metropoles.com

Dar R$ 550 mil a Cláudia Leitte não é incentivar cultura, diz deputado

Em entrevista à coluna, deputado que criticou gastos públicos com show da Madonna e Virada Cultural diz que Fórmula 1 “é pior ainda”

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Foto: Rodrigo Costa/Alesp
Deputado Leo Siqueira
1 de 1 Deputado Leo Siqueira - Foto: Foto: Rodrigo Costa/Alesp

Enquanto parte do mundo político se dividia entre elogiar ou criticar performances eróticas da cantora Madonna em seu show no Rio de Janeiro, o deputado estadual paulista Leonardo Siqueira (Novo) discutia com o prefeito Eduardo Paes (PSD) nas redes sociais sobre os recursos públicos empregados no evento, que atingiram os R$ 10 milhões.

Deputado de primeiro mandato eleito em 2022 com 90.688 votos, Siqueira questionava os números da prefeitura da capital fluminense sobre o retorno financeiro do espetáculo, uma das justificativas usadas pela gestão Paes e pelo governo do estado do Rio de Janeiro para o emprego de recursos públicos na apresentação.

Semanas depois, Siqueira questionou judicialmente outro grande evento, desta vez em São Paulo. O parlamentar pediu a devolução dos cachês de grandes artistas que se apresentaram na Virada Cultural, tradicional evento organizado pela prefeitura comandada por Ricardo Nunes (MBD), que deve ter o apoio do Novo na eleição deste ano.

Em entrevista à coluna, Siqueira critica os cachês pagos a grandes artistas nacionais que se apresentaram na Virada Cultural, como Cláudia Leite e Pablo Vittar, e ataca outros eventos que contam com financiamento público. Para o deputado, o caso do Grande Prêmio de Fórmula 1 “é pior ainda”.

“Não dá pra dizer que dar R$ 550 mil para Claudia Leitte, R$ 350 mil para Pablo Vittar, R$ 230 mil pra MC Daniel é incentivar a cultura. Mas mais do que isso, se o objetivo fosse incentivar a cultura, por que não apoiar pequenos artistas? “, afirmou o parlamentar.

Confira a entrevista:

Nas últimas semanas, o senhor apareceu como crítico de dois grandes eventos, o show da Madonna no Rio e a Virada Cultural em São Paulo. Ambos com investimentos públicos justificados por um suposto retorno financeiro para as cidades. Qual o problema com esse tipo de evento na sua opinião?

Oras, o Estado, antes de tudo, tem que focar em cuidar das pessoas, principalmente, nos mais vulneráveis, focando no que é prioritário. São Paulo tem 48 mil pessoas vivendo nas ruas, 43 mil pessoas não têm banheiro em casa. Essa semana, recebi um pedido de um rapaz que está há 115 dias no hospital esperando uma cirurgia, mas ainda sem previsão. Como explicamos para essas pessoas que não há recursos, enquanto a prefeitura gasta R$ 20 milhões de dinheiro público em cachês de artistas? O dia que São Paulo tiver o padrão de vida de Dubai, ou da Dinamarca, aí sim podemos pensar nisso. Enquanto há problemas como esses que eu citei, é meio óbvio que o Estado deveria focar nisso.

O senhor defende que as prefeituras têm superestimado o retorno financeiro dos investimentos públicos nesses eventos. Como calcular esse equilíbrio entre o investimento público e o real retorno aos municípios?

Nós queremos saber quanto gerou de PIB adicional. Não basta dizer que teve 4 milhões de pessoas e elas gastam em média R$ 100 e isso movimenta R$ 400 milhões. Isso porque elas gastariam em outras coisas. Quanto elas gastariam em outras coisas? Não sei. Mas com certeza assumir que foi R$ 400 milhões é irreal. Ou seja, para medir o impacto do show, teríamos que olhar qual teria sido o PIB da cidade sem a Virada Cultural e comparar como foi com a virada cultural. A questão é que essa São Paulo “sem a Virada Cultural” não existe, já que foi realizado o evento. Um método econométrico (ainda imperfeito), mas bem melhor seria: você compara o PIB da cidade no mês inteiro, antes, durante o mês do evento e após o evento. E aí você tem que ter uma “cidade” de controle. Então você poderia comparar, por exemplo, com Campinas, o cidades similares. Aí você conseguiria estimar o impacto melhor. Mas fiquem tranquilos, que quando os dados saírem, nós faremos isso.

5 imagens
Madonna
Madonna durante a performance de Erotica no show no Rio de Janeiro
Anitta fez participação especial em show
Madonna e Anitta durante a música Vogue
1 de 5

Madonna

Reprodução
2 de 5

Madonna

Reprodução
3 de 5

Madonna durante a performance de Erotica no show no Rio de Janeiro

Buda Mendes/Getty Images
4 de 5

Anitta fez participação especial em show

Reprodução/TV Globo
5 de 5

Madonna e Anitta durante a música Vogue

A Virada Cultural acontece em São Paulo desde 2005 e virou um dos eventos no calendário da cidade, com verba separada no orçamento municipal. Os gastos deste ano, que fizeram o senhor pedir a suspensão dos cachês de artistas, são um problema orçamentário, ou seja, com muito dinheiro sendo separado para o evento, ou da gestão desses recursos?

