Governo brasileiro mantém dualidade em sua posição ante invasão russa
Um dia após Bolsonaro pregar neutralidade, delegação brasileira na ONU vai contra interesses russos em duas oportunidades
atualizado
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O governo brasileiro viveu nesta segunda-feira (28/2) mais um capítulo de sua dupla personalidade em relação à invasão russa na Ucrânia.
Um dia após Jair Bolsonaro pregar neutralidade e desqualificar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, a delegação brasileira na Organização das Nações Unidas (ONU) voltou a se colocar contra a ação militar da Rússia.
Foram dois os momentos em que o Brasil não foi “neutro” ante os russos. Primeiro, apoiou em votação a realização de um debate urgente sobre a situação da Ucrânia no Conselho de Direitos Humanos da ONU.
O Brasil esteve no grupo de 29 países que votaram pela discussão, contra a vontade da Rússia. Isso, após a ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, que representa o Brasil na 49ª Sessão do Conselho, silenciar sobre a invasão à Ucrânia em seu discurso.
Brazil voted today to support Ukraine’s request for a Human Rights Council emergency session on the Ukrainian conflict. The vote was called and adopted with 29 votes in favor (including Brazil), 5 against, and 13 abstentions. The session will take place next Thursday. pic.twitter.com/E0PG323kVm
— Government of Brazil (@govbrazil) February 28, 2022
Já na Assembleia-Geral, o representante brasileiro Ronaldo Costa Filho condenou a invasão. “Deixe-me ser claro: esta situação não justifica o uso da força contra o território de um estado membro”, afirmou.
No último domingo (27/2), o presidente Jair Bolsonaro, que aproveita mais uma semana de folga, desta vez no Guarujá (SP), convocou a imprensa para avisar que o Brasil será “neutro”. “No meu entender, nós não vamos tomar partido. Vamos continuar pela neutralidade, e ajudar na medida do possível, na busca por soluções”, disse.
A manifestação do brasileiro acabou sendo vista, especialmente pela imprensa russa, como uma declaração de apoio de Bolsonaro a Vladimir Putin.
Morde e assopra
A aproximação de Bolsonaro com Putin começou na viagem do brasileiro a Moscou, entre os dias 14 e 17 de fevereiro. Ali, enquanto a tropa bolsonarista nas redes sociais espalhava “memes” dizendo que o atual ocupante do Palácio do Planalto “ajudou a evitar a guerra”, Bolsonaro publicamente dizia que o Brasil era “solidário à Rússia”.
Após a invasão, o presidente brasileiro manteve o silêncio sobre o tema, enquanto o Itamaraty emitia uma nota pedindo a “suspensão” das hostilidades, mas sem condenar a incursão russa em território ucraniano.
Na primeira manifestação na ONU, entretanto, a delegação do Brasil no Conselho de Segurança votou junto de outras nações na resolução contra a Rússia. A medida acabou rejeitada justamente pelo veto russo, membro permanente do Conselho.