O governo de Mato Grosso do Sul citou as redes sociais para justificar a censura ao livro “O avesso da pele”, de Jeferson Tenório. O romance premiado que aborda o racismo ficou cerca de dois meses fora das bibliotecas escolares do estado. O governo recuou da censura na última semana.

“Não se pode ignorar a dimensão cultural das relações sociais, principalmente no contexto social atual, caracterizado pela hiperconectividade de crianças e juventudes nas mídias sociais. O acesso irrestrito a conteúdos que envolvem sexualidade, sem a linguagem adequada, por crianças e adolescentes sem a mediação de um profissional capacitado, pode apresentar impactos que refletirão no desenvolvimento saudável da sua sexualidade”, afirmou o parecer da Secretaria de Educação que embasou a ordem para recolher os livros das bibliotecas escolares em março. O documento não explicou a relação entre as redes sociais e o livro com supostos trechos inadequados. Também não mencionou medidas que a pasta adota para evitar a exposição dos alunos a conteúdos impróprios na internet.

O parecer técnico foi obtido por meio da Lei de Acesso à Informação. A gestão do governador Eduardo Riedel, do PSDB, se recusou a fornecer os documentos solicitados por duas vezes, em 12 de abril e 23 de abril. No dia 24, o governo recuou e começou a devolver os livros às escolas. Foi só depois disso que a Secretaria de Educação respondeu ao pedido da coluna, na segunda-feira (29/4).

Vencedor do prêmio Jabuti de 2021 na categoria romance e sucesso de vendas, o livro editado pela Companhia das Letras foi selecionado ainda durante o governo Bolsonaro para ser usado no Ensino Médio da rede pública. A decisão é feita por especialistas, no âmbito do Ministério da Educação, e referendada pelos diretores dos colégios. O autor de “O avesso da pele” é graduado e mestre em letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), além de doutor em teoria literária pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) do Rio Grande do Sul. Tenório publicou obras em Portugal, Itália, Inglaterra, França, Suécia, China, Bélgica e Estados Unidos, entre outros países.