Gráfica de condenado por fraudar licitação lucra R$ 3 mi na eleição
Candidatos do MBL, lulistas e bolsonaristas contrataram serviços que ultrapassam R$ 3 milhões em gráfica de condenado por fraude
atualizado
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Uma gráfica de um empresário condenado por fraudar licitações na cidade de Ferraz de Vasconcelos, em São Paulo, lucrou R$ 3,2 milhões com serviços prestados para candidatos das mais variadas linhas ideológicas nesta eleição.
O empresário Willington Bekmer Martins de Souza é o dono da WBL Gráfica e Editora LTDA. Em 2020, Souza foi condenado pela Justiça de São Paulo a duas penas que ultrapassavam nove anos de prisão em regime semiaberto.
Souza conseguiu reduzir as condenações na segunda instância, mas entrou com novo recurso para ficar em regime aberto e com penas alternativas. O Ministério Público de São Paulo se manifestou, em 22 de julho, contra o pedido de Souza.
Investigações apontaram que o ex-prefeito de Ferraz de Vasconcelos Acir Filló usou o mandato, entre 2013 e 2016, para coordenar um esquema criminoso de fraudes de licitações e de desvios de dinheiro público. A gráfica de Souza simulou a participação em licitações direcionadas, com compras por valores superfaturados, e deixou de fornecer os produtos previstos em contrato. Os pagamentos, no entanto, foram feitos por determinação de Filló.
Segundo o TSE, 116 candidatos contrataram os serviços da WBL. Entre eles está o deputado Kim Kataguiri e outros quatro candidatos do MBL em São Paulo, que gastaram um total de R$ 405.887 com a empresa. Todos são filiados ao União Brasil.
O vereador Fernando Holiday, que tenta se eleger deputado federal pelo Novo de São Paulo, pagou R$ 22.514,30 pelo trabalho da gráfica.
Bolsonaristas também contrataram a WBL para as campanhas. O ex-jogador de vôlei Mauricio de Souza, candidato a deputado federal pelo PL de Minas Gerais, pagou R$ 51.527,48 à empresa. Marcos Pontes, o astronauta filiado ao PL e que concorre ao Senado em São Paulo, gastou R$ 26.050,98 na gráfica. Já o deputado estadual Gil Diniz, um dos nomes mais próximos à família Bolsonaro em São Paulo, desembolsou R$ 39.124 para se reeleger pelo PL.
Entre os lulistas, o deputado estadual Caio França, filho do candidato ao Senado Márcio França, contratou serviços de R$ 102.349,48 para se reeleger pelo PSB. A deputada Luiza Erundina, que concorre à reeleição pelo PSol de São Paulo, gastou R$ 42.883,82 com a empresa.
Procurado, Fernando Holiday disse que não sabia das condenações e que suspenderá “todas e quaisquer negociações com a gráfica até que tudo seja devidamente esclarecido”. Holiday acrescentou que a WBL sempre cumpriu os contratos com a campanha.
Marcos Pontes afirmou que a empresa ofereceu o menor preço e “forneceu todas as documentações regularizadas”. “Não cabe ao candidato saber quem são os fornecedores da empresa contratada. O candidato não tem qualquer relação com a empresa”, disse.
Gil Diniz disse que não conhece o dono da gráfica. “Fiz três orçamentos e essa gráfica foi a que apresentou o menor preço e o menor prazo para entrega e produção do material gráfico. Tudo que foi contratado foi entregue”, afirmou.
O MBL negou irregularidades e afirmou que a WBL é uma “gigante do mercado”.
Procurados, os candidatos Maurício de Souza, Luiza Erundina e Caio França não responderam. O espaço está aberto para manifestações.