O governo Bolsonaro desembolsou R$ 449.000 para dez influenciadoras participarem de uma campanha publicitária voltada para o Instagram Stories, cujas postagens duram apenas um dia.

As influenciadoras publicaram, ao todo, 55 stories em seus perfis. A campanha foi desenvolvida em novembro de 2019 e tinha como foco o enfrentamento da violência contra a mulher.

O Instagram Stories é um recurso de compartilhamento de fotos e vídeos por 24 horas. As postagens só permanecem ativas por mais tempo se o usuário criar um destaque para salvá-las no perfil. Hoje, os stories duram até um minuto, mas, em 2019, o recurso era limitado a até 15 segundos.

Os nomes das influenciadoras, os valores pagos a cada uma e o número de publicações foram obtidos pela coluna via Lei de Acesso à Informação.

Na resposta à solicitação, a Secretaria de Comunicação Social (Secom) diz que 48 stories não estão mais ativos nos perfis das influenciadoras pagas pelo governo Bolsonaro. A criadora de conteúdo Nina Secrets foi a única a manter as publicações no perfil, segundo a Secom.

Entre as contratadas estão a modelo Andressa Suita, casada com o cantor Gusttavo Lima, e a atriz Thais Fersoza, casada com o cantor Michel Teló. A influenciadora Shantal Verdelho, a atriz Flávia Pavanelli e a maquiadora Mari Maria também participaram da ação publicitária.

Andressa Suita é apoiadora de Bolsonaro e usou o Instagram para declarar voto ao ex-presidente no dia do primeiro turno da eleição do ano passado. Já Fabiola Melo, uma influenciadora cristã, disse ter votado em Bolsonaro em 2018.

Veja abaixo quanto cada influenciadora recebeu do governo Bolsonaro:

– Thais Fersoza recebeu R$ 92 mil para publicar sete stories no Instagram;

– Flávia Pavanelli recebeu R$ 42.900 para publicar quatro stories no Instagram e dois posts no Twitter;

– Mariana Felício recebeu R$ 5.952,40 para publicar sete stories no Instagram;

– Mari Maria recebeu R$ 48.600 para publicar quatro stories no Instagram e um vídeo no YouTube;

– Shantal Verdelho recebeu R$ 28.600 para publicar sete stories no Instagram;

– Andressa Suita recebeu R$ 70.000 para publicar sete stories no Instagram;

– Juliana Goes recebeu R$ 18.750 para publicar sete stories no Instagram;

– Fabiola Melo recebeu R$ 42.900 para publicar um storie no Instagram e um vídeo no YouTube;

– Taciele Alcolea recebeu R$ 64.300 para publicar quatro stories no Instagram e um vídeo no YouTube; e

– Nina Secrets recebeu R$ 35.000 para publicar sete stories no Instagram.

Outro lado

A coluna procurou todas as influenciadoras citadas. A assessoria de Thais Fersoza informou que atriz aceitou o convite “por ser uma campanha totalmente voltada para alertar sobre a violência contra a mulher”.

A quantia de R$ 92 mil, segundo a assessoria de Fersoza, é compatível com os valores cobrados pela atriz. “A campanha não teve nenhuma relação com partido político ou com qualquer governante. Foi uma ação do governo federal para o Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher.”

Shantal Verdelho, também por meio de sua assessoria, disse que “foi contratada como uma prestadora de serviços pela Secretaria de Comunicação (Secom) para uma campanha sem filiação político-partidária com foco no tema do enfrentamento da violência contra a mulher, um assunto pertinente e que sempre defendeu”. Ela alega que recebeu R$ 20 mil para publicar sete stories no Instagram.

“Essa comunicação, feita há quatro anos, teve como objetivo influenciar mais mulheres a denunciarem abusos e maus-tratos, por meio da campanha #Vctemvoz. Não há razão para voltar nesse assunto”, afirmou Shantal.

As outras influenciadoras não retornaram o contato da coluna. O espaço está aberto para manifestações.

(Atualização às 16h de 15 de junho de 2023: Em nota, Juliana Goes afirmou que os valores da campanha estão “dentro dos parâmetros”, e que o combate à violência contra a mulher é uma pauta da influencer.)

(Atualização às 19h11 de 15 de junho de 2023: Em nota, a influenciadora Taciele Alcolea afirmou que a campanha do governo “em momento algum teve relação político-partidária”, e que a campanha é de “extrema importância”. Alcolea afirmou que recebeu uma quantia menor do que a informada pela Secom, mas não divulgaria o valor “por força de contrato”.)