O silêncio da bancada da bala em casos de policiais baleados por CACs
Políticos eleitos como representantes das forças de segurança defendem maior acesso a armas, que tem se voltado contra policiais
atualizado
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O recente assassinato de uma investigadora da Polícia Civil de São Paulo por um empresário que tinha registro de Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador (CAC), nos Jardins, bairro nobre paulistano, mostrou, uma vez mais, um paradoxo na retórica de políticos egressos de forças de segurança.
Eleitos enquanto representantes e defensores dos policiais, eles estimulam em seus mandatos a flexibilização do acesso a armas — que, não raro, tem se voltado contra os agentes de segurança. Quando casos como este acontecem, a maioria dos “deputados policiais influencers” da bancada da bala tem ficado em silêncio.
No caso dos Jardins, segundo a Secretaria de Segurança de São Paulo, a investigadora Milene Bagalho Estevam, de 39 anos, foi recebida a tiros pelo empresário Rogério Saladino, de 56 anos (fotos acima), após ter tocado a campainha da casa dele enquanto investigava uma ocorrência na região, no Jardim América. Saladino tinha registro de CAC.
Um colega dela, que a acompanhava nas diligências no local, reagiu aos disparos de Saladino e o baleou. O empresário e um viligante da mansão morreram.
Um levantamento do Instituto Sou da Paz mostra que, entre os parlamentares egressos das polícias, fora nomes como Eduardo Bolsonaro, Delegado da Cunha e Paulo Bilynskyj, que republicaram notas de pêsames pela morte nas redes sociais, a maioria ficou em silêncio.
O instituto aponta que essa tem sido a reação-padrão dos deputados eleitos com a retórica de representantes das polícias, quando agentes são baleados ou mortos por CACs ou donos de armas registradas. Houve outros casos recentes.
Em setembro, um homem matou dois policiais militares em Recife com uma pistola 9 milímetros equipada com mira a laser, registrada no Sistema Nacional de Armas da Polícia Federal. Em maio, um atirador com registro de CAC morreu em Iepê, interior de São Paulo, após trocar tiros com a polícia. Ele disparou contra os agentes após ter seu carro apreendido por falta de licenciamento e atingiu um policial na cabeça e na mão.
Em outubro de 2022, no Distrito Federal, um rapaz de 23 anos atirou em um PM usando uma pistola de seu pai, que possui registro de CAC. Segundo o jornal Correio Braziliense, o policial foi atingido no ombro esquerdo.