metropoles.com

Governo deixou vencer multa ambiental de R$ 42 milhões de bolsonarista

Sob Bolsonaro, Ibama deixou prescrever multa que beneficiou fazendeiro criador do “mitomóvel”; presidente enviou vídeo ao empresário em 2018

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
mitomovel
1 de 1 mitomovel - Foto: null

Durante o governo Jair Bolsonaro, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) deixou prescrever multa ambiental de R$ 42,4 milhões de uma empresa abertamente bolsonarista. Dono da firma Real, que controla a Fazenda Chapada Grande, o empresário Tiago Junqueira mostra ser conhecido no Planalto e apoiador do presidente. Na última eleição, recebeu um vídeo de Bolsonaro e foi denunciado pelo Ministério Público Eleitoral por propaganda irregular depois de circular com o “mitomóvel”, um carro totalmente estilizado para pregar voto no então candidato do PSL.

A multa ambiental que a Fazenda Chapada Grande, em Regeneração (PI), livrou-se de pagar é a que gerou maior prejuízo aos cofres públicos, representando 12% do total de R$ 355,4 milhões das autuações que prescreveram na atual administração. A segunda maior multa vencida foi de R$ 16,6 milhões, diferença de 60%.

9 imagens
Espumante levava o nome do presidente
Empresário foi prestigiado por Ciro Nogueira, que foi à Fazenda Chapada Grande no dia em que Junqueira recebeu o título de cidadão piauiense
Funcionários da Fazenda Chapada Grande perfilam para formar o número 17, usado por Bolsonaro durante a campanha de 2018
Empregados da fazenda com camiseta em apoio a Bolsonaro
Em entrevista concedida, fazendeiro usou máscara em apoio a Bolsonaro
1 de 9

Beneficiado com prescrição milionária, fazendeiro Tiago Junqueira brindou à reeleição de Bolsonaro em data comemorativa

2 de 9

Espumante levava o nome do presidente

3 de 9

Empresário foi prestigiado por Ciro Nogueira, que foi à Fazenda Chapada Grande no dia em que Junqueira recebeu o título de cidadão piauiense

4 de 9

Funcionários da Fazenda Chapada Grande perfilam para formar o número 17, usado por Bolsonaro durante a campanha de 2018

5 de 9

Empregados da fazenda com camiseta em apoio a Bolsonaro

6 de 9

Em entrevista concedida, fazendeiro usou máscara em apoio a Bolsonaro

7 de 9

"Fazenda Chapada Grande é 17", diz postagem da empresa em rede social

8 de 9

"Brasil acima de tudo e Deus acima de todos", diz a página oficial da empresa na internet

9 de 9

Tiago Junqueira exibe o mitomóvel

Registros internos do Ibama mostraram que a multa inicial foi aplicada à Fazenda Chapada Grande em 2005, no valor de R$ 14,1 milhões, porque a empresa recebeu 898 toneladas de madeira sem licença ambiental. A fazenda é controlada pela companhia Regeneração Agropecuária Ltda (Real).

Em 2012, com o avançar do processo, o valor da multa triplicou: passou para R$ 42,4 milhões. “Houve várias tentativas de comunicar a decisão, o que somente foi realizado em 28/5/2014”, anotou o Ibama. A Fazenda Chapada Grande, então, apresentou recurso, que foi negado em 2017. A partir daí, o governo cometeu erro técnico: enviou a notificação dessa decisão para outra pessoa. O erro só foi registrado pelo Ibama em novembro de 2019, no 11º mês da gestão Bolsonaro.

Questionado, o Ibama entrou em contradição sobre quando a multa de R$ 42 milhões perdeu a validade e foi extinta. Segundo uma planilha enviada por meio da Lei de Acesso à Informação, o valor prescreveu em novembro de 2021. De acordo com um documento interno do órgão, o vencimento aconteceu em abril de 2020. Já a assessoria de imprensa do instituto informou uma terceira data: maio de 2019. Em todos os três casos, a multa perdeu a validade durante a gestão de Jair Bolsonaro.

