Análise: Lira perdeu o controle de sua sucessão na Câmara
Arthur Lira viu seu protagonismo ser ofuscado nas negociações para sua própria sucessão na presidência da Câmara nas últimas semanas
atualizado
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A menos de cinco meses para o término de seu mandato como presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) perdeu o controle de sua sucessão no comando da Casa após uma série de movimentos nas últimas semanas.
A principal jogada que ofuscou o protagonismo de Lira foi a desistência do deputado Marcos Pereira (Republicanos-SP) e o consequente anúncio de apoio dele ao correligionário Hugo Motta (Republicanos-PB) na disputa.
A reviravolta alçou Marcos Pereira, e não Lira, ao posto de um dos principais fiadores de Motta junto ao Palácio do Planalto, que via o deputado paraibano com desconfiança em razão da idade — ele tem 35 anos de idade.
Foi Pereira quem levou Motta até Lula para anunciar o apoio. Na conversa, o presidente da República questionou se o parlamentar paraibano não era muito novo. Pereira, então, disse que afiançava o correligionário.
Lira também não foi o principal fiador de Motta junto a Jair Bolsonaro. O deputado foi levado ao ex-presidente pelo senador Ciro Nogueira (PP-PI), que é aliado de primeira hora do candidato do Republicanos.
Sem consenso
O atual presidente da Câmara abraçou a candidatura de Motta na esperança de que conseguiria convencer os outros dois candidatos, Elmar Nascimento (União-BA) e Antônio Brito (PSD-BA), a desistirem para apoiar o colega paraibano.
Até agora, porém, Lira não teve sucesso na empreitada. Elmar e Brito não só se recusaram a desistir da disputa, como se uniram e fecharam um acordo de apoio mútuo no eventual segundo turno contra Motta.
Visto como favorito de Lira até então, o candidato do União Brasil rompeu com o aliado alagoano e, em mais uma perda de protagonismo do presidente da Câmara, decidiu bancar sua candidatura sem a ajuda dele.
Desde que foi preterido, Elmar reforçou sua articulação individual com o governo. Só na última semana, o parlamentar baiano foi recebido três vezes no Planalto: uma por Lula e outras duas por ministros.
Na conversa com o presidente da República, o cacique do União Brasil levou números para tentar convencer o petista de que não há consenso na Câmara em torno de Hugo Motta, como Lira tenta vender.
De imediato, Elmar conseguiu que Lula brecasse os movimentos do PT para fechar com o candidato do Republicanos agora. A pedido do presidente, o partido deve deixar a decisão mais para frente.
Diante de todos esses movimentos, Lira até segue como protagonista de sua sucessão, mas viu esse protagonismo ser ofuscado com voos solos de ex-aliados e o destaque de novos fiadores para o candidato que apoiará.
O cenário faz lembrar a sucessão de Rodrigo Maia na Câmara em 2021. O então presidente da Casa alimentou a candidatura de diversos aliados, o que gerou atrito em sua própria base e fez seu candidato perder para Lira.