Embaixada na Índia alertou em março que entrega da Covaxin atrasaria
A compra da vacina é investigada pela CPI da Covid e pelo MPF, que apuram quebra de contrato e favorecimento a Precisa Medicamentos
atualizado
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A Embaixada do Brasil na Índia alertou o Itamaraty, ainda em março, que a importação — e a consequente chegada ao Brasil — das doses da Covaxin adquiridas do laboratório indiano Bharat Biotech atrasaria.
Em telegrama enviado em 23 de março, os diplomatas brasileiros em Nova Delhi relataram ao órgão que, naquela época, havia uma “crescente pressão interna” na Índia contra a exportação de vacinas para outros países.
No documento sigiloso, já em mãos da CPI da Covid e ao qual a coluna teve acesso, a embaixada também detalhou que a Bharat Biotech havia informado que só enviaria doses ao Brasil a partir de abril.
“A Bharat confirmou, em 23/03, que seria possível apresentar – após aprovação pela Anvisa e pagamento pelo MS – pedido ao governo indiano para exportação de 5 milhões de doses (ao Brasil), em lotes de 1 milhão, começando com 2 ou 3 milhões no mês de abril e o remanescente nos meses seguintes”, escreveu a embaixada no telegrama.
O documento é uma prova que o governo brasileiro já sabia, desde então, que o cronograma de entrega das 20 milhões de doses da Covaxin adquiridas pelo Ministério da Saúde não seria cumprido.
O calendário foi estabelecido no contrato assinado em 25 de fevereiro entre a pasta e a Precisa Medicamentos, empresa brasileira que intermediou o negócio com a Bharat Biotech.
Segundo o documento, das 20 milhões de doses, 8 milhões deveriam ser entregues em até 30 dias “após a assinatura”, prazo que se encerraria em 27 de março.
Outras 8 milhões de doses deveriam chegar ao Brasil até 26 de abril e mais 4 milhões, até 6 de maio. Até agora, no entanto, nenhuma dose da Covaxin chegou ao país.
Investigação
Na avaliação de integrantes do Ministério Público Federal (MPF), o atraso no cronograma de entrega das doses da Covaxin pode configurar quebra de contrato por parte da Precisa Medicamentos.
Além da questão, o MPF e a CPI da Covid do Senado investigam um possível favorecimento do Ministério da Saúde à empresa.
Nesta quinta-feira (24/6), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse ter enviado o contrato para análise do setor jurídico da pasta. O governo avalia rescindir o acordo.