Silvio Almeida mandava gravar reuniões escondido, diz ex-diretor
Em entrevista à coluna, Leonardo Pinho, ex-diretor do Ministério dos Direitos Humanos, relatou assédios de Silvio Almeida
atualizado
Compartilhar notícia
Na entrevista que concedeu à coluna, relatando assédios do ex-ministro dos Direitos Humanos Silvio Almeida, o ex-diretor da pasta Leonardo Pinho afirmou que Almeida pedia a ele para gravar escondido reuniões do Conselho Nacional dos Direitos Humanos.
Segundo Pinho, ex-diretor de Promoção dos Direitos da População em Situação de Rua, Almeida pretendia saber detalhes de elaboração das pautas das reuniões e de críticas ao ministério. Diante da resistência do ex-diretor a fazê-lo, conforme o relato, o então ministro do governo Lula tentava intimidá-lo dizendo “você é meu funcionário, vai fazer”. Mesmo assim, o ex-diretor afirmou não ter gravado os encontros do CNDH.
“No meio de 2023, o ministro me chamou para o gabinete dele. Me pediu para eu gravar escondido reuniões internas do Conselho Nacional de Direitos Humanos, com pessoas de outros ministérios. Ele queria saber os detalhes da elaboração das pautas das reuniões e também das críticas ao ministério. Eu respondi que o CNDH não era de governo, mas de Estado, e que não gravaria ninguém. ‘Você é meu funcionário, vai fazer’, disse. Respondi: ‘Não vou fazer, e você tem um instrumento simples, a exoneração, se achar que estou deixando a desejar’. Aí ele desconversou. Isso me soou um alerta. Ele é PhD em direito, professor, sabe de lei, sabia o que estava fazendo. A partir daí, isso foi se avolumando. Comecei a perceber que o que ele queria não era uma relação de gestor público, mas uma fidelidade de gângster para defendê-lo a todo custo, algo pessoal. E o Estado é impessoal.”
Nos meses seguintes, segundo Leonardo Pinho, Silvio Almeida retaliou a direção que ele comandava, excluindo-a da formulação de políticas para a população de rua.
“Em julho e agosto, quando o STF deu prazo para o governo apresentar políticas públicas à população em situação de rua, fui informado de que a minha diretoria, que cuida especificamente disso, não atuaria por decisão do ministro. É algo que não faz sentido. O corpo técnico tem de subsidiar as decisões da área. Isso em qualquer ministério. Interpretei como uma retaliação por eu não ter atendido aos pedidos dele para gravar reuniões ilegalmente”.
Conforme o relato do ex-diretor, Silvio Almeida também pediu a ele para gravar reuniões com a equipe de Pinho e também encontros com integrantes do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (Ciamp), que haviam criticado o ministério. Com a recusa de Pinho, Almeida teria reagido com socos na mesa e ameaças.
“Por volta de outubro, ele me chamou ao gabinete dele e me pediu para gravar reuniões com a minha equipe, que tinha se recusado a assinar documentos fora do fluxo do ministério. Também pediu para eu gravar integrantes do Ciamp [Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua], que haviam criticado o plano do ministério por falta de transparência. Eu falei ‘não’. Foi a mesma cena: ele se levantou da mesa, xingou e deu socos na mesa. Me disse que os meus dias estavam contados.
Lula demitiu Silvio Almeida do Ministério dos Direitos Humanos na última sexta-feira (6/9), depois de a coluna revelar que o Me Too Brasil havia recebido denúncias de assédio sexual contra Almeida. Uma das denunciantes, mostrou a reportagem, é a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Receba o conteúdo da coluna no seu WhatsApp
Siga a coluna no Instagram
Siga a coluna no Threads