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Rui Costa coleciona desavenças nos 100 primeiros dias de governo Lula

Chefe da Casa Civil, Rui Costa se estranhou com Haddad e Flávio Dino e irritou um deputado a ponto de fazê-lo abandonar uma reunião com Lula

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Ministro da Casa Civil, Rui Costa, concede entrevista coletiva sobre primeira reunião ministerial do governo Lula. Ele fala diante de microfone, sentado diante de mesa - Metrópoles
1 de 1 Ministro da Casa Civil, Rui Costa, concede entrevista coletiva sobre primeira reunião ministerial do governo Lula. Ele fala diante de microfone, sentado diante de mesa - Metrópoles - Foto: Vinícius Schmidt/Metrópoles

A coleção de desavenças de Rui Costa foi a principal marca do ministro da Casa Civil nos 100 primeiros dias de governo Lula.

Colegas da Esplanada e parlamentares — incluindo os petistas — já tiveram desentendimentos com o chefe da Casa Civil. Conhecido por ser ríspido e controlador, Costa é comparado com frequência a Dilma Rousseff, mas são as grosserias do ministro que tiram os aliados do sério.

No mês passado, um bate-boca iniciado por Costa fez um deputado da base governista perder a cabeça e abandonar uma reunião com Lula.

Bruno Farias, um deputado de primeiro mandato, do Avante de Minas Gerais, contou à coluna que se irritou com Costa após ter levado uma patada dele na frente de Lula. Em uma reunião que aconteceu no hotel Royal Tulip, em Brasília, o parlamentar tratava com o presidente sobre a publicação da medida provisória (MP) para pagar o piso da enfermagem. Lula pediu para Costa ir até o encontro e explicar o andamento da MP. Foi aí que o caldo entornou.

“Ele foi grosseiro comigo. Eu apelei com ele naquele dia”, disse Farias. “O Lula pediu para chamar o Rui Costa, para ele editar a MP com urgência, porque era um compromisso de campanha. Ele foi muito grosseiro, e eu não aceitei.”

O deputado contou que decidiu abandonar a reunião com Lula após a discussão. “Fui embora, sim. Fui embora com raiva.”

Algumas reclamações em relação a Costa já haviam sido divulgadas pelas repórteres Catia Seabra e Julia Chaib, no dia 24 de março. A coluna apurou que as reuniões com Costa no Palácio do Planalto são costumeiramente tensas. O ministro estipula um limite de três minutos para os colegas falarem sobre os projetos das suas pastas. Em uma das ocasiões, o ministro das Cidades, Jader Filho, foi interrompido de forma abrupta quando o cronômetro zerou.

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, também é interrompida com frequência por Costa, segundo relatos feitos à coluna. Auxiliares de Tebet colocam panos quentes na situação e negam que o ministro tenha sido grosseiro.

Em outra reunião, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicava uma proposta com um papel de anotações na mão. Costa percebeu que Haddad havia extrapolado o tempo e tirou o papel das mãos dele, o que incomodou o chefe da equipe econômica. Haddad virou-se para Costa e falou que todos os presentes eram ministros do governo e que não aceitaria ter o raciocínio cortado ao meio.

Comenta-se no Palácio do Planalto que, certa vez, Costa não avisou a Haddad que uma reunião com empresários atrasaria. O ministro da Fazenda passou 45 minutos sentado na sala de espera antes de ir embora do Planalto, contrariado e sem participar do encontro.

O ministro da Justiça, Flávio Dino, também não engoliu a rispidez de Costa. “Quem ele acha que é para levantar a voz para mim?”, disse o ministro a um colega do Planalto. Dino falou para pessoas próximas a Lula que, se a relação com a Casa Civil não melhorar, ele cogita pedir demissão em dezembro e reassumir o mandato de senador.

O presidente Lula sorri ao lado do ministro da Casa Civil, Rui Costa, durante reunião ministerial no Planalto

“Travador-geral da República”

Na Câmara, a bancada do PT apelidou Costa de “travador-geral da República”. Os parlamentares estão incomodados com os impedimentos que a Casa Civil coloca nos acordos firmados entre a Secretaria de Relações Institucionais, de Alexandre Padilha, e os deputados que querem compor a base do governo Lula.

Costa, segundo os petistas, também não atende nem retorna ligações telefônicas — postura que, no primeiro governo Lula, gerou antipatia que terminaria por ser fatal ao então chefe da Casa Civil, José Dirceu, quando precisou de apoio político para sobreviver ao mensalão.

Na última semana, contudo, o ministro da Casa Civil amenizou a sisudez que o marcou neste início de governo. No Planalto, a mudança de postura é atribuída ao constrangimento causado pela reportagem de Seabra e Chaib.

Lula comentou com auxiliares que está ciente das reclamações sobre Costa, mas afirmou que isso não interferiu no andamento do governo até agora. O presidente está satisfeito com Costa e diz admirar o trabalho do ministro.

Quem conhece Costa da temporada no governo baiano diz que as oscilações de temperamento são de sua personalidade. O líder do governo no Senado, Jaques Wagner, fez chegar aos ministros que os períodos de calmaria com Costa costumam ter validade de um mês. Wagner também já teve relação melhor com o afilhado político.

A coluna procurou a Casa Civil para Costa comentar os casos narrados nesta reportagem, mas o ministério afirmou que não se pronunciaria. O espaço permanece aberto para manifestações.

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