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Servidores de Goiânia, governada por pastor, atuaram com pastor do MEC

Passagens aéreas emitidas a pedido do pastor Arilton Moura mostram que dois funcionários da prefeitura de Goiânia estiveram em evento do MEC

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Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos posam ao lado de Helder Diego da Silva Bartolomeu e Angelino Moura Correia para foto tirada no Pelourinho, em Salvador
1 de 1 Os pastores Arilton Moura e Gilmar Santos posam ao lado de Helder Diego da Silva Bartolomeu e Angelino Moura Correia para foto tirada no Pelourinho, em Salvador - Foto: Reprodução/Instagram

O escândalo do MEC ganhou novos personagens. Acusado de pedir propinas a prefeitos ao atuar como um lobista informal do Ministério da Educação, o pastor Arilton Moura viajava pelo Brasil acompanhado de duas pessoas que trabalhavam na Prefeitura de Goiânia. Arilton pediu para que passagens aéreas fossem emitidas para os servidores Wanderley José Álvares Filho e Helder Diego da Silva Bartolomeu participarem de um evento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) em Nova Odessa, cidade do interior de São Paulo.

O prefeito de Goiânia é Rogério Cruz, um pastor evangélico filiado ao Republicanos que assumiu a gestão após a morte de Maguito Vilela, em janeiro de 2021.

A revelação foi feita por José Edvaldo Brito, o presidente do Avante de Piracicaba que ajudou a Prefeitura de Nova Odessa a organizar o evento com o FNDE. Em entrevista coletiva concedida nesta terça-feira (29/3), Brito apresentou o recibo das passagens aéreas exigidas por Arilton. Ele afirma que voluntários gastaram R$ 28 mil para trazer a comitiva dos pastores Arilton e Gilmar Santos para o evento em Nova Odessa. A cerimônia teve a presença do ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, que também participou de um culto com os líderes religiosos na cidade.

O evento em Nova Odessa ocorreu em 21 de agosto do ano passado. Pastor da Igreja Batista de Goiânia, Wanderley passou por diversos cargos na Prefeitura de Goiânia e, na época do evento, era funcionário da Secretaria de Governo. No dia 22 de fevereiro deste ano, Wanderley foi nomeado para o gabinete do prefeito Rogério Cruz, mas acabou exonerado dias depois.

Já Helder Bartolomeu foi nomeado em maio do ano passado para a Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação da Prefeitura de Goiânia, mas nunca apareceu para trabalhar e teve os salários bloqueados pela gestão municipal.

No Instagram, Helder publicou uma foto no dia 8 de agosto ao lado dos pastores Arilton e Gilmar no Pelourinho, em Salvador. Quem também está na foto é Angelino Moura Correia, outra pessoa que teve a passagem comprada para ir a Nova Odessa. Correia se identifica no LinkedIn como um consultor das Secretarias de Educação das cidades de Godofredo Viana e Cândido Mendes, ambas no Maranhão.

A coluna mostrou a foto para José Edvaldo Brito, que reconheceu Helder e Angelino. Brito disse que Angelino se apresentava como o irmão do pastor Arilton. Não se sabe, ainda, qual era o papel deles nas viagens de lobby dos pastores que vendiam facilidades no MEC.

As passagens aéreas mostradas por Brito confirmam a presença em Nova Odessa de Nely Carneiro da Veiga Jardim, apontada como a intermediadora dos pastores, e do advogado Luciano Freitas Musse, um gerente de projetos do MEC que frequentava os encontros dos líderes religiosos com prefeitos.

Gleidinir José da Silva, que também teve passagem comprada para ir a Nova Odessa, aparece nas agendas do Ministério da Educação como participante de diversos encontros com prefeitos. O secretário-executivo da pasta, Victor Godoy, esteve em vários desses eventos com Gleidinir. Godoy é cotado para assumir o Ministério, que ficou vago com a demissão de Milton Ribeiro nesta segunda-feira (28/3).

Na coletiva, Brito afirmou que o pastor Arilton era o responsável por organizar as datas para o “gabinete itinerante” do FNDE visitar cidades pelo Brasil. A negociação, segundo ele, foi feita em um hotel em Brasília. Após alinhar a data do evento em Nova Odessa, Brito disse que Arilton pediu dinheiro para uma obra missionária que era desenvolvida fora do país.

O dirigente do Avante declarou que o pastor não condicionou a organização daquele evento à liberação da quantia, mas confirmou que um empresário da região aceitou fazer a doação e transferiu R$ 67 mil para a conta de Arilton. Ele alega que o pastor enganou aos dois.

Brito afirmou ter comunicado irregularidades cometidas pelos pastores a Ribeiro e disse ter prestado depoimento à Controladoria-Geral da União (CGU) a pedido do ministro.

