A cervejaria Heineken está pagando anúncio no Google para que apareça em primeiro lugar nos resultados do buscador, quando se digita o nome da cerveja, uma página em que a empresa nega que tenha alterado a fórmula da bebida no Brasil. A informação foi trazida pela coluna, com base em documentos que mostram que a cervejaria passou a produzir a Heineken em 21 ou 23 dias e não mais em 28, como a empresa sempre anunciou em sua comunicação institucional. Até semana passada, antes da reportagem, este dado era escondido dos consumidores.

Os documentos obtidos pela coluna mostram que a cervejaria diminuiu o tempo de produção da cerveja há três anos. A redução do tempo foi na etapa de maturação do fermento, que deveria levar de seis a oito dias. A razão, de acordo com pessoas que trabalharam na fábrica, foi a pressão para atender a demanda interna do produto.

A página cujo resultado foi patrocinado pela Heineken no Google reúne uma série de supostas informações falsas que circulam sobre a empresa, e tem o título “No fake, No news”. Na resposta à pergunta sobre a mudança na fórmula, a empresa diz que “sobre o tempo de produção, trabalhamos com, no mínimo, 21 dias, podendo chegar a 28 dias, ou até mais, variando de acordo com a tecnologia e necessidade de cada cervejaria, sempre com a premissa de garantir nosso padrão global de qualidade e sabor único de Heineken”. O mesmo posicionamento foi enviado na semana passada à coluna, sem que a Heineken explicasse por que nunca disse isso em sua comunicação oficial.

O próprio site da empresa afirma que a cerveja é produzida da mesma forma desde 1873 e que demora “longos 28 dias” para ficar pronta. A informação foi corroborada, em 2016, pelo mestre-cervejeiro global da empresa, Willem van Waesberghe, quando veio ao Brasil.

“Os nossos Mestres Cervejeiros trabalham todos os dias para garantir que a qualidade da nossa cerveja continue sempre a mesma. E no Brasil isso não é diferente! (…) A fabricação de Heineken leva 28 dias e é feita em tanques horizontais, o que torna a pressão ideal para a nossa exclusiva ‘levedura A’, descoberta no século 9 e usada até hoje para garantir uma cerveja balanceada e refrescante”, disse a uma plateia de experts do Instituto da Cerveja Brasil, em São Paulo.

Testes em tanques verticais

Os documentos obtidos pela coluna mostram que a empresa também fez testes em tanques verticais, contrariando a receita original, que determina que o armazenamento seja em tanques horizontais para manter a pressão adequada sobre a Levadura A, um ingrediente exclusivo da Heineken. No texto pago, a empresa alega que “a realização pontual de testes com Heineken ou qualquer outra marca não representa qualquer mudança no processo produtivo ou na receita original de Heineken e de outro produto do nosso portfólio”.

A empresa termina a sua publicidade afirmando que seguem “comprometidos e seguros com nosso padrão de qualidade e fórmula que permanecem inalterados há mais de 150 anos por todo o mundo. As portas de nossas cervejarias estão abertas para apresentar nosso processo produtivo, assim como fazemos continuamente, para quem tiver interesse, em nossa experiência cervejeira Inside the Star, na unidade de Jacareí”.

Clientes alegam que sabor mudou

Após a publicação da reportagem pela coluna, diversos consumidores da Heineken usaram as redes sociais para afirmar que perceberam mudanças no sabor da cerveja.

No X, antigo Twitter, o usuário Edu Passarelli disse que participou de um teste de cervejas e que foi apontado a maturação mais curta da cerveja. “Um alto executivo de HNK me escreveu em outra rede colocando em dúvida minha idoneidade”, disse Passarelli.

Já o usuário Edson Alves disse que há cerca de três anos deixou de beber a Heineken por perceber “algo errado no gosto da cerveja”. Outro tuíte, do usuário Edmar, ressaltou que a cerveja, atualmente, está “mais fraca e perdeu o amargor característico que tinha”.