PRF ignorou abordagens violentas em relatório sobre direitos humanos
Dois meses após relatório, policiais rodoviários sufocaram Genivaldo de Jesus até a morte em viatura da PRF
atualizado
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Mesmo após denúncias do uso de “câmara de gás” por diversas polícias em todo o país, o tema da violência na abordagem policial não mobilizou a Polícia Rodoviária Federal (PRF) ao longo de 2021, apontou um relatório sobre ações de direitos humanos da corporação. O documento que pretendia ser um guia para aprimorar a ação policial não traz uma linha em relação ao tema.
O relatório, que analisou todo o ano passado, foi enviado ao comando da PRF em março, dois meses antes de policiais rodoviários sufocarem o homem negro Genivaldo de Jesus até a morte em uma viatura. O material foi produzido por João Gabriel Dadalt, chefe do Serviço de Direitos Humanos da PRF. A área é subordinada à Diretoria de Operações, que cuida da atividade policial.
Até então, o método ilegal “câmara de gás” havia sido usado ao menos 24 vezes por policiais de diversas corporações em onze estados, como mostrou o repórter Tácio Lorran. O procedimento consiste em usar spray de pimenta para sufocar pessoas, inclusive dentro de veículos oficiais.
O relatório citou capacitação, visitas técnicas e até operações policiais. Nenhuma seção tratou da tortura ou da abordagem policial violenta. A maioria das ações trata do combate à exploração sexual de crianças e adolescentes e ao trabalho escravo.
O método “câmara de gás” foi usado pela PRF contra Genivaldo de Jesus no final de maio. Policiais rodoviários federais mataram Genivaldo em Umbaúba (SE) durante uma abordagem policial. O homem foi sufocado até a morte depois de ser trancado no porta-malas de uma viatura da PRF, onde foram jogados spray de pimenta e bombas de gás.