PF complica empresário que ganhou R$ 5 mi da campanha de Bolsonaro
Sebastião Figueiroa destruiu provas e deu benefícios indevidos a ex-secretário, diz PF em relatório final; defesa nega
atualizado
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O empresário Sebastião Figueiroa, dono da Unipauta, gráfica que recebeu R$ 5 milhões da campanha de Jair Bolsonaro em 2022, foi acusado pela Polícia Federal (PF) de destruir provas antes de uma operação policial e de dar benefícios indevidos a um ex-secretário do governo de Pernambuco. O relatório final da investigação foi enviado à Justiça em setembro do ano passado e vem sendo analisado pelo Ministério Público Federal.
A PF investigou supostas relações ilegais de Figueiroa com o ex-secretário de Projetos Estratégicos de Pernambuco Renato Thiebaut, na gestão Paulo Câmara, do PSB, encerrada em 2022. A apuração envolveu três operações policiais desde 2020: Casa de Papel, Articulata e Payback. Os advogados de Figueiroa negaram irregularidades.
De acordo com o relatório, os policiais federais se surpreenderam ao cumprir um mandado de busca contra Figueiroa em dezembro de 2020, para apurar supostas irregularidades em licitações durante a pandemia. Não conseguiram apreender qualquer celular ou computador do empresário em sua casa, o que, conforme a PF, demonstrou o vazamento da operação autorizada pelo Tribunal Regional Federal da 5ª Região.
“Não sendo crível que, no mundo moderno, em que a comunicação — seja ela digital ou telefônica — mais do que uma necessidade é um verdadeiro imperativo, notadamente diante do poder social e aquisitivo ostentado por Sebastião Figueiroa, ele não possua sequer um único aparelho telefônico ou tampouco se valha de outros meios eletrônicos como forma de comunicação”, afirmou a PF, completando: “Pouquíssimo provável que se trate de uma infeliz coincidência”.
Além da apreensão frustrada no apartamento de Figueiroa, a PF estranhou que o advogado do empresário havia chegado ao local em poucos minutos. A mulher do empresário alegou que havia visto da varanda os policiais entrando no prédio, às 6h da manhã. A polícia tampouco conseguiu apreender itens relevantes na casa de Renato Thiebaut, então secretário do governo pernambucano, segundo o relatório.
Na visão da PF, Figueiroa e Thiebaut tinham uma relação indevida: Figueiroa pagou uma reforma em uma casa de campo do então secretário, além de ter alugado um imóvel para Thiebaut, em 2019.
Durante a campanha eleitoral de 2022, a gráfica de Figueiroa foi a que mais recebeu dinheiro da campanha de Bolsonaro. Foram R$ 5 milhões por propagandas em bandeiras, adesivos e cartazes. A Unipauta também auferiu R$ 1,8 milhão com a campanha Gilson Machado, ex-ministro de Bolsonaro, que não se elegeu ao Senado. Essas duas campanhas deram à Unipauta metade de todo o faturamento naquela disputa eleitoral.
Por causa de outro processo, desta vez na Justiça estadual, Figueiroa ficou preso entre novembro do ano passado e fevereiro de 2024, por suspeita de fraudar licitações do governo. Desde então, usa tornozeleira eletrônica.
Procurado, o advogado de Sebastião Figueiroa, Eduardo Trindade, afirmou: “A defesa afirma a inocência de Figueiroa, que não teve nenhum relacionamento que não fosse institucional e republicano com qualquer autoridade. Nunca houve destruição de provas. A PF pediu a prisão preventiva de Figueiroa com base nessa suposição, o que a Justiça negou em duas instâncias. A prisão de novembro do ano passado foi baseada em uma auditoria preliminar do Tribunal de Contas estadual que foi rechaçada pelo plenário”.
A defesa de Figueiroa disse também que não houve qualquer irregularidade na prestação de serviço para a campanha de Bolsonaro em 2022. “As gráficas do grupo familiar prestam serviços a campanhas eleitorais há décadas. Não há nenhuma irregularidade em nenhum contrato, seja com Jair Bolsonaro ou um vereador do interior”.
Procurado, Renato Thiebaut não respondeu. O espaço segue aberto a eventuais manifestações.