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Em busca da tempestade perfeita

“O que está péssimo e não para de piorar é o investimento geral no conflito, na desavença, na fratura”

atualizado

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1 de 1 jornal, imprensa - Foto: Pixabay

Ficou obsoleta a frase imortal do filósofo Tiririca: “Pior do que tá não fica”. Fica sim. E não para de piorar, só para deixar bem claro àqueles que ousarem decretar que chegamos ao fundo do poço. É mais embaixo, senhoras e senhores. Sempre mais.

Isto não é um manifesto pessimista ou apocalíptico. A verdade é que diante de tantas crises não está tão ruim assim, se formos sinceros na avaliação. O que está péssimo e não para de piorar é o investimento geral no conflito, na desavença, na fratura. O historiador do futuro vai olhar para o início da terceira década do terceiro milênio no Brasil e concluir com facilidade: era uma sociedade em busca da tempestade perfeita.

Não só no Brasil – mas vamos delimitar a abordagem, que já não está fácil nos limites do caos doméstico.

É a imprensa sabotando para trazer o PT de volta, dizem muitos. Será simples assim? Sim, a imprensa é de esquerda, confirmam. Sempre foi. Será mesmo? Então, vamos recuar uma década? O que estava acontecendo no ano de 2011 no Brasil e na imprensa brasileira?

Estávamos no primeiro ano do governo de Dilma Rousseff. E esse primeiro ano terminou com a queda de sete ministros, varridos por um arrastão de casos de corrupção e irregularidades variadas. Quem fez a maioria das denúncias? A imprensa. Sim, ela mesma.

Em 2011, quase todos os principais veículos de comunicação brasileiros brilharam com reportagens precisas e arrojadas sobre escândalos nos ministérios dos Transportes, dos Esportes, do Turismo, do Trabalho e outros.

As grandes revistas nacionais, as principais emissoras de TV, os tradicionais jornais de Rio, São Paulo e Brasília – todos entraram com excelência nas investigações e foram decisivos para um momento de combate frontal ao fisiologismo governamental. Repetindo: era o governo Dilma, a sucessora de Lula, do PT.

Quem olhar direito para este momento histórico e afirmar que a imprensa sempre foi petista, ou esquerdista, ou que apelido isso tenha, não está interessado na realidade.

Claro que a grande imprensa sempre teve suas inclinações editoriais, e em certos momentos não foi tão clara quanto deveria ser sobre eles. Ou seja, não estamos num convento. Mas quando o PT estava tentando destruir o Plano Real – década e meia antes daquela que já recuamos, ou seja, meados dos anos 90 – a imprensa não estava na sabotagem. Ao contrário.

Havia, sim, veículos com linha editorial mais hostil ao governo da época, mas até nelas havia espaço para reconhecimento dos avanços da reforma monetária. E pode-se dizer que a maior parte da grande mídia noticiou correta e positivamente o enfrentamento bem-sucedido da inflação.

Nessa época, o PT e outros setores políticos fantasiados de “esquerda” faziam o que se chama hoje de desinformar. Diziam que o Plano Real era um golpe contra o trabalhador. E a imprensa não embarcou nessa. Com suas nuances editoriais, continuou preferindo informar a desinformar.

O problema é que hoje a maioria dos que alegam estar combatendo a “desinformação” são os que estão, na verdade, desinformando. Porque a imprensa tradicional, em grande parte, caiu na tentação da propaganda, da panfletagem, de campanhas ostensivas para criação de um senso comum artificial – como nunca se viu nos momentos mais agudos da chamada “editorialização”.

Essa tentação pela fabricação de versões não tem nada a ver com ideologia, com esquerdismo ou como se queira chamar. É uma diretriz mercadológica (completamente equivocada, mas hoje hegemônica). Não fiquem achando que isso é antibolsonarismo ou alguma religião do tipo. O ensaio para essa artificialização foi feito no governo passado.

O governo Temer foi um período de melhora dos principais indicadores socioeconômicos graças a um início de arrumação da casa, de retomada do controle fiscal. E o país passou mais de ano lendo e assistindo na grande mídia que era o governo da “quadrilha mais perigosa” da história – entre outras manchetes ridículas que o dublê de procurador e incitador Rodrigo Janot ditava.

Vamos construir o inimigo perfeito e dar a entender que vale tudo para destruí-lo. É isso que o Brasil vive hoje. É isso que está por trás de todos os atropelos institucionais sobre a democracia. E quem está sancionando esses atropelos, ou seja, jogando gasolina nesse fogo, é a maior parte da outrora grande imprensa – essa que resolveu até fingir que não vê manifestações nacionais quando a causa não se encaixa na cartilha que passou a vender.

O bolsonarismo vai passar e você vai perceber que ele era só um pretexto.

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