Os negócios do chefe da Polícia Civil do Rio de Janeiro
Atividades profissionais do secretário da Polícia Civil do Rio de Janeiro, Marcus Amim, não se limitam à polícia e à carreira na televisão
atualizado
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Em outubro do ano passado, em meio a uma das piores crises de Segurança Pública do Rio de Janeiro, com médicos executados e dezenas de ônibus incendiados, a nomeação de um desconhecido delegado para comandar a Polícia Civil foi recebida com surpresa no estado. Pressionado por deputados estaduais, o governador Cláudio Castro nomeou naquele mês o desconhecido delegado Marcus Amim, com 12 anos de polícia no currículo, nos quais não conduziu grandes investigações e se dividiu entre delegacias e a função de comentarista de segurança do SBT. As atividades profissionais de Amim, porém, não se limitam à polícia e à carreira na TV. A coluna identificou a existência de empresas no nome do secretário, que se recusou a informar quais são os serviços prestados por elas.
O sigilo em torno das empresas não é o único fato atípico na trajetória de Amim. O delegado só conseguiu assumir o cargo de secretário de Polícia Civil após o governador Cláudio Castro mexer no texto da Lei Orgânica da corporação, que exigia o mínimo de 15 anos de experiência para se tornar chefe da instituição. A alteração foi aprovada com folga na Assembleia Legislativa, já que sua indicação havia sido chancelada por deputados estaduais.
Amim tem duas consultorias e uma loja de conveniência, todas em sociedade com alguém, seja um familiar ou um amigo. Numa das consultorias, a Fernandes Consultoria, Amim tem como sócio o inspetor de polícia Christiano Gaspar Fernandes, filho de Ricardo Afonso Fernandes, o Afonsinho, policial aposentado que foi apontado como chefe de uma milícia em Ramos, bairro da zona norte do Rio de Janeiro. Christiano e Afonsinho foram presos juntos em 2011, na Guilhotina, investigação da Polícia Federal que prendeu mais de 40 policiais suspeitos de vender para a milícia armas apreendidas. Anos depois, em 2017, os dois foram absolvidos.
À coluna, Christiano não quis dizer qual é o tipo de consultoria que ele e Amim prestam, limitando-se a informar que a empresa emite notas e presta “todo tipo de serviço”. O chefe de polícia tampouco quis contar quais seriam esses serviços e, por meio da assessoria da Polícia Civil, disse que não falaria sobre “assuntos pessoais”.
Amim também não quis dizer qual serviço presta em sua outra empresa, a Mamim Soluções, da qual é sócio de sua mãe e de sua esposa. O registro dessa empresa apontava Amim e sua esposa como sócios-administradores, o que é vetado pela lei de conduta dos servidores.
Após ser questionado pela coluna sobre o fato de ser sócio-administrador de sua empresa, mesmo que a prática seja vedada por lei, Amim alegou, por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, que teria apresentado documentos que comprovam que é apenas sócio da Mamim Soluções e que haveria “um erro” no cadastro da Receita Federal. Os documentos que provariam o erro foram requisitados pela coluna, mas a corporação e o secretário não quiseram apresentá-los. No dia seguinte, o cadastro do órgão público federal apareceu com Amaly Amim como sócia-administradora e os nomes do delegado e de sua mulher constavam apenas como sócios.
Fora o sigilo das atividades que prestam, a Mamim Soluções e a Fernandes Consultoria têm outras características em comum. Ambas foram abertas no mesmo dia, em 11 de janeiro de 2023; funcionam no mesmo endereço, mesmo telefone e mesmo e-mail; e têm descrições genéricas na Receita Federal sobre quais seriam suas atividades.
Como atividade principal, as consultorias informaram praticar “outras atividades profissionais, científicas e técnicas não especificadas anteriormente” e, como atividade secundária, “serviços combinados de escritório e apoio administrativo”.
O que dizem os citados
Procurado diversas vezes, Marcus Amim não retornou a nenhum contato da coluna. A Secretaria de Polícia Civil do Rio disse que não iria se manifestar sobre os negócios pessoais do secretário.
A defesa de Ricardo Afonso Fernandes, pai de Christiano Gaspar Fernandes, afirmou que Afonsinho foi absolvido de todas as acusações, e que o processo referente a essa operação foi extinto. Christiano também frisou ter sido absolvido no caso decorrente da Guilhotina.
Christiano Gaspar Fernandes informou que, assim como o pai, foi absolvido de todas as acusações e o caso foi arquivado. Em 2019 o inspetor foi reintegrado à Polícia Civil.