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Sobrevivente do caso Marielle: “Pior que o crime seria nunca resolvê-lo”

“Se eu perdesse a esperança, estaria desacreditando por completo no país”, diz Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado a Marielle

atualizado

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Arquivo pessoal
Jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado a Marielle Franco, em frente a uma estante de livros
1 de 1 Jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado a Marielle Franco, em frente a uma estante de livros - Foto: Arquivo pessoal

A jornalista Fernanda Chaves, única sobrevivente do assassinato da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, comemorou nesta segunda-feira (24/7) a confirmação do autor do crime e disse que não perdeu a esperança na elucidação do caso. Em entrevista à coluna, Chaves afirmou que nos últimos anos o Estado brasileiro não fez sua obrigação e agiu com descaso na investigação.

Nesta segunda-feira (24/7), o ministro da Justiça, Flávio Dino, anunciou que o ex-PM Élcio Queiroz confessou em delação premiada que dirigiu o carro usado no atentado, e que o ex-policial Ronnie Lessa metralhou o carro de Marielle. Mais cedo, a Polícia Federal prendeu o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, que monitorou os passos da vereadora antes e depois do assassinato.

Agora, a investigação aposta em uma nova delação para descobrir quem mandou matar Marielle, cinco anos e quatro meses depois.

Eis os principais trechos da entrevista.

Como recebeu a notícia de que o assassino de Marielle Franco foi denunciado por seu comparsa, cinco anos e quatro meses depois do crime?

É sempre impactante, e pela primeira vez é satisfatório, embora isso mexa muito comigo, ainda mais na condição de sobrevivente. Foi satisfatório perceber que há um empenho pela verdade, pela elucidação desse caso. O ministro da Justiça merece parabéns. Ele falou sobre o caso Marielle no discurso de posse e manteve o compromisso, não foi algo eleitoral. Não é nada além do papel do Estado, é a obrigação, mas passamos os últimos tempos vivendo algo tão surreal que vale a pena exaltar esse momento.

Fernanda Chaves e Marielle Franco sorrindo
Marielle Franco e Fernanda Chaves

Em 2021, você disse ter pavor de nunca identificar os autores. Você mantinha a esperança, em meio à investigação emperrada?

Eu sempre mantive a esperança na resolução do crime. Pior do que o crime em si seria nunca esclarecê-lo. Se eu perdesse a esperança, eu estaria desacreditando por completo no país, no Estado, nas autoridades, na democracia. A gente penava, mas esperava ver esse crime desvendado. Embora essa informação de hoje não elucide o caso, demonstra que há buscas reais por justiça.

Desde 14 de março de 2018, duas perguntas se repetiram: quem matou e quem mandou matar Marielle. A primeira foi respondida hoje. Espera avanço em relação aos mandantes?

Sem dúvida. Demonstra que a solução do crime está colocada como prioridade no Ministério da Justiça, na Polícia Federal, no Ministério Público do Rio de Janeiro. Já é outro tom, porque passamos os últimos anos vivendo exatamente o contrário: um descaso deliberado com o crime. Era uma tentativa de se fazer esquecer o atentado.

Em cinco anos e quatro meses, a investigação parecia não andar de lado algum. Houve várias trocas de delegados e até de promotores.

Você não via uma linha de investigação. Como sobrevivente e testemunha técnica, não fui procurada pelos últimos delegados, pelo Ministério Público estadual depois que saíram as promotoras Simone Sibilio e Letícia Emile. Não havia sequer um pronunciamento das autoridades. Este ano começou diferente. Em janeiro já fui recebida pelo ministro da Justiça, fui procurada pela força-tarefa.

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Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi expulso do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro
Marielle Franco
Marielle era vereadora e defendia direitos humanos
A vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018
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Ronnie Lessa e Élcio Queiroz, suspeitos de matar Marielle Franco

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Maxwell Simões Corrêa, o Suel, foi expulso do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro

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Marielle Franco

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Reprodução/facebook
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Marielle era vereadora e defendia direitos humanos

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A vereadora Marielle Franco, assassinada em 2018

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A vereadora defendia pautas de direitos humanos, defesa da mulher e da comunidade LGBT

Mário Vasconcellos/CMRJ

Cinco anos foi um período longo para uma mobilização com essa proporção, certo?

Com certeza. Isso mostra a importância da luta, do Comitê Marielle Franco, da insistência das famílias, das manifestações. Não esmorecer, não cansar, bater na porta das autoridades, ir às ruas, levantar as bandeiras, botar a cara e o nome da Marielle em ruas, praças. Meia década é muito tempo. Poderia ter sido tempo suficiente para que isso ficasse submerso e nunca viesse à tona. É um exemplo muito grande de como a cobrança por justiça é fundamental. É muito comum que as famílias das vítimas cobrem a solução de crimes sem resposta. Quando a sociedade se envolve também, há um ganho de força.

Uma mobilização internacional, inclusive.

O assassinato da Marielle é claramente um atentado político. Foi um acinte. No centro da cidade, no estado que estava sob intervenção federal militarizada. Era uma vereadora eleita que teve o carro metralhado no meio da rua, ao lado da prefeitura. Isso ganhou a indignação do mundo. Coloca o Estado Democrático de Direito contra a parede. Marielle é escolhida para ser assassinada por um grupo que está tentando assassinar ideias e ideais. A figura da Marielle, como mulher negra, favelada, lésbica, mostra um corte racista e homofóbico. Isso tornou o alcance do assassinato no país só comparável ao de Chico Mendes. Ouso dizer que o da Marielle foi mais impactante, com as redes sociais e pelo fato de o assassinato ter sido não no meio da floresta, mas no meio da cidade.

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