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Cadê os bombeiros?

Onde está o homem, ou a mulher, com suficiente espírito público para saltar os preconceitos e conversar com o grupo do presidente?

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1 de 1 bombeiros - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Foi noticiado que o ex-presidente Michel Temer recebeu pedido do ministro do STF Alexandre de Moraes para mediar diálogo com o presidente Jair Bolsonaro. Temer foi o autor da indicação de Moraes para o Supremo. Pelo nível de histeria a que se chegou nessas supostas relações institucionais – “supostas” porque já deixaram de ser institucionais há muito tempo –, fica difícil imaginar a efetividade dessa ponte. Mas estamos aqui para acreditar.

Então vamos considerar, apesar de todos os pesares, essa informação uma boa notícia. Por que não? Quem não quer apostar em ruptura – ou em briga de galo fantasiada de ideologia para faturar com crise – tem a obrigação de levar a sério qualquer movimento de harmonização, ou tentativa.

Temer pode ser bom agente conciliador, se quiser. Aliás, todos os envolvidos podem ser mais bonzinhos, se quiserem. Por que quereriam, se estão apostando tudo, e tão convictamente, o conflito? Pelo singelo fato de que no rumo em que está a prosa, vai dar m… – como diria o filósofo. E para manter a terminologia erudita, todos já perceberam que poderá ser uma m… grande. Então, crianças, permitam-se a atravessar por um raio de lucidez agora e ponham a mão na consciência, antes que seja tarde.

Os últimos movimentos de Temer, ainda que discretos, não autorizam muita esperança nele como agente conciliador. O ex-presidente andou figurando aí numa dessas arregimentações toscas de suposta resistência democrática contra o fascismo imaginário. 

Parênteses: para quem quiser derrotar Bolsonaro de verdade, a primeira providência é parar de achar que o povo é burro. Em vez de ficar tentando fingir que o presidente não é uma representação democrática desse povo – e pelo visto é uma representação forte, senão já tinha caído –, experimentem parar de tratá-lo como um ET da caserna. Reconheçam avanços na agenda de reformas reiniciada pelo próprio Temer e parem de fazer essa cara afetada de nojo para tudo. Todas as críticas justas que o presidente e o governo merecem terão muito mais impacto. Fecha parênteses.

Mas para quem quiser dar golpe não precisa nada disso. E Temer sabe muito bem o que é governar por mais de um ano e meio com “democratas” tentando virar a mesa. Difícil acreditar que ele pense em aderir a uma sabotagem dissimulada como a que o vitimou. Até Lula assinalou, quando estava preso, que Temer foi alvo de uma tentativa de golpe. E foi mesmo. Mas não sucumbiu e entregou ao sucessor um excelente legado administrativo – reabilitando o país de uma situação pré-falimentar.

Tendo sofrido o cerco que sofreu e presidido uma transição pacífica, Michel Temer tem as credenciais para iniciar a pacificação entre STF e governo. Muitos dizem que já era, que já esticaram demais a corda, que ela até já arrebentou. Uns dizem que nem tem mais corda. Então, ótimo. Vamos conversar sem corda. Vamos parar de dar corda aos provocadores. 

O Brasil precisa de bombeiros corajosos. Temer pode ser um – porque coragem já mostrou que tem de sobra, ao resistir de pé a uma conspiração implacável que tentava retratá-lo diariamente como o pior ser da galáxia. Fernando Henrique já foi bombeiro – nas crises de Collor e de Lula, o que o tornava insuspeito quanto a inclinações ideológicas. Mas depois resolveu virar incendiário – não só contra Bolsonaro, mas já contra Temer (cuja renúncia pediu publicamente) o que o torna hoje insuspeito como agente de desestabilização.

Mais algum bombeiro na plateia? Quem se oferece? Quem terá essa coragem no meio de tanta intriga e arreganho? 

Os tucanos parecem caso perdido, em termos da grande política. Tasso Jereissati virou um líder de grêmio estudantil. Talvez um Mário Covas fizesse diferença num momento como este. Vai saber. Ou, na área da cultura, um equivalente brasileiro a Mario Vargas Llosa. Onde está o grande homem, ou a grande mulher, com suficiente espírito público para saltar os preconceitos e conversar com o grupo do presidente e seus contendores nos outros poderes? Para ajudar a levar o Brasil a uma eleição pacífica e segura?

Onde estão as reservas morais para elevar o diálogo acima das comichões conspiratórias? Estamos sem reservas?

Decidam aí. De notinhas e manifestos golpistas e contragolpistas já estamos bem supridos. Vamos ver se ainda tem gente por aqui capaz de espalhar um surto de responsabilidade no país. Sonhar é de graça.

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