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Jair Renan: as permutas de ternos, a carreira de influencer e o reality show do filho 04

Com apenas 23 anos, Jair Renan Bolsonaro deixou imagem de menino tímido para começar a fazer publis na internet e se lançar em reality show

atualizado

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Jair Renan
1 de 1 Jair Renan - Foto: Reprodução/Instagram

Quando se mudou para Brasília, no início de 2019, Jair Renan Bolsonaro não adotou apenas um novo endereço. Nos dois anos seguintes, o filho zero quatro do presidente remodelaria sua imagem, começaria a usar marcas de grife, passaria a frequentar eventos oficiais e até abriria uma empresa com 22 anos. A última empreitada foi confirmada nesta semana: alavancar seu nome como influenciador digital, para além das dancinhas no TikTok, e participar de um reality show.

A ideia de que caminho trilhar, diz, surgiu quando percebeu que não queria seguir carreira política. “Não entrei na política porque não me identifiquei. Já tenho a família inteira política, estava perdido, tentei entrar em sintonia com a família, mas falei: ‘Isso não é para mim’. Fui para o meio digital”, disse durante uma live da Mansão Vix , programa que reúne características de Big Brother Brasil e de Férias com o ex e que conta com Jair Renan entre um dos participantes de sua segunda temporada.

Apesar de Jair Bolsonaro ver com resistência o plano de trabalho do filho, o presidente acabou como seu maior garoto-propaganda, falando publicamente sobre ele e aparecendo em fotos e vídeos de Jair Renan nas redes sociais. “Tive a oportunidade porque meu pai acabou me lançando com o ‘comentariozinho do condomínio’, me deu um hype, e fui nessa”. O “comentariozinho” a que o rapaz se referiu foi quando Jair Bolsonaro disse que o filho seria o “pegador” do Vivendas da Barra, condomínio em que o presidente tem casa no Rio de Janeiro e onde morava o assassino da vereadora Marielle Franco, Ronnie Lessa.

A propaganda deu certo. De um ano para cá, Jair Renan mais que dobrou seu número de seguidores no Instagram, de 243 mil para 508 mil, e inaugurou há três semanas seus primeiros posts publicitários escancarados, fazendo da ferramenta um negócio.

“Estou no maior hotel de Maragogi, Areias Belas. Vem conhecer o hotel”, disse em uma postagem. O vídeo, identificado como “publi”, marcador para indicar que o influenciador recebeu dinheiro pela postagem, mostra Jair Renan em vários ambientes da hospedagem três estrelas, cujas diárias giram em torno de R$ 400. Na mesma semana, Jair Renan fez outra publicação semelhante, mas para divulgar um hotel em Porto de Galinhas, em Pernambuco.

As viagens também se tornaram mais frequentes em suas redes: Recife, Belém do Pará, Rio de Janeiro, São Paulo, Lagoinha em Paraipaba (CE), Guarujá (SP), Maragogi (AL), até destinos mais próximos de sua casa, como a Chapada Imperial, a 50 quilômetros de Brasília. A variedade de celebridades ao seu lado também aumentou, com nomes como Neymar, Kevinho, o lutador de MMA Paulo Borrachinha e Gusttavo Lima. Este último, inclusive, convidou o zero quatro para nadar em sua piscina.

As redes sociais, no entanto, são apenas uma parte da mudança que Jair Renan experimentou desde que viu o pai receber a faixa presidencial.

A partida de Resende, onde nasceu e morava com a mãe, Ana Cristina Valle, segunda mulher de Bolsonaro, foi registrada por ela em 10 de fevereiro de 2019: “Hoje, estou com meu coração apertado. Meu bebê sai de casa, mas sabendo que o melhor da vida está à sua espera. Que Deus lhe abençoe, meu amor, estarei sempre aqui para você”. A legenda acompanhava uma foto de Jair Renan em um avião. O terno estava longe dos que exibiria mais tarde.

O novo endereço era um apartamento do pai no Sudoeste, bairro de classe média alta em Brasília. Apesar da boa localização, o apartamento não era o Palácio do Alvorada, onde a família presidencial residiria. O motivo era Michelle Bolsonaro, que se opôs a dividir o mesmo teto com o garoto. Mas não só: pessoas próximas do presidente dizem que até hoje ele não é bem-vindo no Alvorada sequer para visitas, restando-lhe ver o pai no Planalto ou em outros locais. Daí a falta de fotos dele no Alvorada. Com a irmã caçula, Laura Bolsonaro, praticamente não tem contato.

Tão logo se mudou para Brasília, Jair Renan se matriculou no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas, no UniCeub, um dos principais centros universitários privados da Capital.

