Polícia do RJ teve relação com 21% dos registros de ocorrência com mortes em 2021
Policiais tem relação com um a cada cinco registros com vítimas letais do estado do Rio de Janeiro até julho deste ano
atualizado
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Um a cada cinco registros de ocorrência de mortes no estado do Rio de Janeiro até julho deste ano tiveram envolvimento de policiais civis ou militares. Dados da Secretaria Estadual de Polícia Civil obtidos pela coluna via Lei de Acesso à Informação mostram que dos 2.510 registros que resultaram em vítimas letais, 532 —aproximadamente 21% — tiveram envolvimento ou autoria de policiais civis ou militares.
Como em cada registro de ocorrência pode ser apontada mais de uma morte, o universo de 532 registros de ocorrência que acabaram em mortes provocadas por agentes do Estado foram registradas cerca de 959 vítimas.
O sociólogo José Ignácio Cano, especialista em segurança pública, chamou atenção para o uso excessivo da força no estado do Rio de Janeiro. “Enquanto a população continuar elegendo políticos que falam que bandido bom é bandido morto e defendendo tiro na cabecinha, isso não vai mudar”, disse Cano.
Cano explica que o número aceitável de envolvimento de policiais com mortes é de 5% a 10%. O Rio de Janeiro tem o dobro apenas nos registros, quem dirá no número de vítimas.
Além disso, em determinadas áreas do estado é possível perceber que violência policial é muito contrastante em relação a outras. A Baixada Fluminense, por exemplo, tem o maior número de registros com vítimas letais e com envolvimento de policiais. Atrás está a Zona Norte do município.
Para Cano, esse número é explicado pela dinâmica de poder dos territórios do estado e pela ausência do olhar público “além violência” para essas áreas. “Historicamente, a Zona Oeste do Rio de Janeiro é liderada por milícias, policiais não trocam tiros com milicianos. Na Zona Sul, seria inadmissível ter tiroteios em bairros caros”.
De todos os registros com vítimas letais que têm policiais como autores, apenas 56, em todo o estado, foram registrados como homicídios dolosos. A grande maioria é registrada como “morte por intervenção de agente do Estado”. Cano explica que a prática de “autos de resistência”, que são mortes por intervenção de agente do Estado, foi criada na ditadura militar e justifica e inocenta crimes policiais até hoje.
“A terminologia mudou, mas a prática é a mesma. Uma pessoa que é morta por um policial é automaticamente considerada criminosa e as chances de uma investigação que irá incriminar o policial autor da ação são quase nulas”, disse o sociólogo.