Vaticano manda fechar colégios dos Arautos do Evangelho após ano letivo
Interventor nomeado pelo papa Francisco deverá assegurar que as crianças voltem para o convívio familiar dentro do prazo estipulado
atualizado
Compartilhar notícia
Um documento emitido pelo Vaticano em 22 de junho determina que os colégios do grupo Arautos do Evangelho sejam fechados após a conclusão deste ano letivo.
A carta é assinada pelo cardeal João Braz de Aviz, prefeito da Congregação para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica no Vaticano, e foi enviada ao cardeal Raymundo Damasceno Assis, nomeado pelo papa Francisco como interventor para os Arautos do Evangelho.
O Vaticano determina que todos os menores de idade internados nos colégios sejam enviados de volta para o convívio de suas famílias após a conclusão do ano letivo. Caberá ao cardeal Assis realizar os procedimentos para que a decisão seja cumprida no prazo estabelecido.
Uma reportagem especial publicada pelo Metrópoles em 2019 denunciou uma série de abusos físicos e psicológicos cometidos contra crianças e jovens nos colégios. O Ministério Público também investiga o caso.
Entre as razões para o fechamento dos colégios, o Vaticano diz ter considerado “o tipo de disciplina excessivamente rígida praticada nas comunidades dos Arautos do Evangelho” e “as numerosas comunicações” enviadas pelos pais de crianças e jovens, alegando que as famílias “são, na maioria das vezes, excluídas das vidas dos seus filhos e que os contatos com os pais não são suficientemente garantidos”.
O Vaticano também declara que a medida visa a “permitir aos mais jovens o indispensável relacionamento com as famílias e com o objetivo de prevenir qualquer situação que possa favorecer possíveis abusos de consciência e plágio contra menores”.
A comunidade dos Arautos do Evangelho tem pouco mais de 3.000 pessoas no Brasil. O grupo nasceu com base em dogmas católicos e está submetido a uma rotina de princípios ultraconservadores.
(Atualização, às 18h31 de 9 de setembro de 2021: Os Arautos do Evangelho enviaram nota em que contestam a informação publicada pela coluna a partir do decreto emitido pelo Vaticano. Sob a condição de reserva, religiosos disseram à coluna que, a não ser que os Arautos eliminem o sistema de ensino integral, a continuidade das atividades letivas nas instituições da organização será comprometida, já que todos os alunos deverão “voltar a viver com as suas famílias e serem confiados aos respectivos pais” a partir do próximo ano letivo, conforme diz o comunicado. Os Arautos, por sua vez, informaram que os colégios da entidade “são instituições civis e autônomas, inspiradas no carisma dos Arautos do Evangelho, cuja mantenedora se chama INEDAE, Instituto Educacional Arautos do Evangelho”. Segundo os Arautos, o INEDAE é pessoa jurídica de direita privado e “está submetido a autorização e avaliação de qualidade pelo poder público, não pelo poder eclesiástico”. Logo, de acordo com os Arautos, nenhum decreto emitido pelo Vaticano teria poder para fechar as instituições de ensino. Os Arautos afirmam que não receberam “determinação alguma oriunda do Vaticano” para que menores internados nos colégios retornem às suas famílias após o ano letivo. “Inclusive, os citados colégios nunca foram internatos. Tal determinação não caberia, novamente, a nenhuma autoridade eclesiástica, pois a decisão de hospedagem ou residência cabe primordialmente aos pais e/ou responsáveis legais pelos menores”, diz a nota enviada pela entidade.)
Documento – Vaticano by Edoardo Ghirotto on Scribd
Documento – Vaticano by Edoardo Ghirotto on Scribd