Lula passou do ponto em fala sobre Venezuela, avalia ala do Itamaraty
Para alguns diplomatas do Itamaraty, Lula se excedeu ao dizer que não viu nada de “grave”, “anormal” ou assustador” na eleição da Venezuela
atualizado
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Integrantes do Itamaraty avaliam que o presidente Lula se excedeu ao comentar, na terça-feira (30/7), a eleição presidencial na Venezuela, fortemente questionada pela oposição local e por observadores internacionais.
Em entrevista à “TV Centro América”, afiliada da TV Globo em Mato Grosso, Lula cobrou a apresentação das atas das zonas eleitorais, mas disse não ver nada de “grave”, “anormal” ou assustador” no pleito venezuelano.
“O PT reconheceu, a nota do partido dos trabalhadores reconhece, elogia o povo venezuelano pelas eleições pacíficas que houveram. E ao mesmo tempo ele reconhece que o colégio eleitoral, o tribunal eleitoral já reconheceu o Maduro como vitorioso, mas a oposição ainda não. Então, tem um processo. Não tem nada de grave, não tem nada de assustador. Eu vejo a imprensa brasileira tratando como se fosse a Terceira Guerra Mundial. Não tem nada de anormal. Teve uma eleição, teve uma pessoa que disse que teve 51%, teve uma pessoa que disse que teve 40 e pouco por cento. Um concorda, o outro não. Entra na Justiça, e a Justiça faz”, afirmou Lula na entrevista.
Na avaliação de diplomatas brasileiros de alto escalão, Lula deveria ter se restringido a pedir a apresentação das atas, seguindo a posição oficial adotada pelo Itamaraty até o momento.
“O presidente insistiu nas atas. Podia ter parado por ai”, avaliou, sob reserva, um integrante da cúpula do Ministério de Relações Exteriores.
A fala de Lula também foi criticada por alguns auxiliares dele no Palácio do Planalto. O temor é de que declarações complacentes com o regime ditatorial de Nicolás Maudro prejudiquem a imagem do presidente e do governo.
Mortes e prisões na Venezuela
Embora Lula diga que não viu nada de grave, pelo menos 16 pessoas já morreram, centenas ficaram feridas ou foram presas pelo regime Maduro após as eleições do domingo. Entre os presos, está um líder oposicionista.
Além disso, sete embaixadores que pediram a divulgação das atas eleitorais foram expulsos da Venezuela. Maduro diz não ter como apresentar os documentos porque o Conselho Nacional Eleitoral, controlado por ele, “está no meio de uma batalha cibernética nunca antes vista”.