(Atualização às 17h26 do dia 29 de março de 2022 – A Prefeitura de Goiânia entrou em contato para justificar que Helder Diego da Silva Bartolomeu nunca se apresentou para trabalhar na Secretaria de Planejamento Urbano e Habitação, apesar de ter sido nomeado para um cargo em maio de 2021. A gestão municipal mostrou à coluna os documentos com pedidos para bloquear os vencimentos de Helder devido às seguidas faltas. O texto foi atualizado com a informação.)

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Antes de virar ministro, Milton Ribeiro já colecionava uma série de polêmicas. Em uma delas, postou no canal que tinha no YouTube palestra em uma Igreja Presbiteriana, em 2016. À época, afirmou apoiar o castigo físico em crianças
“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa. Um bom resultado não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”, disse. Segundo ele, as crianças “devem sentir dor”. Um dia após tomar posse no Ministério da Educação, no entanto, retirou o vídeo da plataforma e, mais tarde, afirmou nunca ter falado sobre o assunto
Em 2018, o ex-ministro afirmou que universidades incentivavam alunos a fazerem “sexo sem limites”. “Para contribuir ainda mais, em termos negativos, para o sexo veio a questão do existencialismo. Não importa se é com homem ou mulher”, disse. “É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completou
Além disso, Ribeiro afirmou que universidades devem ser para poucos e que reitores de federais não podem ser “esquerdistas” ou “lulistas”. “Eu acho que reitor tem que cuidar da educação e ponto final, e respeitar quem pensa diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido A, de direita, e muito menos de esquerda”, relatou
Durante a pandemia, Milton também criticou professores que defendiam a vacinação de crianças para o retorno das aulas. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida. Agora, querem a imunização das crianças. Depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse
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Antes de virar ministro, Milton Ribeiro já colecionava uma série de polêmicas. Em uma delas, postou no canal que tinha no YouTube palestra em uma Igreja Presbiteriana, em 2016. À época, afirmou apoiar o castigo físico em crianças

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“Essa ideia que muitos têm de que a criança é inocente é relativa. Um bom resultado não vai ser obtido por meios justos e métodos suaves”, disse. Segundo ele, as crianças “devem sentir dor”. Um dia após tomar posse no Ministério da Educação, no entanto, retirou o vídeo da plataforma e, mais tarde, afirmou nunca ter falado sobre o assunto

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Em 2018, o ex-ministro afirmou que universidades incentivavam alunos a fazerem “sexo sem limites”. “Para contribuir ainda mais, em termos negativos, para o sexo veio a questão do existencialismo. Não importa se é com homem ou mulher”, disse. “É isso que eles estão ensinando para os nossos filhos na universidade”, completou

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Além disso, Ribeiro afirmou que universidades devem ser para poucos e que reitores de federais não podem ser “esquerdistas” ou “lulistas”. “Eu acho que reitor tem que cuidar da educação e ponto final, e respeitar quem pensa diferente. As universidades federais não podem se tornar comitê político de um partido A, de direita, e muito menos de esquerda”, relatou

Rafaela Felicciano/Metrópoles
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Durante a pandemia, Milton também criticou professores que defendiam a vacinação de crianças para o retorno das aulas. “Infelizmente, alguns maus professores fomentam a vacinação deles, que foi conseguida. Agora, querem a imunização das crianças. Depois, com todo o respeito, para o cachorro, para o gato. Querem vacinação de todo jeito. O assunto é: querem manter escola fechada”, disse

Isac Nóbrega/PR
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No fim de 2020, Ribeiro alegou que a nota do Enem de 2021 não poderia ser utilizada para o Sisu, Prouni ou Fies. Segundo ele, para ter acesso aos programas, era necessário utilizar notas de exames anteriores. Após manifestações contrárias, o Ministério da Educação negou as falas do chefe

Fábio Rodrigues/Agência Brasil
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Durante uma entrevista, Milton Ribeiro relacionou a homossexualidade a “famílias desajeitadas”. “Acho que o adolescente, que muitas vezes opta por andar no caminho do 'homossexualismo' (SIC), tem um contexto familiar muito próximo, basta fazer uma pesquisa. São famílias desajustadas, algumas. Falta atenção do pai, falta atenção da mãe”, afirmou

Isac Nóbrega/PR
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Em 2021, quando ainda era ministro, declarou que a inclusão de alunos com deficiências na mesma turma que alunos sem deficiências “atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tem equipe e não tem conhecimento para dar atenção especial”. Segundo ele, “existem crianças com um grau de deficiência que é impossível a convivência”

Reprodução/Tv Brasil
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No início de 2022, um áudio onde Milton Ribeiro afirma priorizar repasses da Educação a determinadas prefeituras e a pedidos do presidente Bolsonaro ganhou o noticiário. Apesar de, logo em seguida, negar a existência de irregularidades, bem como o envolvimento de Bolsonaro, Ribeiro passou a ser objeto de pedidos de investigação

Vinícius Schmidt/Metrópoles
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“Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, afirma Ribeiro em conversa gravada. “A minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, declarou o então ministro

Arthur Menescal/Especial Metrópoles

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