Prefeitura quer que candidato de Bolsonaro em Angra devolva dinheiro
Relatório aponta falhas em prestação de contas de patrocínio a evento organizado por aliado de Bolsonaro, que nega irregularidades
atualizado
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Um relatório da Prefeitura de Angra dos Reis recomendou em dezembro que o candidato apoiado por Jair Bolsonaro na disputa municipal na cidade, Renato Araújo, do PL, devolva R$ 486 mil aos cofres públicos em razão de supostas falhas na prestação de contas de um patrocínio da Prefeitura a um campeonato de jet skis organizado por uma empresa dele. Araújo negou irregularidades.
Produzido pela Controladoria-Geral do município, o relatório de auditoria sugeriu a devolução do montante diante da “não comprovação legal das despesas” da 4ª etapa do Campeonato Mundial de corrida de jet ski, o Jet Raid, realizada em Angra em setembro de 2022. O caso foi enviado ao Ministério Público do Rio de Janeiro no começo deste mês.
A Renato de Araújo Correa Ltda, empresa do bolsonarista que organizou o evento, recebeu R$ 650 mil em patrocínio da Prefeitura, por meio da Secretaria de Eventos.
Segundo o relatório, “parte das despesas foram realizadas de acordo com o plano inicial, porém outra parte foi utilizada fora do plano de aplicação sem prévia autorização, o que vai de encontro com as normas que regem o patrocínio”.
Assinado em dezembro pela superintendente de auditoria interina da Controladoria, Camila Cordeiro do Rosário, o documento citou despesas pagas e não orçadas na planilha inicial do projeto, a exemplo de R$ 244 mil desembolsados aos “donos” do campeonato de jet skis. A Controladoria disse ter pedido esclarecimentos sobre a despesa, mas ficado sem resposta (veja abaixo o que diz o empresário).
Entre os problemas na prestação de contas, o relatório também apontou discrepância de valores e insuficiência de documentos a respeito de despesas com hospedagens de participantes do campeonato. Conforme a planilha apresentada no relatório, R$ 350 mil foram disponibilizados para essas despesas e o valor usado foi de R$ 202 mil.
O documento afirmou que, no final de outubro, a empresa de Renato Araújo havia pedido mais 20 dias para responder a questionamentos da Prefeitura, mas não apresentou os esclarecimentos até a elaboração do relatório.
O que diz o aliado de Bolsonaro
Procurado, o empresário Renato Araújo, pré-candidato à Prefeitura de Angra dos Reis, negou irregularidades na prestação de contas. Araújo disse que sua empresa tratava diretamente com a Secretaria de Eventos e só soube do relatório da Controladoria de Angra dos Reis após o contato da coluna.
Ele afirmou ter apresentado todos os documentos solicitados pela Prefeitura “rigorosamente dentro do prazo” e atribuiu as conclusões do documento às movimentações políticas para a próxima eleição.
“Se houve falha da comunicação, foi entre a própria Secretaria de Eventos e a Controladoria do município”, disse Araújo. “Em nenhum momento recebemos quaisquer documentos por questionamentos da Controladoria”, declarou.
Candidato de Bolsonaro
Empresário do ramo da construção civil em Angra dos Reis, cidade onde Jair Bolsonaro tem uma casa de veraneio, Renato Araújo tem a pré-candidatura à Prefeitura da cidade apoiada pelo ex-presidente.
Bolsonaro e o senador Flávio Bolsonaro, seu filho, participaram do evento que lançou Araújo à disputa municipal pelo PL, no último sábado (27/1). Embora Bolsonaro e Araújo sejam do mesmo partido do atual prefeito, Fernando Jordão, ele não apoiou o empresário encampado pelo ex-presidente.
Jair Bolsonaro estava na cidade da Costa Verde fluminense na segunda-feira (29/1), quando a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão contra o vereador carioca Carlos Bolsonaro. A casa da família em Angra foi alvo da batida da PF, além de outros endereços, como o gabinete de Carlos na Câmara Municipal e a casa da família no condomínio Vivendas da Barra, na Zona Oeste do Rio.
Quando os policiais chegaram à casa dos Bolsonaro na cidade, o ex-presidente, o vereador, Flávio e amigos não estavam no local. Eles haviam saído logo cedo para pescar a bordo de uma lancha e dois jet skis, um amarelo e um azul. Quando o grupo voltou à casa, chamou a atenção dos policiais que apenas um dos jet skis, o azul, retornou.
Como noticiou o repórter Arthur Guimarães no Metrópoles, a PF investiga se o jet ski faltante foi usado para transportar e esconder, em propriedades de conhecidos na região, provas ou materiais suspeitos. Conforme publicou o colunista Igor Gadelha, a moto aquática faltante pertence a Renato Araújo.