Análise: por que Pablo Marçal irrita tanto Bolsonaro
Pablo Marçal fez o que ninguém até agora conseguiu: mostrar que pode representar a “direita brasileira” sem o carimbo de Jair Bolsonaro
atualizado
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Desde que emergiu no cenário nacional, primeiro em programas de auditório de qualidade questionável e depois como presidente da República, Jair Bolsonaro (PL) e seu clã conseguiram suplantar todos que tentaram representar a “direita brasileira” sem pagar o pedágio. Até agora.
Pré-candidato a prefeito de São Paulo pelo nanico PRTB, o ex-coach e influencer Pablo Marçal conseguiu em poucos meses incomodar Bolsonaro em sua hegemonia de modo que nenhum dos outros pretendentes conseguiu.
Aécio Neves (PSDB), João Doria (PSDB), João Amoêdo (ex-Novo), Sergio Moro (União Brasil) e até mesmo o ex-ministro Abraham Weintraub (sem partido) e o finado Olavo de Carvalho. Todos tentaram, sem sucesso, ser alternativa, tecendo críticas ao bolsonarismo dentro da direita.
Marçal, ao contrário, causou um rebuliço dentro do bolsonarismo e no núcleo da campanha de Ricardo Nunes (MDB) à Prefeitura de São Paulo. Nos últimos dias, Carlos e Eduardo, além do próprio Jair Bolsonaro, iniciaram uma campanha para minar a popularidade do ex-coach, que cresce nas pesquisas.
O candidato do PRTB em São Paulo dá de ombros. Agradece a Bolsonaro e diz que ele só não o apoia por causa de acordos entre o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, e Nunes, um clássico político do Centrão que foi opositor do bolsonarismo ao ser vice de Bruno Covas em 2020 e que pulou o muro recentemente.
A questão é que, enquanto Nunes parece cada vez mais com Celso Russomano (Republicanos), candidato apoiado por Bolsonaro em São Paulo há quatro anos e derrotado por Covas, Marçal tem cada vez mais cara e focinho do ex-presidente e da anti-política que consagrou o bolsonarismo em 2018.
O ex-coach atrai o eleitor totalmente desesperançoso com a política. E faz aquilo que essa parcela da população gostaria de fazer: xinga, ofende e bota o dedo na cara de políticos de carreira. Exatamente o que fez Bolsonaro entre 2014 e 2018, quando derrotou Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede) e especialmente Geraldo Alckmin (então no PSDB). Assim como Nunes, Alckmin se vendia como candidato da direita, com apoio de todos os partidos do Centrão.
De quebra, Marçal ainda controla as redes sociais de modo muito mais consciente do que fazia Carlos Bolsonaro e sua estética “cafofo do Osama” que marcou a campanha de 2018. E ainda consegue se dizer independente da política tradicional, algo que Jair não pode fazer desde que casou com o Centrão para evitar o pior em seu governo.
Marçal irrita Bolsonaro porque entendeu o que o bolsonarismo é. Difícil dizer até onde irá na eleição em São Paulo, mas mostrou que a nova direita pode procurar candidatos sem o carimbo do ex-presidente.