Haddad perdeu apoio do mercado ao pregar déficit zero, diz ex-ministro
Maílson da Nóbrega, ministro da Fazenda no governo Sarney, disse que nenhum analista acredita que Haddad alcançará o déficit zero em 2024
atualizado
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O ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega atribuiu a queda da popularidade de Fernando Haddad no mercado à insistência do chefe da equipe econômica em estabelecer o déficit zero para o orçamento de 2024.
Uma pesquisa da Genial/Quaest com o mercado financeiro, divulgada no último dia 19, mostrou que a avaliação positiva de Haddad caiu de 65% para 46%. O índice de entrevistados que não confiam no trabalho do ministro da Fazenda subiu de 40% para 48%. As medições anteriores foram feitas em julho.
“Essa queda de confiança está associada à questão fiscal. É uma percepção de que o governo foi muito otimista nas suas projeções e que dificilmente conseguirá o déficit zero. Isso é unanimidade hoje. Não conheço nenhum analista que aposte no déficit zero”, disse Nóbrega, que chefiou a Fazenda durante o governo de José Sarney.
O ex-ministro, no entanto, afirmou que o trabalho de Haddad é positivo e que o titular da Fazenda faz boa gestão. “O início do governo foi muito ruim. Os discursos do Lula produziram resultados negativos durante três meses. O Haddad conseguiu reverter isso. Ele foi o fiador do governo e exerceu um trabalho de convencimento para o Lula voltar atrás no que estava falando. Nenhuma das ideias do Lula emplacou”, disse Nóbrega.
“Isso teve um efeito adicional. Criou-se um entendimento de que o Lula fala para um público que não é relevante para o mercado quando critica as políticas econômicas do passado e do presente ou quando defende as ideias equivocadas do PT. Hoje, o Lula pode falar o que quiser sobre a política econômica, porque o mercado não presta mais atenção. E o Haddad teve um crédito de confiança merecido”, acrescentou o ex-ministro.
Nóbrega conversou com a coluna durante o lançamento do livro “A arte da política econômica: depoimentos à Casa das Garças”, em Brasília. O ex-ministro é um dos economistas que tiveram as experiências contadas na obra. Edmar Bacha, Persio Arida, Armínio Fraga, Gustavo Franco, Pedro Parente, Pedro Malan, Marcilio Marques Moreira, Marcos Lisboa, Gustavo Loyola e Ilan Goldfajn são outros nomes que participam do livro.