O que muda entre pesquisa eleitoral presencial, telefônica ou com robô
Pesquisas eleitorais no Brasil entrevistam eleitores presencialmente ou por telefone; ligações podem ser feitas por pessoas ou robôs
atualizado
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O aumento da quantidade de pesquisas eleitorais à disposição atualmente tem gerado confusão sobre quais são as metodologias mais confiáveis. Há três métodos mais usados para entrevistar eleitores no Brasil em pesquisas de intenção de voto. O mais antigo e conhecido é a abordagem presencial de pessoas na rua.
Como a entrevista presencial é um método caro, foi desenvolvida a entrevista por telefone, em que pessoas ligam para telefones escolhidos de forma aleatória. Em outra modalidade, a entrevista por telefone é feita por robôs.
No Brasil, os principais institutos de pesquisas presenciais são Datafolha, Ipec (antigo Ibope), MDA e Quaest. Empresas como Ipespe, Ideia Big Data e Futura disponibilizam funcionários para desempenhar esse trabalho por telefone. Já o PoderData usa robôs para fazer as entrevistas telefônicas.
Não há consenso no setor sobre as consequências que o método usado tem na qualidade da pesquisa. A coluna conversou com três especialistas: o professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) Arnaldo Mauerberg; o pesquisador e presidente do conselho científico do Ipespe, Antonio Lavareda; e o professor do curso de pesquisa de opinião do Instituto Brasileira de Pesquisa e Análise de Dados (IBPad) Max Stabile.
O principal problema levantado está na forma como os conteúdos são apresentados nas pesquisas telefônicas. Na pesquisa presencial, o nome dos candidatos é mostrado em um disco, com um espaço equivalente para cada um. Na telefônica, uma lista é lida e o entrevistado precisa digitar o número equivalente ao candidato.
“A gente precisa apresentar os candidatos de forma que não favoreça nenhum deles. O disco [usado nas pesquisas presenciais] garante que todos os candidatos terão o mesmo espaço de visão”, explicou Stabile, do IBPad. Com a lista, há um favorecimento ao nome que é elencado antes.
Para tentar resolver o problema, as pesquisas telefônicas formam aleatoriamente a ordem na qual os nomes são lidos para o entrevistado. “Hoje o TSE não tem como garantir que isso está acontecendo. A gente acredita que as empresas que seguem essa metodologia o façam”, avaliou.
Além disso, outro problema surge quando a lista de candidatos é grande, porque muitas pessoas não teriam paciência de escutar até o fim. Esse transtorno é maior nas pesquisas feitas por robô, porque os entrevistados têm ainda menos paciência em ligações automatizadas.
Lavareda, do Ipespe, refuta essa alegação. “O argumento de que é fundamental o cartão circular é fake. O cartão circular é de difícil leitura e exclui os 7% dos analfabetos que temos no país”, disse.
Quando as entrevistas telefônicas começaram a se popularizar no Brasil, um risco de viés a que os estatísticos sempre ficavam atentos era o de que as pessoas de renda muito baixa poderiam ser excluídas involuntariamente da amostra, já que não tinham telefone.
Para Mauerberg, da UnB, esse problema não existe mais hoje. “O telefone hoje em dia já está tão popularizado que mesmo a classe mais baixa tem acesso a aparelhos celulares. Não acredito que o uso de telefone vai ser motivo para dizer que a amostra tem viés para ouvir os mais ricos”, analisou.
É necessário também prestar atenção na amostragem – que constitui questão-chave em uma pesquisa eleitoral e define o perfil das pessoas que serão selecionadas para a entrevista. Ela estipula, entre outros, a quantidade de homens e mulheres a serem entrevistados, diferentes níveis de renda, escolaridade, endereço residencial, entre outros critérios. Essa amostra imita a divisão desses critérios na população total de eleitores.
Nas entrevistas, sejam elas presenciais, sejam por telefone, uma série de questões busca encaixar a pessoa nos perfis definidos pela amostragem. As perguntas abrangem dados sobre zona eleitoral, renda familiar, entre outros pontos.
É principalmente o tamanho da amostra que define a margem de erro da pesquisa. Um bom exemplo disso é a comparação entre o Datafolha – que, na última pesquisa, feita em dezembro de 2021, escutou 3.666 pessoas e teve uma margem de erro de 2 pontos percentuais – e o Ipespe – que escuta, a cada 15 dias, mil pessoas nas pesquisas encomendadas pela XP Investimentos e tem margem de erro de 3,2 pontos percentuais.
Uma consequência disso é a elevação dos custos, que sobem à medida que mais pessoas são ouvidas. Uma pesquisa do Datafolha custa cerca de 10 vezes mais que uma do Ipespe.
A diferença nos métodos acaba influenciando na quantidade de entrevistas necessárias para se chegar à amostragem final. Em todas as pesquisas, são feitas mais entrevistas do que as que compõem a amostragem final. Nos levantamentos telefônicos, é mais difícil conseguir que uma pessoa responda até o fim, o que exige mais ligações.
Esse número aumenta mais quando a entrevista é feita por um robô, já que as pessoas se sentem menos constrangidas em desligar na cara de uma máquina. Esse ponto precisa ser estudado, avalia Lavareda. “É importante ver se será ou não um pouco maior a taxa de recusa entre pessoas de mais idade e mais pobres, possivelmente menos afeitas para a interlocução com voz mecânica”, ponderou.