A leniência do Spotify com a propagação de mentiras sobre a pandemia se tornou assunto nesta semana. O cantor Neil Young exigiu a retirada do seu catálogo de álbuns da plataforma em protesto contra a decisão do aplicativo de manter no ar um programa do apresentador Joe Rogan que continha desinformações sobre vacinas.
Rogan, dono do podcast mais ouvido do Spotify, afirmou em um episódio que as vacinas contra a Covid-19 não são necessárias.
Em 28 de outubro de 2020, o site bolsonarista Senso Incomum publicou um episódio no podcast Guten Morgen com o título “A vachina não é uma vacina”. No programa, o escritor Flavio Morgenstern diz ser “uma pessoa vacinada”, mas que não irá “tomar essa porcaria dessa vacina” contra a Covid-19. Morgenstern afirma que a “vacina chinesa” da Sinovac é um “veneno”.
“Eu sou contra a vacina chinesa, a vacina de Oxford, sobretudo porque elas não são vacinas”, disse o escritor, que em certo momento chamou as pessoas que aceitariam o imunizante de “cobaias”. O programa dura mais de duas horas.
No dia 21 de abril de 2021, o apresentador Gilberto Barros, do podcast Rugido do Leão, fez uma defesa de tratamentos que são comprovadamente ineficazes contra a Covid-19. No programa, intitulado “Vacina só não basta!”, ele diz que “inalação de bicarbonato [serve] para tornar a região do pulmão salinizada”.
“Ela fica mais alcalina, insuportável para que sobreviva o Sars Cov 2, a praga da China, se é que ela existe”, declarou. Em edição mais recente do podcast, Barros criticou a exigência do passaporte vacinal, mas indicou que tomou duas doses da vacina da Pfizer.
O podcast 4talkcast levou em 28 de outubro de 2021 a deputada federal Bia Kicis para ser entrevistada. Kicis mentiu que imunizantes são responsáveis pelo surgimento de variantes da Covid-19. “[O vírus] vai para uma mutação porque está tendo muitas pessoas vacinadas”, disse. Ela admitiu não estar vacinada.
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Diante do cenário de pandemia e da ampliação da dose de reforço, algumas pessoas ainda se perguntam qual é a importância da terceira dose da vacina contra a Covid-19
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A dose de reforço deve ser administrada com um intervalo mínimo de quatro meses após o indivíduo completar o esquema vacinal inicial. A aplicação extra serve para aumentar a quantidade de células de memória e fortalecer, ainda mais, os anticorpos que elas produzem
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Especialistas destacam que uma das principais medidas proporcionadas pela dose de reforço consiste na ampliação da resposta imune. A terceira dose ocasiona o aumento da quantidade de anticorpos circulantes no organismo, o que reduz a chance de a pessoa imunizada ficar doente
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Aos idosos e aos imunossuprimidos, a dose de reforço amplia a efetividade da imunização, uma vez que esses grupos não desenvolvem resposta imunológica adequada
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Outra medida importante é a redução da chance de infecção em caso de novas variantes. O anticorpo promovido pela vacina é direcionado para a cepa que deu origem à fórmula e, nesse processo, as pessoas também produzem anticorpos que possuem diversidade. Quanto maior o alcance das proteínas que defendem o organismo, maior é a probabilidade que alguns se liguem à variante nova
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O diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) e membro do Comitê Técnico Assessor do Programa Nacional de Imunizações do Ministério da Saúde, Renato Kfouri afirma que o esquema de mistura de vacinas de laboratórios diferentes é uma
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Um estudo conduzido pela University Hospital Southampton NHS Foundation Trust, no Reino Unido, mostrou que pessoas que receberam duas doses da AstraZeneca tiveram um aumento de 30 vezes nos níveis de anticorpos após reforço da vacina da Moderna, e aumento de 25 vezes com o reforço da Pfizer
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As reações à dose de reforço são semelhantes às duas doses anteriores. É esperado que ocorram sintomas leves a moderados, como cansaço excessivo e dor no local da injeção. Porém, há também relatos de sintomas que incluem vermelhidão ou inchaço local, dor de cabeça, dor muscular, calafrios, febre ou náusea
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Vale ressaltar que o uso de três doses tem o principal objetivo de diminuir a quantidade de casos graves e o número de hospitalizações por Covid-19
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Em outro podcast, intitulado Fábio Sousa Com Você, o pastor e ex-deputado Fábio Sousa publica entrevistas com pessoas que ganharam fama na direita. Em 7 de dezembro de 2021, a médica Raíssa Soares contou que costuma dizer aos pais de crianças que vacinas podem causar efeitos colaterais, como miocardite.
Ela também faz campanha contra o passaporte vacinal. “Por que eu vou obrigar as pessoas a tomarem uma vacina que não impede a doença?”, afirmou. “Quem não quer vacinar, não vacine. Não precisa se vacinar.”
