Lula encerra 1ª viagem à Europa ofuscado por cobranças sobre a guerra
Presidente Lula cumpriu agendas em Portugal e na Espanha, onde foi bastante cobrado por declarações recentes sobre a guerra na Ucrânia
atualizado
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Madri — O presidente Lula encerrou nesta quarta-feira (26/4), na Espanha, a primeira viagem à Europa de seu terceiro mandato. A agenda de seis dias, que incluiu compromissos em Lisboa e Madri, acabou ofuscada por cobranças em relação a falas recentes do petista sobre a guerra na Ucrânia.
Desde que chegou a Portugal, na última sexta-feira (21/4), o presidente brasileiro passou a ser cobrado, sobretudo pela imprensa portuguesa e pela comunidade ucraniana, por ter afirmado, dias antes, que a Ucrânia também deveria ser responsabilizada pelo conflito com os russos.
Para amenizar as cobranças em Lisboa, Lula chegou a escalar um de seus ministros para se reunir com a comunidade ucraniana. No encontro, ainda na sexta, o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo, recebeu uma carta com cobranças pelo apoio de Lula à Ucrânia.
Em resposta, o ministro anunciou que o Brasil enviaria um representante a Kiev. Não Lula, como pediram os ucranianos. Mas o ex-chanceler Celso Amorim, atual chefe da assessoria especial do presidente brasileiro, que se reuniu com Vladmir Putin em Moscou, no final de março.
Mais cobranças em Madri
As cobranças a Lula se repetiram em Madri. Ao lado do presidente brasileiro, o próprio primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, foi taxativo, ao dizer que, no caso do conflito do leste europeu, o “agressor” é Putin e os agredidos são os ucranianos, que tiveram seu território invadido.
Em resposta, Lula fez questão de reforçar, nas diversas falas e entrevistas ao longo da viagem, que o Brasil condena a “violação territorial” da Ucrânia pelos russos e que “nunca igualou” a responsabilidade dos dois países na guerra. Em nenhum momento, no entanto, nominou suas críticas a Putin.
Lula também voltou a contemporizar, ao repetir que os ucranianos também não desejam parar a guerra. Ele defendeu que é preciso primeiro parar a guerra, para depois negociar os termos de um acordo, no que é interpretado pelos europeus como uma defesa de Lula de que a Ucrânia deve ceder algo.
O petista abriu margem para essa interpretação ao comparar a guerra a uma greve trabalhista. “Sei que não é correto mostrar esse exemplo. Já fiz greve dizendo 80% (de aumento salarial) ou nada. Eu ficava com nada”, declarou o presidente brasileiro, ao lado de Pedro Sánchez.
Lula também foi alvo de críticas ao se esquivar de responder uma pergunta de um repórter espanhol se considerava a Crimeia e Donbass, regiões que eram da Ucrânia e foram invadidas pela Rússia, território russo ou ucraniano. “Não cabe a mim decidir de quem é a Crimeia”, respondeu.
Apesar de todas as cobranças, o presidente brasileiro disse “compreender” a preocupação da Europa com a guerra, em razão da proximidade geográfica com o conflito. “Obviamente, a preocupação deles é diferente da minha, que estou distante”, disse o petista.