Análise: o copo meio vazio de Tarcísio de Freitas na eleição
Tarcísio foi ovacionado após Ricardo Nunes ir ao segundo turno em SP, mas resultado deve também ligar o alerta no governador paulista
atualizado
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O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), foi ovacionado no domingo (6/10) pela ida do prefeito Ricardo Nunes (MDB) ao segundo turno na eleição da capital paulista. Mas o resultado deve ligar um alerta no governador bolsonarista.
Nunes tinha Tarcísio como cabo eleitoral; o maior tempo de televisão; uma coligação de 11 partidos; a máquina da prefeitura; a presença, mesmo que tímida, de Jair Bolsonaro em seu palanque; e o pastor Silas Malafaia ajudando com o eleitorado evangélico.
Mesmo com todos essas componentes ajudando Nunes, o ex-coach Pablo Marçal (PRTB) ficou muito perto (cerca de 56 mil votos) de ir para o segundo turno. A tendência era que, caso Marçal tivesse estes votos, eles sairiam de Nunes, o que tiraria o prefeito da disputa.
Marçal, ao contrário do emedebista, não tinha tempo de televisão, nem partidos aliados. O ex-coach disputou a eleição pelo nanico PRTB, sem usar recursos do fundo eleitoral, e teve suas redes sociais bloqueadas em duas oportunidades pela Justiça Eleitoral.
Entretanto, Marçal vestiu a camisa verde e amarela com muito mais identificação do que Nunes. Por mais que Guilherme Boulos (PSol) tente colar o bolsonarismo no atual prefeito da capital paulista, ele é um legítimo representante do chamado Centrão.
Em outras capitais brasileiras, nomes ligados ao bolsonarismo raiz, como o deputado estadual Bruno Engler (PL) em Belo Horizonte e o deputado federal Abílio Brunini (PL) em Cuiabá, conseguiram resultados expressivos e podem conquistar cidades importantes no segundo turno.
O alerta a Tarcísio vem do fato de que, mais uma vez, o eleitor bolsonarista não comprou tão facilmente um candidato de centro no maior colégio eleitoral do Brasil. E o atual governador de São Paulo é visto por esse eleitorado cada vez mais como moderado.
Tarcísio, que participa de eventos ao lado de Lula (PT) e tem como seu braço direito no governo Gilberto Kassab (PSD), é considerado o mais “tucano” dos bolsonaristas. O governador não performa bem nas pesquisas sobre a disputa pelo Palácio do Planalto em 2026.
Como mostrou a coluna, levantamento encomendado por aliados de Bolsonaro mostrava o atual governador de São Paulo em agosto de 2024 com 25,4% das intenções de voto contra 37,1% de Lula, em uma eventual disputa pela Presidência da República.
Quem performa melhor entre os possíveis nomes da direita testados é justamente Michelle Bolsonaro, a possível candidata mais “ideológica” testada. A ex-primeira-dama, sem nenhum cargo eletivo atualmente, aparece com 30,5% num eventual segundo turno contra Lula.
Tarcísio foi ovacionado no domingo em São Paulo como um craque que resolveu o jogo contra um time pequeno e evitou um vexame. O alerta para o governador paulista é de que, em 2026, o jogo é um clássico e o adversário certamente não será um nanico.