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Gleisi Hoffmann defende afastamento de ministro das Comunicações

Afastamento de Juscelino Filho impediria “constrangimento” do governo, diz Gleisi Hoffmann, presidente do PT, em entrevista à coluna

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A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, defendeu o afastamento do ministro das Comunicações, Juscelino Filho, alvo de denúncias de irregularidades. Em entrevista à coluna nesta quarta-feira (1º/3), na sede do PT, em Brasília, Hoffmann disse que um pedido de afastamento do ministro para explicar as denúncias em que tem sido envolvido impediria o “constrangimento” do governo.

Juscelino Filho tem sido alvo de diversas denúncias que colocam em suspeita sua capacidade de seguir no governo. No dia 2 de janeiro, a coluna revelou que o ministro contratou a consultoria de uma ex-diretora do Tribunal de Justiça do Maranhão que foi condenada por fraudar a folha de pagamento da Corte. Ainda no primeiro mês do ano, o Estadão mostrou que Juscelino também usou o orçamento secreto para asfaltar uma estrada que passa em frente à sua fazenda, em Vitorino Freire (MA). Também foi revelado pelo jornal que o ministro voou de avião da FAB para ir a um leilão de cavalos de raça. Nesta semana, o colunista Rodrigo Rangel, do Metrópoles, mostrou que Juscelino pressionou uma estatal a contratar uma empresa suspeita de irregularidades.

Juscelino Filho é o herdeiro de um clã maranhense cujo chefe político é seu pai e padrinho na política, o enrolado Juscelino Rezende, que controla politicamente a cidade de Vitorino Freire, no interior. Conforme mostrou a coluna nesta semana, ele é réu pelo assassinato de um agiota em Vitorino Freire, hoje governada pela irmã do ministro, e também foi acusado de cinco crimes pela CPI do Narcotráfico da Câmara.

“Acho que o ministro devia pedir um afastamento para poder explicar, justificar, se for justificável o que ele fez. Isso impede o constrangimento de parte a parte”, disse.

O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, foi indicado por Davi Alcolumbre, que se apresentou em dezembro a Lula como um negociador chancelado pelo União Brasil para decidir quem do partido iria para quais cargos no primeiro escalão.

Ainda sobre o União Brasil, Hoffmann disse que não é possível ter qualquer conversa com o senador Sergio Moro, senador pela sigla, mas disse entender que a sigla não vá ter a adesão de todos os seus quadros — situação semelhante à de Deltan Dallagnol, seu conterrâneo e colega na Câmara dos Deputados.

Juscelino Filho não foi o único integrante alvo do escrutínio da presidente do PT. Nesta quinta-feira, a primeira parte da entrevista à coluna mostrou sua sinalização de paz para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que, segundo ela, está correto ao buscar uma mediação entre a visão desenvolvimentista do PT e de Lula e majoritariamente fiscalista do mercado. Enquadrou ainda o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, por ter indicado ao Conselho de Administração da Petrobras nomes do Centrão com uma visão também distante da defendida por Lula na campanha. A deputada também pediu que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, saia do cargo.

Leia a seguir este trecho da entrevista com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann e, ao fim do texto, assista ao vídeo com toda a segunda parte da conversa.

O que o governo federal quer fazer no Congresso?

Vamos sentir a partir deste mês. Espero uma relação de respeito e consideração, e que obviamente o presidente da Câmara trate as bancadas com os direitos previstos no regimento, e que não queira tratorar ninguém. A oposição lá é uma oposição mais barulhenta. Aquele pessoal mais bolsonarista mesmo, quem fica gritando no plenário, agredindo o Lula, agredindo o PT, enfim, mas não tem capacidade de mudar posições dos demais deputados, principalmente do Centrão.

Você já esbarrou na Câmara com o Deltan Dallagnol, seu conterrâneo?

Não, nunca vi lá.

Há possibilidade de relação com o deputado Dallagnol e o senador Sergio Moro? Vocês esperam que o Podemos e o União Brasil, partidos dos dois, possam ter espaço no governo?

Com essas figuras nós não conversamos, não tem diálogo, não tem vontade nenhuma de aproximação. Muito pelo contrário: queremos distância pelo que eles representam, pelo que eles fizeram em grande parte da tragédia política econômica que vivemos no país. Esse ataque à democracia se deve a essas figuras como Moro e como Dallagnol. Agora uma coisa diferente é você conversar com pessoas que são do partido, que não pensam igual a eles. O Ministro Padilha [Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais] tem feito isso no Senado e na Câmara.

Não vê problemas em posicionamentos de oposição dentro da base do governo?

Não, porque tem partidos com mais dificuldades de virem conosco e isso é natural, porque são muito distantes politicamente. Então, muitas vezes vem uma parte do partido, que é a parte que nos dá a maioria, nos dá as condições de voto. O que a gente constrói no Congresso Nacional são condições para ganhar votações que o governo julgar importante. Não precisamos da adesão total.

Um dos partidos da base, o União Brasil é governo, mas na prática não é. Deputados têm ameaçado votar contra o governo. O deputado Elmar Nascimento, por exemplo, é quase um deputado de oposição. E a sigla tem três ministérios.

É engraçado porque muitos se dizem independentes, inclusive.

A palavra da moda é essa?

Sim. Acho que é preciso avaliar a aliança. Aliança não é uma coisa sagrada que se faz e não se sai dela. Se não der certo, se não tiver entrega, não tem por que continuar, certo? Aí é melhor fazer pontualmente com os parlamentares que estão com você, mas não uma aliança formal de participação do governo. Tem que avaliar.

Qual é a situação atual do ministro Juscelino Filho? Ele usou avião da FAB para ir a um leilão de cavalos de raça. Qual é sua visão sobre a atuação dele no governo?

Olha, em situações como essa, eu acho que o ministro devia pedir um afastamento para poder explicar, justificar, se for justificável o que ele fez. Isso impede o constrangimento de parte a parte.

Como você avalia o calendário de entregas nesses dois meses de governo? Apesar do 8 de janeiro, você considera que foram dois meses satisfatórios para o eleitor de Lula?

Olha, eu acho que o governo está indo bem. O presidente Lula está indo muito bem, com uma visão muito clara do que ele tem que fazer e qual é o papel dele, com respostas muito rápidas e efetivas aos acontecimentos, como aconteceu no caso do 8 de janeiro, na questão dos ianomâmis e na questão das chuvas em São Paulo e em outros lugares. Ele está conseguindo fazer o governo responder, tem cobrado muito a finalização das propostas de todas as pastas. Ele já lançou o novo Minha Casa, Minha Vida. Lançou o Novo Bolsa Família, com recurso de R$ 150 para crianças até seis anos. Já disse que vai lançar o Desenrola, que é a renegociação da dívida, já falou do aumento do salário mínimo, vai fazer a desoneração inicial, a desoneração da tabela do Imposto de Renda, o reajuste da tabela. Já são medidas que terão impacto na vida das pessoas. O mais importante é que temos que buscar o crescimento e a geração de emprego. Estamos vendo a realidade da economia, e ela não está boa. Os analistas estão dizendo que nós vamos ter recessão no segundo semestre, mais a taxa de juros absurda.

Colaboraram Natália Portinari, Edoardo Ghirotto e Beatriz Souza. 

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metropoles.comGuilherme Amado

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