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Hoje no governo de SP, ex-CGU atacou relatório que validou urnas

“Uma merda”, disse Wagner Rosário, então ministro da CGU, a Bolsonaro em reunião golpista no Planalto; governo engavetou documento

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1 de 1 Imagem colorida mostra Jair Bolsonaro ao lado de Wagner Rosário - Metrópoles - Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Na reunião com dinâmica golpista que embasou a operação da PF contra Jair Bolsonaro e aliados, o então ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Wagner Rosário, chamou de “uma merda” um relatório técnico que não encontrou fraude no sistema de votação e que foi engavetado pelo governo Bolsonaro. Naquela reunião ministerial em julho de 2022, Rosário defendeu a Bolsonaro uma “força-tarefa urgente” com a PF e as Forças Armadas para criticar as urnas eletrônicas.

“Presidente, um ponto importante. […] Eu recebi o relatório da última fiscalização da CGU, e eu não tive coragem de mandar, porque o relatório estava horrível, uma merda, não falava nada com nada. […] Eu não entendi nada do relatório”, afirmou Wagner Rosário a Bolsonaro, completando:

“A forma como [o relatório] foi montado não permite uma fiscalização propriamente dita. […] O sistema que faz a segurança da urna está numa linguagem que na CGU eu não tenho nenhum especialista. Mesmo que eu queira auditar, eu não vou conseguir. Ele tem 20 milhões de linhas de programação. São 20 milhões de linhas. Então imagina aí o tempo que a gente necessitaria para auditar isso. Talvez no meio dessas linhas tenha algum tipo de problema”.

Wagner Rosário, atual controlador-geral de São Paulo, auxiliar do governador Tarcísio Freitas, fez menção ao relatório “Atuação da CGU como Entidade Fiscalizadora das Eleições 2022”, concluído em 1º de dezembro de 2022. “Não foram verificadas inconsistências no sistema eletrônico de votação”, concluiu a CGU, depois de fazer inspeções em nove estados. Foi a primeira vez que a CGU tentou auditar as urnas eletrônicas.

Em meio à frustração do governo, o material de 30 páginas jamais foi publicado pela CGU, o que é incomum, e só veio a público pela imprensa, por meio da Lei de Acesso à Informação no ano passado.

O documento citou as 20 milhões de linhas a que Rosário fez alusão na reunião ministerial: “Os referidos sistemas são desenvolvidos em diversas linguagens de programação, incluindo linguagens em nível de máquina, totalizando quase 20 milhões de linhas de código”.

Depois de criticar o relatório, Rosário sugere recorrer às Forças Armadas, que estavam na comissão fiscalizadora do Tribunal Superior Eleitoral, e à Polícia Federal, que respondia ao então ministro da Justiça, Anderson Torres.

“A gente tem que procurar as Forças Armadas, junto com a Polícia Federal. A Polícia Federal também fez um trabalho. Que eu sei que fizeram uma coisa mais profunda. […] Essa junção PF, Forças Armadas e CGU, a gente tem que fazer urgente, urgente. Monta as equipes… A gente chegar ao consenso: ‘Isso aqui tem que ser porque não temos garantia disso. E aí já não é mais as Forças Armadas falando. São três instituições. A gente tem que se preparar para atuar em força-tarefa nesse negócio”, seguiu Rosário, dirigindo-se a Bolsonaro.

Logo depois dessa fala, Wagner Rosário hesitou e perguntou se a reunião estava sendo gravada. “A reunião está sendo gravada? Tá? Hein, presidente? Está sendo gravada?, ao que Bolsonaro respondeu: “Não, eu mandei gravar a minha fala”, fazendo sinal de positivo.

Reunião teve “dinâmica golpista”, diz PF

A reunião ministerial de 5 de julho de 2022 foi usada pela Polícia Federal nas investigações que apontaram as articulações do governo Bolsonaro para dar um golpe de Estado. O vídeo da reunião foi encontrado pelos investigadores nos arquivos do tenente-coronel Mauro Cid, ex-auxiliar de Bolsonaro.

Nesse encontro fechado, que contou com a presença dos comandantes das Forças Armadas, Bolsonaro e ministros deram declarações que mostram o esforço do governo para impedir a derrota para Lula na eleição, que aconteceria dali a três meses.

O então ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, disse que a pasta estava em “linha de contato com o inimigo”, em referência à comissão de fiscalização no TSE.

O general Augusto Heleno, que chefiava o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e tinha sob o ministério a Agência Brasileira de Inteligência (Abin), disse que se “tiver que virar a mesa é antes das eleições”, e que era preciso agir “contra determinadas instituições e contra determinadas pessoas”.

Bolsonaro endossou o argumento de Heleno e afirmou: “Nós não podemos deixar chegar as eleições e acontecer o que está pintado. Vocês estão vendo agora que eu acho que chegaram à conclusão. A gente vai ter que fazer alguma coisa antes”.

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metropoles.comGuilherme Amado

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