Racha com PT cresce no PSB e deputados cobram reunião com direção
PSB entra em crise com divergências sobre os moldes da aliança com o PT, o que pode impactar a formação de uma chapa entre Lula e Alckmin
atualizado
Compartilhar notícia
A temperatura subiu no PSB. As divergências internas sobre a formação de uma federação com o PT se agravaram nos últimos dias e levaram os deputados do partido a criarem um grupo de WhatsApp para tratar só do tema. Eles estão pedindo uma reunião com o presidente do partido, Carlos Siqueira, para discutir o futuro das negociações.
Siqueira está de férias até o dia 15 e só retomará as conversas na próxima semana. A pressão sobre o presidente do PSB tem sido grande. Diante dos entraves com o PT, o dirigente passará a negociar uma federação com o PDT para tentar garantir uma segunda opção ao partido.
No caso mais extremo, a ruptura entre o PT e o PSB no primeiro turno poderia impactar na formação de uma chapa entre Lula e Alckmin. O PSB tem negociado a filiação do ex-governador de São Paulo, mas exige contrapartidas do PT para transformá-lo no vice. Nesta segunda-feira (11/1), Alckmin se reuniu com o presidente do Solidariedade, o deputado Paulinho da Força, para discutir a conjuntura nacional. Paulinho ofereceu a filiação ao ex-tucano.
A ala contrária à federação com o PT é formada por políticos influentes no PSB. A começar pelo prefeito do Recife, João Campos, que detém poder decisório importante dentro do partido. O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, também se opõe à aliança por acreditar que a rejeição ao PT prejudicará sua reeleição no estado.
O diretório do Rio Grande do Sul rejeita a federação com o PT por entender que poderá perder protagonismo no estado. Já o ex-governador Márcio França se posiciona de forma contrária devido à postura irredutível do PT de manter a candidatura de Fernando Haddad ao governo de São Paulo.
A maior parte da bancada de deputados é favorável à federação por entender que a aliança resolveria o problema para a eleição e por acreditar que o PSB sairia fortalecido para garantir a governabilidade em caso de vitória de Lula. Somente os deputados que apoiam a parceria participam do grupo de WhatsApp.
O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, apoia a federação porque está com dificuldades para encontrar um sucessor no estado. Câmara gostaria de deixar o cargo em abril para concorrer ao Senado, mas tem dito que terá dificuldades para transferir capital político a um candidato. Segundo ele, o apoio de Lula seria fundamental para resolver o impasse. O ex-prefeito Geraldo Júlio era o favorito para disputar o governo, mas deu entrevistas dizendo que não tem interesse em se candidatar.
Outro expoente da ala que aprova a federação é o deputado Marcelo Freixo. Pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, Freixo teme que o naufrágio da federação afaste o PT do seu projeto. Na visão do deputado, os petistas poderiam investir na candidatura própria de André Ceciliano, presidente da Assembleia Legislativa, ou firmar um acordo com Eduardo Paes para apoiar o pré-candidato do PSD, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz.
Siqueira está tentando ganhar tempo internamente e se equilibra entre as duas alas. Para quem defende a federação, o presidente do PSB afirma que a aliança se concretizará. Ao conversar com aqueles se opõem à parceira, ele diz que não abrirá mão das condições que impôs ao PT.
Em tese, a negociação com o PDT seria mais fácil de se concretizar, já que os partidos firmaram diversas alianças na eleição de 2020. A maior parte dos deputados, no entanto, teria dificuldades em declarar apoio a Ciro Gomes diante do crescimento que Lula demonstrou nas pesquisas. O acordo com o PDT seria uma forma de assegurar ao PSB uma saída de emergência para o caso de as negociações com o PT ruírem de vez.
O ministro do STF Luís Roberto Barroso estipulou em dezembro que as federações terão de ser formadas até seis meses antes da eleição, marcada para outubro. Anteriormente, os partidos poderiam acertar as alianças até a data final das convenções, que ocorrem aproximadamente dois meses antes do pleito. A decisão liminar de Barroso será analisada pelo plenário do STF na volta do recesso do Judiciário.