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Principal jornal da Rocinha corre risco de fechar por falta de investimento

“Nós assumimos o papel de fazer alguma coisa pela comunidade, de promover uma transformação”, diz fundador do jornal

atualizado

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Rocinha
1 de 1 Rocinha - Foto: Aline Massuca/ Metropoles

O Fala Roça, principal jornal da Rocinha, a favela carioca que é considerada a maior da América Latina, corre risco de fechar no fim deste ano por falta de dinheiro. O veículo de comunicação existe há nove anos e tem como objetivo, além de informar gratuitamente a população da Rocinha, promover ajuda humanitária para a favela. 

O jornal, que funciona como uma associação de comunicação sem fins lucrativos, conseguiu ajudar mais de 17 mil famílias da Rocinha durante o auge da pandemia. O fundador da publicação, Michel Silva, jornalista nascido na comunidade e formado na PUC-Rio, defendeu o papel que o jornal tem para os moradores. “Nós assumimos o papel de fazer alguma coisa pela comunidade, de promover uma transformação”.

Michel Silva fundou o Fala Roça em 2012. | Foto: Aline Massuca/Metrópoles

Em 2020, devido à atuação humanitária na comunidade, o jornal conseguiu um investimento que tem duração somente até outubro deste ano. Pela primeira vez, o Fala Roça pôde pagar salários e triplicar o número de funcionários. Antes, o jornal era tocado apenas por Silva e sua irmã, a jornalista Michelle Silva, além dos que trabalhavam “por amor”, como ela diz. 

“Nós trabalhamos por oito anos de graça. Eu, meu irmão e alguns repórteres colaboradores. Sempre foi por amor. Agora, nós temos seis repórteres e podemos dar algum tipo de retorno financeiro a todos”, contou Michelle Silva, que atua como diretora do jornal. 

Rocinha
Michelle Silva, diretora do Fala Roça, entregando jornais na comunidade. | Foto: Kita Pedroza

O investimento do último ano botou o Fala Roça em outro patamar quando o assunto é jornalismo de favelas e independente. Atualmente, o jornal disputa editais de investimento com veículos como Folha de S.Paulo, o que dificulta, muitas vezes, que o Fala Roça receba apoio. Ainda assim, Michelle Silva enxerga o copo meio cheio.

“É muito gratificante saber que estamos ocupando esses espaços, que o nosso jornalismo de favela está disputando com grandes veículos da mídia hegemônica. Muitas vezes batemos na trave, não estamos longe”, disse a jornalista, esperançosa. 

No ano passado, o jornal conseguiu manter a periodicidade da circulação do impresso a cada dois meses. Antes, a distribuição era irregular devido aos custos e à verba insuficiente. Os irmãos consideram a distribuição do Fala Roça na comunidade um dos pilares do veículo, daí importância de manter a edição impressa. 

“Foi distribuindo o jornal de porta em porta que conseguimos criar um sentimento de pertencimento e identidade da comunidade com o Fala Roça. Além disso, o 4G não pega em muitos pontos da Rocinha, muitas pessoas não têm banda larga em casa e não têm o hábito de consumir notícias online”, explicou Michelle.

Os irmãos Michel e Michele Silva entregando exemplares do Fala Roça na Rocinha. | Foto: Kita Pedroza

O veículo já produziu diversas reportagens que tiveram grande repercussão na cidade e geraram mudanças na comunidade. Entre elas está o furo da instalação de um tomógrafo dentro de uma Igreja Universal do Reino de Deus na Rocinha durante o governo de Crivella, e a divulgação de que muitos moradores não estavam tomando a segunda dose da vacina contra a Covid-19 por causa de fake news.

“A reportagem dizendo que moradores estavam deixando de tomar a segunda dose gerou uma reação da Câmara dos Vereadores para que houvesse uma campanha de conscientização e informação dentro da favela sobre a vacina”, contou Michel.

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Exemplar do Fala Roça sobre espera por vacinas na favela. | Foto: Bruna Lima

Além de lutar por investimentos, o jornal tem a árdua e infindável missão de quebrar estigmas de marginalização e associação à criminalidade. Muitas reportagens têm o objetivo de contar somente histórias do cotidiano da favela, que não é só crime e miséria.

Na próxima semana, o jornal irá formar mais uma turma de comunicadores comunitários. O curso, feito em parceria com a Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UERJ, tem participação de vinte moradores que passaram por um processo seletivo para estarem lá. Os irmãos observam que essas oficinas são uma forma de empoderar esses moradores por meio da comunicação. 

“O nosso trabalho é sobre inspirar, aumentar o número de conscientizadores na favela. Quando você vê o seu vizinho, em um patamar de igualdade, falando que nem tudo está perdido dentro da comunidade, as pessoas acreditam mais”, disse Michelle Silva.

Citando o escritor Marco Morel no livro “Jornalismo Popular nas Favelas Cariocas”, Michel Silva se entusiasma sobre a missão do jornal: “Por trás dessas folhinhas pode estar, viva e palpitante, a História de um povo”. 

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