Pintor leva crítica às redes sociais a MAC de Niterói
Após anos vendendo quadros impressionistas nas ruas e trabalhando como programador, Gabriel Grecco estreia exposição sobre redes sociais
atualizado
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Após anos vendendo quadros impressionistas nas ruas de Niterói (RJ), o pintor Gabriel Grecco estreou no Museu de Arte Contemporânea da cidade uma exposição sobre os problemas causados pelas redes sociais na sociedade. Em suas telas, Grecco expõe, “de forma imediata”, como gosta de definir, o impacto delas no mundo.
O “imediatismo” foi a palavra que baseou a produção de Grecco em “Stories verídicos”, que estreou no dia 26 de agosto e ficará aberta ao público até o 26 de novembro.
“As minhas obras trazem tudo que você precisa ver ali, na tela, porque o mundo imediato que a gente vive hoje pede isso. As pessoas não precisam passar horas encarando meus quadros para entenderem e tirarem algo deles e, ao ser confrontado com esse imediatismo, o problema das redes sociais se materializa ali. A superficialidade, a rapidez, o excesso de informação”, disse o artista em entrevista à coluna.
Antes de vender quadros, Grecco foi programador de sites e sua principal função era criar interfaces que fizessem os usuários passar mais tempo na página. Sua experiência por trás da tecnologia e na manipulação do uso delas gerou o sentimento de problematização presente em sua primeira exposição.
Leia abaixo os principais trechos da entrevista de Grecco à coluna.
O que serviu de inspiração para Stories Verídicos?
Eu trabalhei muito tempo com tecnologia, como programador. Nos anos 2000, eu era responsável por construir um site onde as pessoas ficassem cada vez mais tempo e chegou uma hora em que falei para mim mesmo: “Uma hora isso aí [tecnologia] vai dar m…”. Isso foi ficando na minha cabeça até depois de eu ter largado esse trabalho e decidido me dedicar à minha banda e sossegar na arte. O tema da tecnologia foi vindo de forma muito natural e eu comecei a ter a necessidade de pintar o mundo como é hoje: artes rápidas como um post na internet.
Você é chamado de superficial pela crítica por pintar obras com informações e mensagens imediatas?
Eu gosto do debate. A gente está em 2023 e eu não acho que a única forma de arte tem que ser a mesma de 1800. Eu não quero que as pessoas parem em frente à minha obra e foquem em entender as múltiplas camadas dela. Ao não fazer com que as pessoas tenham que extrair essas camadas escondidas, a minha obra causa o incômodo do imediatismo, do superficial, como o mundo de hoje em dia e, assim, ela cumpre o objetivo.
Ao mesmo tempo que você tem quadros onde o conteúdo está todo ali, você tem o espelho com a mulher chorando (foto 1) que abre a exposição. Por que você começa Stories Verídicos com ela e por que ela difere dos outros quadros?
Essa obra eu fiz em um momento bem “deprê”. E, nesse momento, as coisas não estavam dando certo na minha vida, eu estava precisando de grana, mas nada funcionava. A moldura dessa obra é do espelho que eu usava para me barbear e, nesse dia, eu estava me olhando, fazendo a barba e eu deixei ele cair no chão e ele quebrou inteiro. Quando eu peguei do chão e fiquei olhando aquela moldura sem nada, eu fiquei viajando e pintei a menina chorando. Acho que naquele momento eu me imaginava assim. E o espelho tem o formato de um story de Instagram.
Em outras obras, você pinta pessoas com emojis em banheiros. Qual o significado disso?
Para mim, o banheiro é o lugar onde você fica mais vulnerável, onde você é mais real. Então os azulejos de banheiro nas obras [foto 2], com o homem com um sorriso desesperado por likes, por fingir felicidade, mostram a realidade, que ele não está feliz, ele está em desespero.