Além do valor, o vencimento da multa que ocupa o topo da lista de prescrições chama a atenção por um fato: a Fazenda Chapada Grande tem como slogan em seu site o lema “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”, o mesmo usado por Bolsonaro em 2018. Nas redes sociais da empresa, o culto à imagem do presidente é frequente. Em uma das postagens, dezenas de funcionários da fazenda se perfilaram para formar o 17, número de Bolsonaro nas urnas na última eleição. No mesmo período, Bolsonaro gravou um vídeo para o fazendeiro (veja abaixo).

“Olá, Tiago Junqueira, de Regeneração, no Piauí. Jair Bolsonaro [falando]. Tô com o teu irmão aqui do lado, ó. Valeu, tamo junto aí nessa empreitada, tá ok? O Piauí é nosso. Valeu, garoto!”, disse Bolsonaro, na campanha de 2018.

Além de Bolsonaro, Junqueira mostra ser próximo de outra autoridade do Planalto: o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, eleito senador pelo Piauí. Em 23 de maio deste ano, uma segunda-feira, o chefe do PP foi a uma cerimônia na Fazenda Chapada Grande, onde o empresário recebeu o título de cidadão piauiense. Na agenda oficial, o ministro registrou apenas “compromissos oficiais no estado”, sem qualquer detalhe, o que é incomum em agendas do governo federal em dias úteis. Sem fazer alusão à multa aplicada pelo Ibama na gestão do PT e à prescrição ocorrida no governo Bolsonaro, Ciro disse que a família Junqueira chegou a ser “maltratada” e não recebeu incentivos suficientes.

“Isso hoje é um reconhecimento à história de vida dessa família, a família Junqueira. Um reconhecimento tanto ao pai quanto ao Tiago pelo que ele representa para o estado. Para essas pessoas que vieram e escolheram o Piauí para produzir. Que, às vezes, foram maltratados, não foram incentivados da forma correta, mas que a paixão e a vontade de produzir falaram mais alto. Tiago merecia esse título de cidadão piauiense já há muito tempo”, afirmou o ministro. Mãe e suplente de Ciro no Senado, a senadora Eliane Nogueira também foi à Fazenda Chapada Grande nesse dia.

Em uma entrevista nessa cerimônia, o empresário Tiago Junqueira fez questão de expor seu posicionamento bolsonarista. Disse Junqueira ao jornalista Elivaldo Barbosa:

“Elivaldo, você esteve aqui comigo em 2009, num dia de campo. Agora estamos aqui, 13 anos… não gosto desse número… 14 anos depois, concluindo o projeto. O agro é a grande vocação do Brasil. Hoje nós temos um presidente que é patriota, fala em Deus, em liberdade, em agro, em família. Por isso que a gente fica cada vez mais motivado em continuar trabalhando, gerando emprego, produzindo e desenvolvendo uma região tão atrasada e tão pobre como o Piauí, mas com tanta riqueza e tantas oportunidades para serem exploradas”.

Em 2018, Junqueira foi denunciado pelo Ministério Público do Piauí, juntamente com outros três empresários, pelos crimes de corrupção ativa e tráfico de influência. As acusações incluíam pagamento de propina a servidores da Secretaria estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos para aprovar projetos de licenciamento ambiental sem a devida análise. A Justiça, porém, rejeitou o trecho da denúncia sobre o fazendeiro. O processo foi arquivado no mês passado.

Procurados, o empresário Tiago Junqueira e a empresa Real não responderam.

Procurada, a Casa Civil não respondeu. O Palácio do Planalto disse apenas que a resposta viria do Ibama, que, por sua vez, enviou um documento referente ao processo e afirmou que a prescrição aconteceu em maio de 2019.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comGuilherme Amado

Você quer ficar por dentro da coluna Guilherme Amado e receber notificações em tempo real?