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“Foco do Pedro era me intimidar”, diz única mulher no Conselho da Caixa

Maria Rita Serrano, representante dos empregados da Caixa, descreve tentativas de cercear seu trabalho e revela ter questionado corregedoria

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Divulgação/Sindicato dos Bancários
Maria rita serrano
1 de 1 Maria rita serrano - Foto: Divulgação/Sindicato dos Bancários

Integrante do Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal (CEF) na condição de representante dos empregados do banco, a funcionária Maria Rita Serrano afirmou à coluna que tinha conhecimento de rumores dos casos de assédio sexual cometidos pelo ex-presidente da estatal, Pedro Guimarães, pelo menos desde o começo de 2021, e relatou uma ocasião em que se dirigiu à corregedoria do banco para verificar se uma acusação era formalmente investigada. Fora esse episódio, Serrano – única integrante do conselho que não foi indicada pelo governo Bolsonaro, mas eleita pelos funcionários – diz ter percebido a ação direta de Pedro Guimarães em tentativas de “intimidar” e “cercear” seu trabalho, por ser uma voz destoante no colegiado.

As denúncias, segundo o que sempre foi repassado à conselheira, nunca foram apresentadas formalmente à entidade e, por isso, surpreende a informação de que os casos de assédio sexual chegaram aos órgãos de controle, conforme as vítimas relataram à coluna de Rodrigo Rangel. Diante das denúncias, Serrano solicitou ao presidente do conselho, Rogério Bimbi, nesta quarta-feira (29/6), a abertura de um processo de averiguação e responsabilização de Pedro Guimarães e outros possíveis envolvidos no aliciamento e ocultamento dos crimes.

A conselheira pontua que, mesmo tendo conhecimento dos casos desde fevereiro de 2021, nunca tratou do assunto no Conselho de Administração. Ainda naquele ano, Serrano afirma que ficou sabendo da demissão de um segurança que trabalha na garagem da Caixa Econômica, em Brasília, porque o funcionário teria flagrado a conduta imprópria de Pedro Guimarães com uma assessora dentro de um carro.

Única mulher entre sete homens, Serrano foi reeleita recentemente pelos servidores, com 91% dos votos.

Leia abaixo trechos da entrevista da conselheira da Caixa à coluna.

Em que momento a cúpula da Caixa Econômica soube dos casos de assédio sexual?

Não houve, até hoje, qualquer denúncia formal ou processo de investigação interno que tenha chegado ao Conselho de Administração. O que eu fiz, quando eu soube do caso da garagem, foi perguntar aos órgãos de controle se havia, de fato, denúncias ou investigações sobre o caso. Na época, eles disseram que o tema não havia nem sido pauta na corregedoria e na ouvidoria. Os casos corriam como especulações, então eu nunca tratei diretamente sobre isso no conselho, mas sempre atuei para coibir outras posturas autoritárias. Sobre esse caso, a falta de um caso concreto impediu. Eu tentei saber depois do famoso caso da garagem, sobre o qual nunca apareceu algo concreto. Se existiu dentro do banco, nunca chegou oficialmente ao conselho.

Quando a senhora soube do assunto, e quais medidas tomou?

Com essas denúncias (publicadas pelo Metrópoles), eu pedi ao presidente do conselho, Rogério Bimbi, e aos demais conselheiros que abrissem urgentemente um processo de apuração sobre os casos, feito por um órgão externo, para apurar responsabilidades e garantir a proteção das vítimas. A reportagem diz que as denunciantes relataram os casos a órgãos de controle, mas isso nunca chegou até nós. O Bimbi informou que irá fazer uma reunião do conselho até amanhã (quinta-feira, 30 de junho) para analisarmos as medidas cabíveis.

Diante da sensibilidade do assunto, não seria o caso de ter tomado alguma medida para tentar levantar casos, preveni-los… Enfim, algo que evitasse que mais mulheres fossem expostas?

O banco tem regras de governança, tem acordo com os sindicatos sobre denúncias de assédio sexual, tem canais de denúncia. Como representante dos trabalhadores, sempre atuei incentivando as denúncias, combatendo a piora nas condições de trabalho. Agora, diferentemente do que alguns defendem no Brasil, só se acusa se houver prova, denúncia concreta. Além disso, sou minoria no conselho, sou a única eleita de oito indicados pelo governo. É necessário que a pessoa denuncie, e é preciso ter provas. Não basta só ouvir falar, entendeu?

Qual é o ambiente em relação a você no conselho?

Contra mim já se fez muita pressão nesta gestão. Tentaram me calar, porque sou a única voz destoante. Eu questiono, eu voto contra algumas coisas, eu me posiciono publicamente. Isso começou a incomodar muito, e fui alvo de processos disciplinares. Não teve consequência contra mim, porque não havia objeto concreto de denúncia, mas foi um enfrentamento duro que tive na gestão do Pedro. Ele vinha me pressionando em relação ao meu mandato, mas acabei ganhando a reeleição agora, e ele não teve escolha, teve de engolir. Quando falam que eu tentei fazer o enfrentamento, eu sou a única destoante. Isso começou a incomodar e tentaram cercear com esses processos internos. O foco do Pedro era tentar me intimidar. Mulher, empregada do banco e uma voz destoante. Como eu ia chegar sem um caso formalizado e abordar o assunto no conselho? Então essa é a dificuldade. Eu sempre tentei deixar claro que a Caixa tem canais de denúncia e mostrar que é importante que as pessoas falem. Mas, caso seja comprovado que os órgãos de denúncia tinham conhecimento dessas ocorrências e não deram andamento às investigações, o conselho terá de tomar medidas, e eu vou defender medidas drásticas, porque não podemos ter órgãos internos coniventes com o crime.

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metropoles.comGuilherme Amado

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