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Adeus, ONU

Organização das Nações Unidas virou pó. Sua função de árbitro dos conflitos e avalista de ofensivas de estado já está esfacelada há décadas

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A Organização das Nações Unidas acabou. Ou talvez seja um exagero dizer que acabou. Ela é uma mobília velha encostada no porão. Cheia de cupim.

A ONU foi importante no século 20. Uma salvaguarda para os direitos conquistados pela humanidade após a derrota do nazismo na Segunda Guerra Mundial. As ameaças de recaída totalitária – fascistas ou neonazistas – encontravam na ONU o fator implacável de dissuasão, o edifício civilizatório afirmando a democracia e a liberdade acima de tudo. Olhe em volta e confira se esses valores estão intactos – e o que a ONU representa na garantia incondicional deles.

Vamos poupar o seu trabalho e adiantar a conclusão: não representa nada. Zero.

A atual configuração da Organização das Nações Unidas não representa união democrática alguma. Basta ver a escalada da ofensiva chinesa sobre o Ocidente. Como pode um regime ditatorial indevassável às aferições de liberdade ascender ao status de parceiro leal das nações que se dizem democráticas? Pois foi exatamente isso que vimos acontecer. Uma potência comercial aceita como força capitalista moderna escondendo (ou nem tanto) uma forma arcaica de organização, erigida sobre o controle férreo dos seus indivíduos.

Que modernidade é essa?

É a nova modernidade com a qual o Ocidente resolveu se envolver, fazendo vista grossa para o descaso com os direitos humanos desse parceiro supostamente moderno. As digitais da ONU estão no reconhecimento da China como economia de mercado – não importando as salvaguardas aos direitos das pessoas que estão na base desse mercado. Cadê o compromisso sagrado com o Tratado de Bretton Woods? Cadê as juras de lealdade à Declaração Universal dos Direitos do Homem?

Estão naquele porão cheio de cupim. Tem traça lá também.

A ONU aceitou a China no seu Conselho de Direitos Humanos. Nem seria preciso dizer mais nada. Não é culpa da ONU. Ela é só uma organização de nações que virou pó (a organização, não as nações, por enquanto). Essa organização virou pó porque o que a constituía era um conjunto de princípios e valores garantidores da democracia – inspirados pela vitória sofrida e sangrenta contra o desumano laboratório de “purificação” de Adolf Hitler. Alguém já disse que tempos difíceis forjam homens fortes e tempos fáceis geram homens fracos.

Talvez a humanidade não tenha sabido lidar bem com as facilidades que alcançou na segunda metade do século 20, após o trauma das grandes guerras.

A ONU já estava sendo colocada de lado pelos próprios Estados Unidos no início do século 21, com as guerras contra o terrorismo a partir do 11 de setembro. Ali sua função de árbitro dos conflitos internacionais e avalista de ofensivas de estado já estava esfacelada. E dentro dos EUA, grande fiador das Nações Unidas, já emergia clara a tentação de fazer demagogia com oponentes autoritários do mundo árabe – as concessões ao Irã – e de flertar de forma também demagógica, além de interesseira, com o capitalismo ditatorial chinês.

Tratar o “Império Yankee” como o grande mal da humanidade virou bandeira oportunista para parte da própria sociedade americana – e o resultado está aí.

Hoje o mundo é refém de diretrizes “de saúde” muito parecidas com as formas implacáveis de controle chinês sobre os seus cidadãos. A diferença é que, na China, o que garante o controle é a força bruta do partido único, com um verniz de propaganda estatal em segundo plano. No resto do mundo, a propaganda salvacionista está em primeiro plano na imposição do controle férreo dos indivíduos.

Eles estão aceitando docilmente trocar o seu bom senso na prevenção inteligente e responsável contra o contágio por passaportes de vacinas que sequer impedem o contágio. A maioria aparentemente não se importa nem com o curto processo de desenvolvimento dessas vacinas – cujos riscos totais ainda não estão dimensionados. As cabeças estão feitas, e a foto da picada no Instagram é o novo atestado de civilidade.

Essa ainda é a parte da propaganda. Mas a obrigatoriedade já enuncia o componente da força. E a ONU? A ONU está assistindo a essa escalada autoritária lá do seu porão, entregue às baratas.

* Este texto representa as opiniões e ideias do autor.

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