Site de aposta que patrocinou evento de relator integra associação ouvida na CPI
Wesley Cardia, presidente da ANJL, prestou depoimento na CPI da Manipulação no Futebol, cuja relatoria é de Felipe Carreras, do PSB-PE
atualizado
Compartilhar notícia
A Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL), cujo presidente depôs na CPI da Manipulação no Futebol, representa os interesses de uma das empresas que patrocina a produtora do relator da comissão, deputado Felipe Carreras, do PSB de Pernambuco.
Wesley Cardia foi ouvido como convidado no último dia 8 pela CPI. A audiência também contou com o representante de outra associação do ramo de apostas, André Gelfi, do Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR).
As empresas de apostas não são investigadas na CPI. Os convites para ouvir os executivos foram apresentados por Fred Costa, do Patriota de Minas Gerais, Capitão Alberto, do PL do Amazonas, Daniel Freitas, do PL de Santa Catarina, e Aureo Ribeiro, do Solidariedade do Rio de Janeiro.
A ANJL representa 13 empresas, sendo que 11 são operadoras de apostas e duas ofertam meios de pagamento, segundo o depoimento de Cardia na CPI. Entre elas está a Aposta Ganha, patrocinadora do Camarote Exclusive do São João de Caruaru, em Pernambuco. O jornalista José Marques mostrou que o evento foi produzido pela empresa Festa Cheia, que tem Carreras como sócio.
Cardia não trabalhava no segmento das apostas esportivas antes de assumir a presidência da ANJL, em abril. Ele declarou à CPI que a entidade extinguiu a diretoria anterior, formada por executivos de sites de apostas, para evitar conflitos entre os associados. No site da ANJL não há menção sobre quais são as empresas representadas por ela.
Carreras fez perguntas aos executivos e deixou a audiência com as associações após 47 minutos — ela teve quase 3 horas de duração. Wellington Roberto, do PL da Paraíba, cobrou explicações do relator sobre o patrocínio dos sites de apostas à produtora, mas ele já não estava presente. Na ocasião, o presidente da CPI, Julio Arcoverde, do PP do Piauí, disse que Carreras trataria do assunto nesta terça-feira (15/8).
O relator disse à coluna que não há conflito de interesses no caso. “Todas as associações que representam o setor no Brasil foram convidadas a estar na CPI, mas só existem duas associações. Nosso pedido era para vinda de um representante. No site delas sequer consta o nome dos representantes.”
“Já prevíamos no plano de trabalho, aprovado por unanimidade pelos integrantes da CPI, a vinda das associações para atuar de forma propositiva no combate ao crime organizado. Os requerimentos foram aprovados no âmbito da CPI”, acrescentou. “O Sr. Wesley respondeu aos questionamentos de vários deputados, e minha obrigação como relator é me atentar aos fatos. Repito que não existe conflito de interesses.”
Carreras declarou que “aquilo que for relevante para o objeto da CPI constará no relatório”. Ele disse que não há prejuízo para a produção do relatório final. “É importante ressaltar que em todo o processo iniciado pelo Ministério Público (MP) de Goiás e pela Polícia Federal não foi apontada a participação de empresas de apostas. Nosso objetivo é combater o crime organizado e acabar com esse tipo de corrupção, que afeta milhões de brasileiros que perderam a confiança no esporte.”
“O objeto da CPI é apurar as suspeitas de manipulação de resultados no futebol profissional brasileiro. Esta não é a CPI das Casas de Apostas”, disse. “Os promotores responsáveis pela Operação Penalidade Máxima, que deu origem à CPI, foram claros ao dizer, em audiência na comissão, que não havia indício de envolvimento das casas de apostas. Eu fiz esse questionamento. Alguém que tivesse conflito jamais faria esse tipo de pergunta.”
O relator afirmou que trabalha para “criar um sistema de assistência e proteção aos consumidores que fazem uso desse tipo de serviço e que ainda está em fase de pavimentação legislativa no país”. “Estamos atuando de forma transparente no colegiado, respeitando o rito dos trabalhos pautados pelo presidente, Julio Arcoverde, e relatando os fatos de forma fidedigna.”
Wesley Cardia, presidente da ANJL, declarou que a entidade só representa os associados no campo institucional. “A associação não tem ingerência alguma ou conhecimento sobre a política comercial de cada um deles. Não trata, não conhece nem interfere nos aspectos comerciais de patrocínios ou de publicidades dos associados”, disse.
O executivo afirmou que tratou apenas de interesses institucionais das operadoras e que compareceu à CPI sem ter conhecimento sobre o patrocínio pago pela Aposta Ganha ao evento em questão. “Não vê, portanto, conflito de interesses e nenhuma irregularidade em relação à sua participação na CPI”, disse Cardia, em nota emitida por sua assessoria de imprensa.