O jornalista Alexandre Garcia, em 16 de dezembro de 2021, deu a entender no programa que o cantor Maurílio havia sofrido um tromboembolismo pulmonar por ter se vacinado. O sertanejo morreu no dia 29 de dezembro. “Não estou atribuindo à vacina, mas estou falando que temos casos de meninos recebendo massagem cardíaca nas escolas. Nunca tantos jovens tiveram AVC e problemas de trombose pulmonar e ataque cardíaco. Tenho muito medo e acho que isso é uma responsabilidade gigantesca da Anvisa”, afirmou Garcia, sem apresentar provas sobre o que estava falando.
Garcia declarou que não se vacinará e criou teorias conspiratórias sobre a campanha de imunização infantil. “Mexeram na genética dessas crianças, já que essa vacina tem essa influência. Você não sabe o que vai acontecer quando chegar a idade de procriação”, declarou.
Em 27 de dezembro de 2021, Fábio Sousa recebeu no programa o infectologista Francisco Cardoso. O médico disse que o governo de Israel vacinou a população à força e fez uma comparação relativizando o Holocausto. “Imagina que incoerência? Israel propondo isolar em guetos [os não vacinados], ou sei lá, eles vão trocar o nome para não ter lembranças históricas, mas na prática é isso”, declarou.
Cardoso também mentiu ao ser questionado por Fábio Sousa sobre a necessidade de vacinar pessoas que contraíram a Covid-19. “Não precisa. Isso é mentira, é uma narrativa política que está sendo imposta para forçar todo mundo a tomar a vacina”, disse. Por fim, o médico afirmou falsamente que as vacinas para crianças estão “sob suspeita”.
Em todos os casos, Fábio Sousa não desmentiu os entrevistados e se limitou, ao final das conversas, a orientar os ouvintes a procurarem um médico caso apresentem sintomas.
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A Anvisa aprovou, em 16 de dezembro, a aplicação do imunizante da Pfizer em crianças de 5 a 11 anos. Para isso, será usada uma versão pediátrica da vacina, denominada Comirnaty
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A vacina é específica para crianças e tem concentração diferente da utilizada em adultos. A dose da Comirnaty equivale a um terço da aplicada em pessoas com mais de 12 anos
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A tampa do frasco da vacina virá na cor laranja, para facilitar a identificação pelas equipes de imunização e também por pais, mães e cuidadores que levarão as crianças para receberem a aplicação do fármaco
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Desde o início da pandemia, mais de 300 crianças entre 5 e 11 anos morreram em decorrência do coronavírus no Brasil
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Isso corresponde a 14,3 mortes por mês, ou uma a cada dois dias. Além disso, segundo dados do Ministério da Saúde, a prevalência da doença no público infantil é significativa. Fora o número de mortes, há milhares de hospitalizações
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De acordo com a Fiocruz, vacinar crianças contra a Covid é necessário para evitar a circulação do vírus em níveis altos, além de assegurar a saúde dos pequenos
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Contudo, desde o aval para a aplicação da vacina em crianças, a Anvisa vem sofrendo críticas de Bolsonaro, de apoiadores do presidente e de grupos antivacina
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Para discutir imunização infantil, o Ministério da Saúde abriu consulta pública e anunciou que a vacinação pediátrica teria início em 14 de janeiro. Além disso, a apresentação de prescrição médica não será obrigatória
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Inicialmente, a intenção do governo era exigir prescrição. No entanto, após a audiência pública realizada com médicos e pesquisadores, o ministério decidiu recuar
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De acordo com a pasta, o imunizante usado será o da farmacêutica Pfizer e o intervalo sugerido entre cada dose será de oito semanas. Caso o menor não esteja acompanhado dos pais, ele deverá apresentar termo por escrito assinado pelo responsável
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Além disso, apesar de não ser necessária a prescrição médica para vacinação, o governo federal recomenda que os pais procurem um profissional da saúde antes de levar os filhos para tomar a vacina
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Segundo dados da Pfizer, cerca de 7% das crianças que receberam uma dose da vacina apresentaram alguma reação, mas em apenas 3,5% os eventos tinham relação com o imunizante. Nenhum deles foi grave
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Países como Israel, Chile, Canadá, Colômbia, Reino Unido, Argentina e Cuba, e a própria União Europeia, por exemplo, são alguns dos locais que autorizaram a vacinação contra a Covid-19 em crianças
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Nos Estados Unidos, a imunização infantil teve início em 3 de novembro. Até o momento, mais de 5 milhões de crianças já receberam a vacina contra Covid-19. Nenhuma morte foi registrada e eventos adversos graves foram raros
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A decisão do Ministério da Saúde de prolongar o intervalo das doses do imunizante contraria a orientação da Anvisa, que defende uma pausa de três semanas entre uma aplicação e outra para crianças de 5 a 11 anos
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Ao responder a Neil Young, o Spotify disse ter uma “grande responsabilidade em balancear a segurança dos ouvintes com a liberdade dos criadores”. A empresa afirmou que tem “políticas de conteúdo detalhadas” e que excluiu 20 mil episódios de podcasts relacionados à Covid-19 desde o início da pandemia.
Procurado, o Spotify Brasil não respondeu à coluna. O espaço está aberto para manifestações.
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