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Qual a religião de Jair Bolsonaro? Confusão o beneficia há tempos; análise

Bolsonaro não é claro na comunicação sobre qual é sua religião e beneficia-se da dúvida do eleitorado há anos

atualizado

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Bolsonaro vai a Igreja Sara Nossa Terra
1 de 1 Bolsonaro vai a Igreja Sara Nossa Terra - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

“Qual a religião de Jair Bolsonaro?”. Esta é uma das perguntas mais feitas ao Google com o nome do presidente. A dúvida na cabeça do brasileiro não é à toa. Bolsonaro de fato não é claro na comunicação sobre qual é sua religião. Beneficia-se dessa dúvida há anos, fazendo o eleitorado evangélico acreditar que tem no presidente um fiel como ele. E seu comportamento de fato leva à conclusão errada.

O principal episódio para gerar essa confusão ocorreu em maio de 2016, quando Bolsonaro foi abençoado pelo pastor Everaldo, anos depois preso por suspeita de corrupção, no Rio Jordão. A foto foi amplamente divulgada nas redes do então deputado sem a explicação do que se tratava exatamente. Quem viu acreditou que tratava-se de um batismo evangélico. É comum até hoje que legendas para essa foto informem que era um batismo.

Sobre a ocasião, disse Everaldo: “As pessoas não entendem que batismo não é coisa de evangélico ou católico, mas de todos que creem que Jesus é seu salvador.” A explicação, para quem a via, solucionava a dúvida. Mas e quem não viu?

Bolsonaro se aproximou da bancada evangélica devido ao projeto de lei 122, que criminalizava a homofobia, em 2006, e a que os deputados evangélicos se opuseram ferrenhamente. A parceria se renovou em 2010 no caso do kit gay. Bolsonaro percebeu ali que poderia crescer seu eleitorado se adotasse o discurso religioso.

Até então, nunca havia sido um parlamentar religioso. A pauta do Bolsonaro dos anos 1990 e dos primeiros anos do novo século era a defesa de benefícios para militares e suas famílias e o choro de viúva da ditadura, falando frases de efeito aqui e ali com o objetivo de, como ele mesmo admitiu para mim certa vez, ficar em evidência e ser percebido.

Em 2011, em entrevista à revista Veja, Bolsonaro discorreu sobre sua visão da separação entre Igreja e Estado e contou que, embora católico, frequentou uma igreja evangélica. “O Estado é laico, mas seu povo, não. A religião é fato de união dos povos e não pode ser dissociada da família, dos bons costumes e da moralidade. Acredito em Deus, essa é a minha religião. Sou um católico que, por 10 anos, frequentou a Igreja Batista.”

Essa visão torta sobre a laicidade do Estado fundamentou a indicação do “terrivelmente evangélico” André Mendonça ao STF, promessa que Bolsonaro fez espontaneamente, sem que lhe fosse pedido, e que fez pastores que pensam da mesma maneira se empenharem tanto para a marcação da sabatina e a posterior aprovação. Daí a falta de pudor de Mendonça em abertamente se credenciar como um evangélico no Supremo, quase admitindo que chegou lá não por seu currículo, mas por sua religião — e uma extensa lista de servicinhos prestados a Bolsonaro quando ministro da Justiça e advogado-geral da União.

A defesa da pauta de costumes reacionária também ecoa entre os evangélicos mais conservadores. Embora não tenha conseguido implementar nada do que prometeu nessa seara, Bolsonaro segue a defendendo e animando a torcida que roda na mesma sintonia.

Tem dado certo. O eleitorado evangélico também reprova seu governo, mas a taxas bem mais suaves do que as de católicos ou de integrantes de outras religiões. A última pesquisa Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, mostrou que 38% do eleitorado evangélico considera seu governo ruim ou péssimo e 37% o avaliam como ótimo ou bom. Entre os católicos, o ruim ou péssimo é de 56% e o ótimo e bom é de 23%. Entre fiéis de outras religiões, 70% consideram o governo ruim ou péssimo e apenas 13% o avaliam como ótimo e bom.

Não vale a pena para Bolsonaro, ainda mais em campanha pela reeleição, esclarecer qual sua religião. O brasileiro ainda vai ter que recorrer muito ao Google.

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