Entrevista: “Não vou fugir para Paris”, diz Alessandro Vieira
Pré-candidato do Cidadania à Presidência da República, senador destaca importância do Orçamento e diz que só não conversou com Ciro Gomes
atualizado
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Um dos três senadores que estão colocados como pré-candidatos à Presidência da República, Alessandro Vieira (Cidadania-SE) prefere que suas ideias estejam em uma chapa vencedora do ser efetivado na disputa pelo Palácio do Planalto. Por isso, tem aberto sua agenda para conversar com quase todos os candidatos da chamada “terceira via”.
A exceção até o momento é Ciro Gomes. Em entrevista à coluna, Vieira faz crítica ao nome do PDT à Presidência. E avisa que, mesmo diante do impasse em ver Lula e Jair Bolsonaro no segundo turno, não repetirá a atitude de Ciro em 2018. “Não vou para Paris”, afirmou o senador.
Dentre tantas candidaturas da chamada “terceira via”, o que a sua tem de diferente?
A iniciativa de partido de apresentando a pré-candidatura é muito focada na compreensão de que nós temos um risco populista em 2022 a discussão prevenção não pode se limitar uma batalha de egos, deixando de lado qualquer tipo de discussão. Mas sim ter um debate sério sobre futuro do Brasil e seus processos. Eu estou tentando até justamente nesta faixa tentando forçar as pessoas a discutir temas mais sérios. Como por exemplo o orçamento. Nossa preocupação é garantir a consistência das propostas. Em cima disso tem o debate. Não tenho a preocupação ideal de ter a presença do meu nome em uma chapa presidencial. Mas temos a pretensão de termos as ideias fazendo parte da proposta de governo de uma chapa vencedora.
Isso significa abrir mão da cabeça de chapa?
Dentro de uma expectativa de construção, acho que todos têm que ter essa disponibilidade (de abrir mão de ter seu nome em uma chapa presidencial). Não ter essa disponibilidade, vejo vários candidatos respondendo que não abrem mão da cabeça de chapa. Isso quer dizer que a pessoa coloca o interesse pessoal acima do projeto nacional. Ninguém é salvador da pátria. Você precisa de construção política.
A questão do orçamento seria parte das ideias presentes nessa chapa vencedora?
O orçamento nunca foi tão fragmentado. Nunca foi tão propício à corrupção e ao desperdício como é hoje. Não existe nenhum sinal, mínimo que seja, de planejamento da peça orçamentária. A consequência é a ineficiência na gestão e a permanência dos problemas. Então fazer esse tipo de assunto, pelo menos para mim, é mais relevante do que discutir Operação Lava Jato e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) da suspeição ex-juiz Sergio Moro. Ou se os 500 dias de prisão do Lula foram suficientes ou se ele deveria continuar preso. Esse é o perfil de algum desses candidatos que têm mais destaque ele interessa toda a disputa. Talvez o (governador de São Paulo) João Doria (PSDB) possa dar um passo a mais, ao apresentar um plano de governo. Mas ele ainda não fez isso. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) também tem esse perfil de diagnóstico e construção política.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, deu recentemente declarações de que seria mais provável sua sigla estar com o PSDB do que com Sergio Moro. Esse talvez seja o caminho?
O partido está bastante fragmentado. Neste momento, o único consenso que nós tivemos foi a unanimidade na executiva nacional do Cidadania da definição de candidatura própria. Caso não se sustente ao longo dos meses, você vai ter que ter um novo debate. E um debate que tem que partir de projetos e ideias, e não apenas a discussão da soma de votos do candidato Alessandro com o candidato Moro ou quem quer que seja.
Acredita que sua candidatura possa crescer ao longo dos próximos meses com apoio e a popularidade do Luciano Huck, que seria inicialmente o pré-candidato do Cidadania?
Tenho um bom relacionamento com Luciano Huck. Assim como tenho com outros players dessa construção da terceira via. Mas acho que ele está em outro estágio profissional, desenvolvendo um novo projeto de comunicação. Não vejo ele participando ativamente de nenhum tipo de campanha. Nosso objetivo para se destacar é simples: colocar no papel e estruturar um projeto de governo que seja de reconstrução do Brasil. Não dá para querer vender uma imagem falsa de salvador da Pátria. Esse filme já se repetiu. Tivemos o “Caçador de Marajás”, agora temos o “Mito”. Não funcionou.
Como estão as conversas com os nomes da chamada “terceira via”?
Tenho conversado com todos. O único que não se abriu ainda foi Ciro Gomes (PDT). Ele, dentre os candidatos da terceira via, é o que tem as ideias mais particulares. Ele está indo para sua quarta campanha à Presidência da República. E tem um perfil muito específico. Essa coisa de entender que é o único nome com as soluções para o Brasil. E como disse, a gente já testou isso.
E como levar para as pessoas um assunto tão complexo como o orçamento?
Tenho uma preocupação muito grande com conteúdo. Precisamos de uma nova Lei de Finanças Públicas. Caminhámos para um desgoverno tal, que tanto faz quem seja o Presidente da República não vai conseguir administrar nada. Tem mistérios que começa o ano com orçamento de R$ 100 milhões e termina com um de R$ 250 milhões. Ou seja, não teve planejamento nenhum. E tem o inverso, aqueles que começam em uma posição elevada e vai sendo quebrado ao longo do ano. A gente tem que dar um basta nisso e passa pela conscientização das pessoas. Esse é um dos dos papéis que uma campanha pode fazer. A campanha precisa levar as pessoas a entender como funciona o jogo em Brasília. E saber quais são as principais peças desse jogo. Isso pode ser materializado com exemplos concretos: quando o presidente do Senado era Davi Alcolumbre (DEM-AP), o estado do Amapá era que mais recebia recursos. Hoje que o presidente é Rodrigo Pacheco (PSD-MG), quem mais recebe é Minas Gerais. Então não existe um tipo de critério técnico na discussão. Esse vale tudo faz florescer figuras como o próprio Alcolumbre e (o presidente da Câmara) Arthur Lira (PP-AL), que são incapazes, ou parecem incapazes, de perceber o resultado de suas ações que comprometem todo o planejamento global.
As pesquisas apontam hoje um possível segundo turno entre Jair Bolsonaro (PL) e Lula (PT). Como o candidato, senador e político Alessandro Vieira se posicionará em uma situação dessas?
Primeiro que não vou fugir para Paris. Não é conduta adequada para quem quer liderar alguma coisa. Em segundo, tenho que ver o que diz o povo do meu estado. Mas tenho convicção de que essa realidade não vai acontecer. Acho que a gente vai conseguir colocar um outro nome nesse segundo turno para proporcionar ao Brasil uma esperança de futuro. Entre Bolsonaro e Lula, não há representação de futuro.