Miliciano que fingia ser policial vendia à milícia munição apreendida
Segundo o MP, o miliciano Luiz Ricardo Barreira se passou por policial no RJ e teve acesso a reuniões, apreensões, sistemas e viaturas
atualizado
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O miliciano Luiz Ricardo Barreira da Cruz, que segundo o Ministério Público do Rio de Janeiro se passava por policial civil, como revelou a coluna nesta sexta-feira (26/4), teria vendido à milícia munições que haviam sido apreendidas pela polícia. Investigações mostraram que, entre 2021 e 2023, Russo participava de operações policiais, com uniforme e distintivo da Polícia Civil, e de reuniões sobre investigações sensíveis.
As apurações do MP flagraram conversas entre Barreira da Cruz, conhecido como Russo, e o miliciano Wagner Evaristo da Silva Júnior, o Playboy, nas quais o falso policial civil tratou do desvio e revenda de munição apreendida. Conforme o MP, as balas eram desviadas antes do registro formal das ocorrências no sistema, onde se apresentava uma quantidade inferior de munição.
Entre os diálogos acessados pelos investigadores, há mensagens em que Playboy aparece pedindo a Russo cinco caixas de munições calibre 9 milímetros e um áudio em que Russo relatou ter desviado munições calibre 556, usadas em fuzis.
O miliciano que se passava por policial afirmou desviar de 40 a 50 munições calibre 556 por dia, escondidas dentro do bolso do colete ou em seu carro, e que, com isso, chegou a manter mil munições em sua casa, vendidas para “os moleques”, segundo afirmou a Playboy.
“As condutas praticadas pelo denunciado Luiz Ricardo, ‘Russo’, são de tamanha gravidade que devolve aos criminosos armas e munições que já haviam sido retiradas das ruas pelas próprias forças de segurança, com o intuito de lucro, gerando um moto perpétuo em prejuízo unicamente da população carioca”, afirmou o MP na denúncia contra o miliciano e outras treze pessoas.
Além da revenda de munições apreendidas pela polícia, o miliciano ajudava os comparsas a conseguir carros clonados. “Arruma um carro pra mim, por favor”, escreveu Playboy a Russo em 4 de fevereiro de 2022. O falso policial respondeu: “até quanto vc quer”, “só fala o ano e modelo” e “que vou pegar a viatura e ir lá”.
Russo foi acusado pelo MP do Rio à Justiça pelos crimes de constituição de milícia privada, extorsão, receptação, usurpação de função pública, corrupção ativa, porte ilegal de arma de uso permitido, porte ou posse ilegal de arma de uso restrito e tráfico de armas.
Segundo as investigações, enquanto se passava por policial na 29ª Delegacia de Polícia Civil, em Madureira, e na 33ª DP, em Realengo, Russo fazia intermediações entre a milícia e policiais civis, levava aos milicianos informações sigilosas obtidas em conversas com “colegas” e em consultas a sistemas da segurança pública. Além do material apreendido, ele tinha acesso a agentes, reuniões, viaturas, uniformes e registros de diversas delegacias.
Russo costumava informar ao miliciano Playboy sobre mandados judiciais ou investigações em andamento contra o miliciano. Ele fazia consultas em sistemas por meio do acesso de Rodrigo dos Santos Ferreira, oficial de cartório da Polícia Civil lotado na 35ª Delegacia, em Campo Grande. Ferreira foi denunciado pelo MP por violação de sigilo funcional.