Nas redes, fora os publis e as viagens, as postagens do zero quatro são vídeos com dancinhas e selfies com seus variados looks. As roupas, agora mais finas, são diferentes das camisetas estampadas e esportivas que usava antes de o pai assumir a Presidência. A variedade também era menor, incluindo um terno azul que repetiu em ocasiões diversas, desde visitas à casa do pai até uma ida oficial ao STF.

Jair Renan agora é vestido pelo alfaiate Leonardo Carvalho, que costura para nomes como José Sarney. O preço inicial de um terno na loja gira em torno de R$ 2,5 mil, mas os sob medida custam R$ 4,5 mil. Além de novos cortes, o zero quatro ganhou uma seção especial nos destaques na rede social do alfaiate, como uma espécie de garoto-propaganda. Os ternos são permuta pela publicidade.

A evolução do guarda-roupa do zero quatro

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Jair Renan com a mãe, Ana Cristina Valle

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A vida social em Brasília sempre foi agitada. Ainda antes da pandemia, frequentava o Na Praia, evento à beira do Lago Paranoá que reúne sertanejos, vodka e corpos malhados, não necessariamente nessa mesma ordem. É figura certa também no Pontão Sul, complexo wannabe Miami que reúne bares e restaurantes na beira do lago. Point de lanchas, tornou-se um dos locais preferidos dos internautas para tirar fotos para as redes sociais.

Foi em um restaurante do Pontão Sul que Jair Renan, há cerca de três meses, ouviu de um funcionário que precisaria usar máscara. Rebateu no estilo sabe-com-quem-está-falando e disse que era filho do presidente. O desrespeito ao uso já havia sido notado em outros momentos. Em fevereiro deste ano, apareceu no camarote do show da dupla sertaneja Diego e Victor Hugo, sem a proteção facial.

“Invadi o camarote dos caras. Esquece. Tô na área. Aí, canta ‘Facas’ hoje, pelo amor de Deus. Esquece, papai, esquece”, gravou para as redes sociais.

A fantástica fábrica de eventos de Jair Renan

Embora esnobe a política, segue no PSC desde 2016. Não acompanhou os irmãos Eduardo e Flávio, que deixaram a sigla para se filiarem ao PSL. Chegou a ser anunciado como integrante com direito a voto no diretório nacional do Aliança Pelo Brasil, legenda que o presidente planeja criar. Mas, com a desmobilização da coleta de assinaturas pela pandemia, Jair Renan deixou de lado a participação e mal tem se envolvido com as questões do partido. A entrada na política, entretanto, não pode acontecer enquanto seu pai for presidente. A Constituição veda que filhos de presidente se candidatem a qualquer cargo, salvo se for reeleição no mesmo que ocupam.

Jair Renan, entretanto, tem seguido pegadas da família na vida empresarial. Em vez de chocolates, está na área de eventos.


Em novembro de 2020, com apenas 22 anos, Jair Renan abriu a Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, empresa para organização de festas, exposições e feiras, com capital social de R$ 105 mil, todo bancado, pelo menos oficialmente, pelo estudante.

De acordo com o ato de constituição, a empresa também tem como objetivo atividades de “pesca esportiva e de lazer” e de operação da infraestrutura de transportes recreacionais, como garagens, estacionamentos para a guarda de embarcações e atracadores.

Com escritório no estádio Mané Garrincha, o negócio rendeu a Jair Renan novas fotos no Instagram e uma gama de relações com outras empresas, o que chamou a atenção de órgãos de investigação.

Apenas quatro meses após a abertura, o Ministério Público Federal pediu à Polícia Federal que investigasse se o zero quatro cometeu tráfico de influência por, em troca de presentes, supostamente ter facilitado reuniões de integrantes do grupo Gramazini Granitos com representantes do governo. O mimo era um carro elétrico de R$ 90 mil, que, segundo o filho do presidente, teria sido emprestado ao personal trainer Allan Lucena, parceiro comercial de Jair Renan na empresa.

O MPF deu 30 dias, a partir de março, para que a PF mandasse um relatório com as conclusões da apuração. Quatro meses depois, o MPF afirma não ter recebido resposta da instituição.

A exposição foi suficiente para assustar Lucena, que devolveu o carro e ficou cada vez mais raro nas redes de Jair Renan. Os dois não se falam desde o ano passado, encerraram a parceria, e o personal trainer pediu demissão de um cargo que ocupava no governo do Distrito Federal, dizendo que se limitaria a trabalhar com atividade física.

O afastamento do sócio, no entanto, não parece ter abalado a autoestima do irmão de Flávio Bolsonaro nos negócios. Se nas publicações de 2018 ele se apresentava, com voz rouca e baixa, como uma pessoa que “nunca foi de fazer vídeos nem de aparecer na mídia”, hoje ele dá entrevistas, tira fotos em aeroportos pelo Brasil, enaltece o poder do celular e das redes sociais e ataca veículos de imprensa. Está no sangue.

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metropoles.comGuilherme Amado

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