putin já fez uma ameaça nuclear, mas não acho que isso iria ocorrer. No entanto, pode ocorrer um conflito de mais alta intensidade envolvendo mais nações, o que vai ser péssimo para o mundo na situação em que estamos neste momento, terminando a pandemia.

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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito
A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local
Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km
Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia
Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país
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A relação conturbada entre Rússia e Ucrânia, que desencadeou conflito armado, tem deixado o mundo em alerta para uma possível grande guerra

Anastasia Vlasova/Getty Images
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A confusão, no entanto, não vem de hoje. Além da disputa por influência econômica e geopolítica, contexto histórico que se relaciona ao século 19 pode explicar o conflito

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A localização estratégica da Ucrânia, entre a Rússia e a parte oriental da Europa, tem servido como uma zona de segurança para a antiga URSS por anos. Por isso, os russos consideram fundamental manter influência sobre o país vizinho, para evitar avanços de possíveis adversários nesse local

Pawel.gaul/ Getty Images
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Isso porque o grande território ucraniano impede que investidas militares sejam bem-sucedidas contra a capital russa. Uma Ucrânia aliada à Rússia deixa possíveis inimigos vindos da Europa a mais de 1,5 mil km de Moscou. Uma Ucrânia adversária, contudo, diminui a distância para pouco mais de 600 km

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Percebendo o interesse da Ucrânia em integrar a Otan, que é liderada pelos Estados Unidos, e fazer parte da União Europeia, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, ameaçou atacar o país, caso os ucranianos não desistissem da ideia

Andre Borges/Esp. Metrópoles
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Uma das exigências de Putin, portanto, é que o Ocidente garanta que a Ucrânia não se junte à organização liderada pelos Estados Unidos. Para os russos, a presença e o apoio da Otan aos ucranianos constituem ameaças à segurança do país

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A Rússia iniciou um treinamento militar junto à aliada Belarus, que faz fronteira com a Ucrânia, e invadiu o território ucraniano em 24 de fevereiro

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Por outro lado, a Otan, composta por 30 países, reforçou a presença no Leste Europeu e colocou instalações militares em alerta

OTAN/Divulgação
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Apesar de ter ganhado os holofotes nas últimas semanas, o novo capítulo do impasse entre as duas nações foi reiniciado no fim de 2021, quando Putin posicionou 100 mil militares na fronteira com a Ucrânia. Os dois países, que no passado fizeram parte da União Soviética, têm velha disputa por território

AFP
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Além disso, para o governo ucraniano, o conflito é uma espécie de continuação da invasão russa à península da Crimeia, que ocorreu em 2014 e causou mais de 10 mil mortes. Na época, Moscou aproveitou uma crise política no país vizinho e a forte presença de russos na região para incorporá-la a seu território

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Desde então, os ucranianos acusam os russos de usar táticas de guerra híbrida para desestabilizar constantemente o país e financiar grupos separatistas que atentam contra a soberania do Estado

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O conflito, iniciado em 24 de fevereiro, já impacta economicamente o mundo inteiro. Na Europa Ocidental, por exemplo, países temem a interrupção do fornecimento de gás natural, que é fundamental para vários deles

Vostok/ Getty Images
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Embora o Brasil não tenha laços econômicos tão relevantes com as duas nações, pode ser afetado pela provável disparada no preço do petróleo

Vinícius Schmidt/Metrópoles

Até agora o Brasil só condenou a invasão russa em órgãos internacionais, como o Conselho de Segurança da ONU, enquanto o presidente Bolsonaro tem evitado se pronunciar de forma mais incisiva contra a Rússia. Há uma dualidade na posição brasileira?

Não vejo como dualidade, até porque vamos sofrer parte dos reflexos desse conflito. Não só a questão dos fertilizantes como o aumento desmesurado do preço do petróleo, que vai ter reflexo no preço dos combustíveis. O Brasil fez uso dos fóruns internacionais, especialmente nas Nações Unidas, condenando a ação armada e deixando muito claro que os princípios do equilíbrio internacional, do direto internacional de manutenção da soberania, da solução pacífica dos conflitos, da autodeterminação dos povos. O Brasil respeita isso aí. E, por outro lado, nos reservamos o momento em que a gente pode até ser chamado para participar de um processo de pacificação desse conflito.

Acha que há espaço, no contexto mundial, para o Brasil atuar na pacificação desse conflito?

Aqueles que não se manifestaram de forma mais veemente têm mais liberdade de manobra para tentar atenuar as consequências disso aí.

O presidente o criticou numa live por ter feito comentários sobre o conflito na Ucrânia. Ele reclamou diretamente com o senhor?

Não conversamos sobre esse assunto. Eu coloquei minha posição pessoal, e é uma questão que envolve apenas eu e o presidente. Não é o caso de comentarmos esse assunto.

Qual alternativa defende hoje para tentar reduzir o preço dos combustíveis?

Há uma solução aí, que seria o uso daqueles recursos que o governo teria a receber da Petrobras, os dividendos e royalties de petróleo, como amortecimento. Seria uma medida temporária até o conflito cessar, e consequentemente os preços retornarem a um nível aceitável. Acho que esse seria o caminho menos danoso à economia como um todo, porque, se você for chegar e dizer ‘não tem aumento mais’, isso vai gerar um certo distúrbio no mercado e, consequentemente, reações negativas para o nosso país.

Essa medida por si só já não parece uma espécie de mudança na política de preços da Petrobras?

É aquela história: momentos difíceis necessitam de decisões diferentes. Você não pode continuar com a mesma toada num momento em que o mundo está vivendo um conflito, uma escalada de preços, que terá reflexos enormes no país. Muitas vezes a pessoa pensa que é só o preço da gasolina que eu abasteço no meu dia a dia. Não é o preço da gasolina. É o preço, principalmente, do diesel, num país como o nosso, que depende tremendamente do transporte terrestre para fazer a circulação de bens pelo país como um todo, e isso vai encarecer esses produtos.

O sr. vai embarcar nesta quarta-feira (9/3) para a posse do novo presidente do Chile, Gabriel Boric, que é de esquerda. Vai levar algum recado do Brasil?

Vamos levar uma mensagem de sucesso e êxito para o presidente Boric na missão que o povo chileno confiou a ele. E, ao mesmo tempo, deixar clara a manutenção dos nossos laços não só culturais, de afinidade, mas também econômicos e comerciais, uma vez que o Chile é um grande parceiro nosso.

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