O clima quente nos bastidores da OAB-RJ após jantar e renúncias
Bastidores da entidade têm alegações de campanha antecipada pelo presidente da OAB-RJ em benefício de sua vice
atualizado
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A OAB do Rio de Janeiro tem vivido dias de crise desde o fim da semana passada. Há descontentamento interno em razão do que se entende como campanha antecipada do atual presidente da entidade, Luciano Bandeira, em favor de sua vice, Ana Tereza Basilio. As queixas citam uso da “máquina” do cargo por Bandeira para catapultar a aliada. A sucessão na OAB-RJ só ocorrerá no fim de 2024.
O gesto mais recente de Luciano Bandeira em torno da vice que gerou críticas ocorreu em um jantar com advogados e juristas em uma churrascaria na Zona Sul carioca, na quinta-feira (30/11).
O evento caiu mal na cúpula da OAB fluminense, a ponto de três de seus integrantes escreverem um comunicado em que afirmam que o jantar, “assim como outros incontáveis eventos gratuitos que têm sido recorrentemente promovidos e oferecidos, antecipam indevidamente o calendário eleitoral”.
A nota diz que isso tem levado a “importantes distúrbios na gestão relatados nas últimas sessões do Conselho”. “É importante que se diga que há um ostensivo movimento, que conta com fundos ilimitados, para promover e impor a mesma candidatura à OABRJ”, afirmaram.
Outro reflexo do clima azedo se deu no sábado (02/12), com a renúncia dos diretores da Escola Superior de Advocacia (ESA), Sérgio Coelho e Fernando Cabral Filho. O órgão é dedicado à “educação continuada” e aperfeiçoamento para advogados.
Coelho e Cabral Filho, que dirigiam a escola superior desde 2016, pediram para deixar os postos após falas de Bandeira no jantar. Na ocasião, ao discursar ao lado de Ana Tereza, o presidente da OAB-RJ projetou mudanças na ESA após sua saída da presidência – “reinventar a ESA”, em suas palavras.
“Eu já posso dizer um desafio, lançar um desafio para vocês, um desejo meu, mas eu não vou conseguir fazer isso, quem vier depois eu acho que vai conseguir fazer isso, é reinventar a ESA. A ESA tem a maior estrutura do Brasil, em nenhuma seccional existe uma Escola Superior de Advocacia como existe aqui, no Rio de Janeiro, mas tem que ter o desafio, uma transformação”, disse Luciano Bandeira.
“Lógico que a gente investiu por meio de plataformas tecnológicas, mas que essa ESA possa ser não só a formação desses cursos, mas que também a ESA possa ser um pouco do que a mentoria é. E isso eu vou deixar para a Ana e vocês resolverem”, completou.
Em mensagem a advogados em um grupo de WhatsApp, Sérgio Coelho e Fernando Cabral Filho se mostraram contrariados ao comunicarem que haviam pedido o boné. “Não ficamos felizes em encerrar este ciclo agora. Gostaríamos de, junto com vocês, ter feito muito mais, mas nem sempre as coisas são como gostaríamos”, escreveram.
Os dois disseram que, quando assumiram, o órgão na OAB do Rio “era uma das escolas mais atrasadas de todo o sistema OAB” e hoje “apesar da carência de pessoal, temos uma instituição completamente diferente”.
Internamente, avalia-se que a crise pode ter novos desdobramentos. Ex-sócio da ex-primeira-dama do Rio de Janeiro Adriana Ancelmo e ex-marido dela, Sérgio Coelho é casado atualmente com uma das conselheiras federais da OAB pelo Rio de Janeiro, Marta Alves.
Procurado pela coluna, o presidente da OAB-RJ, Luciano Bandeira, afirmou que o jantar na semana passada não foi organizado pela entidade. Segundo Bandeira, o evento recebeu juristas, advogados e professores de Direito das principais universidades do Rio de Janeiro e não foi uma homenagem a Ana Tereza Basilio. Ele também negou que tenha definido qual candidato vai apoiar em sua sucessão e que esteja fazendo campanha antecipada. “Não anunciei candidato nenhum, não tem anúncio de quem terá meu apoio”, afirmou.
Sobre as renúncias na ESA, Luciano Bandeira disse ter elogiado a gestão da escola, mas apontado a necessidade de reinvenções. “Não tem nenhuma crítica ao trabalho da ESA, ao contrário, fizemos a maior ESA e o Sérgio é muito parte desse projeto”, declarou.