Os dois. Só a virada cultural aumentou em 30% o orçamento desde o ano passado. Além de poder usar esses recursos em outros áreas, mesmo o recurso utilizado é muito mal gasto. Não dá pra dizer que dar R$ 550 mil pra Claudia Leitte, R$ 350 mil para Pablo Vittar, R$ 230 mil pra MC Daniel é incentivar a cultura. Mas mais do que isso, se o objetivo fosse incentivar a cultura, por que não apoiar pequenos artistas? Ou seja, o evento não incentiva a cultura, e ainda concentra os recursos na mão de artista milionário. Olhando dessa forma, Alguém pode defender isso?

São Paulo tem outros grandes eventos que contam com dinheiro público para sua realização, como é o caso do Grande Prêmio de Fórmula 1. É um problema semelhante ao da Virada Cultural? O senhor planeja novos questionamentos sobre esses eventos?

Fórmula 1 não é semelhante, é pior ainda. A Virada Cultural ainda é “gratuita” e concentra um público mais simples. A Formula 1 é um evento que os ingressos custam até R$ 5 mil, e é feita pra gente rica. Se o evento tem retorno, por que a iniciativa privada não faz sozinha? Miami decidir pagar para trazer um evento desse pode fazer mais sentido, já que ninguém morre de fome lá, ninguém tá há 115 dias esperando uma cirurgia e eles já resolveram o problema de esgoto em casa séculos atrás. Nós não somos Miami. E não foi sediando evento que eles se tornaram ricos, foi cuidando primeiro do básico, coisa que nós não fazemos.

13 imagens
Léo Santana no Anhangabaú durante Virada Cultural de SP de 2024
Léo Santana no Anhangabaú durante Virada Cultural de SP de 2024
Joelma durante Virada Cultural de SP de 2024
A cantora paraense Joelma
Joelma durante Virada Cultural de SP de 2024
1 de 13

Léo Santana no Anhangabaú durante Virada Cultural de SP de 2024

Edson Lopes Jr./Secom
2 de 13

Léo Santana no Anhangabaú durante Virada Cultural de SP de 2024

Edson Lopes Jr./Secom
3 de 13

Léo Santana no Anhangabaú durante Virada Cultural de SP de 2024

Edson Lopes Jr./Secom
4 de 13

Joelma durante Virada Cultural de SP de 2024

Edson Lopes Jr./Secom
5 de 13

A cantora paraense Joelma

Edson Lopes Jr./Prefeitura de São Paulo
6 de 13

Joelma durante Virada Cultural de SP de 2024

Edson Lopes Jr./Secom
7 de 13

Público lota o Anhangabaú na Virada Cultural 2024

Edson Lopes Jr./Secom
8 de 13

Público lota o Anhangabaú na Virada Cultural 2024

Edson Lopes Jr./Secom
9 de 13

Público lota o Anhangabaú na Virada Cultural 2024

Edson Lopes Jr./Secom
10 de 13

Reinaldinho (ex-Terra Samba) na Arena Campo Limpo da Virada Cultural 2024

Paulo Guereta/Secom
11 de 13

Reinaldinho (direita, ex-Terra Samba) e Ily na Arena Campo Limpo da Virada Cultural 2024

Paulo Guereta/Secom
12 de 13

MC Ig na Arena Parada Inglesa da Virada Cultural 2024

Leon Rodrigues/Secom
13 de 13

Público da Virada Cultural 2024 na Arena Parada Inglesa, zona norte

Leon Rodrigues/Secom

O senhor argumenta no seu pedido para suspender os cachês da Virada Cultural que os valores aos artistas poderiam ser destinados para áreas mais prioritárias. Só que esses valores são definidos pelo orçamento municipal. Como usar o dinheiro da suspensão do cachê em outras áreas?

Essa é a maior ignorância que alguns repetem “ah, mas o orçamento é da cultura, não dá pra gastar em outro lugar”. Oras, todo ano a prefeitura, o governo estadual e federal definem o orçamento do ano seguinte baseado no ano passado. Ou seja, a prefeitura vê quanto tem de dinheiro e divide nas secretarias. Alguém o ano passado, colocou na Lei de Diretrizes Orçamentárias que tinha que ter R$ 60 milhões pra Virada Cultural. A partir do momento que a sociedade se revolta contra esses gastos, a gente vai ver o prefeito alocando esses recursos em outras áreas. “Ah, mas quem garante que ele vai alocar?” Oras, eu garanto que, se essa farra da Virada Cultural continuar, aí não vai ter mesmo.

O Novo deve estar junto do atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que busca a reeleição. Caso ele seja reeleito, o que deveria ser feito sobre a Virada Cultural? E sobre outros eventos?

Eu não estou nem aí pra quem o Novo vai apoiar ou deixar de apoiar. A minha crítica é técnica e não política. O que vou fazer é mesma coisa que fiz agora, exigir que a prefeitura primeiro cuide das pessoas nas coisas básicas. Se a prefeitura quiser continuar com o show, ok. Mas não venham me dizer depois que falta dinheiro para hospital, escola e policiamento.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comIgor Gadelha

Você quer ficar por dentro da coluna Igor Gadelha e receber notificações em tempo real?