Quem é Marcinho VP, que relatou ao STF crise psiquiátrica na prisão
Marcinho VP está preso desde 1996 e viveu mais tempo dentro de prisões do que fora delas. Ele é pai de rapper que tem feito sucesso
atualizado
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Autor de um pedido ao STF em que descreve um “quadro enlouquecedor” no sistema penitenciário federal e diversos problemas psiquiátricos, Márcio Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, líder do Comando Vermelho, viveu até agora mais tempo dentro de cadeias do que fora delas. Atualmente com 48 anos, o traficante está atrás das grades desde 1996, quando tinha 20 anos.
Marcinho VP nasceu no bairro carioca de Vigário Geral, zona norte do Rio de Janeiro, e se mudou com a família para São João de Meriti, Baixada Fluminense, quando era criança. O pai do traficante foi assassinado durante a infância dele e a mãe dele foi presa quatro vezes, condições que fizeram com que Marcinho e os três irmãos fossem criados por uma tia.
No livro de memórias que escreveu na cadeia, “O Direito Penal do inimigo/ Marcinho VP/ Verdades e posições”, publicado em 2017, Marcinho VP relata que começou a roubar na adolescência, para “comprar roupas de marca”.
O auge dele no crime, ainda fora da cadeia, deu-se nos anos 1990, quando o traficante se tornou o chefe do tráfico no Complexo do Alemão, ponto estratégico ao Comando Vermelho no tráfico de drogas, na zona norte carioca. Ele compartilha o posto de chefão do CV com Fernandinho Beira-Mar, também preso no sistema penitenciário federal.
O poder de Marcinho VP no submundo do crime foi atestado em conversas interceptadas pela Polícia Federal entre ele e o ex-secretário de Administração Penitenciária do Rio de Janeiro Raphael Montenegro, preso em uma operação em agosto de 2021, quando ocupava o cargo no governo de Cláudio Castro.
Em um dos diálogos gravados pela PF na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná, Montenegro disse a Marcinho VP que ele talvez fosse “mais importante do que o secretário de Segurança Pública no Rio” e exaltou o “mérito” dele por seguir liderando a facção criminosa carioca.
“Hoje, você, você é um cara fundamental lá, (…) você é um cara fundamental nessa virada de cultura, você é o cara que hoje fala pela maior facção do Brasil, e assim, a gente não sabe cara, e tá tudo certo… Mérito seu a gente respeita isso, uma história que você construiu, sabe você a que custo, sabe você o quanto custou construir o nome do Marcinho VP (…) Porra, quinze anos aqui e você ainda fala pela Facção, porra, é mérito pra cacete!”, disse Montenegro ao traficante.
Preso há 16 anos no sistema penitenciário federal, Marcinho VP já passou pelos presídios de Mossoró, Catanduvas e Campo Grande, onde está detido atualmente. Como mostrou a coluna, a defesa dele alegou ao STF condições degradantes nesses presídios em uma tentativa de fazer com que o tempo de pena cumprido por ele em prisões federais seja contado em dobro no abatimento de sua pena. O traficante soma condenações a mais de 50 anos de detenção.
A defesa do líder do CV argumentou que ele passa fome na cadeia, não tem condições adequadas para tratamentos de saúde, vive restrições no contato com familiares e sofre com problemas psicológicos desde 2018. Com base em um parecer de psiquiatria forense sobre o traficante, o pedido citou “insônia”, “apatia”, “sensação de vazio”, “desmotivação”, “ansiedade” e “risco de suicídio”.
Marcinho VP é autor de três livros, “O Direito Penal do inimigo/ Marcinho VP/ Verdades e Posições” (2017), “Preso de guerra” (2022) e “Execução penal banal comentada” (2023), e ocupa a cadeira número um da Academia Brasileira de Letras do Cárcere (ABLC), que leva o nome de Graciliano Ramos.
O traficante é pai do rapper Oruam, um dos artistas mais ouvidos nas plataformas de streaming no Brasil. O cantor causou polêmica no festival Lollapalooza, em São Paulo, em março, ao vestir uma camiseta estampada com o rosto do pai, pedindo por sua liberdade. Aos 23 anos, Oruam nunca conviveu com Marcinho VP fora da prisão.
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