Família Herzog critica Escola Vladimir Herzog por buscar militarização
“Lugar de militar é nos quartéis”, diz Ivo Herzog. Escola em São Bernardo do Campo (SP) manifestou interesse em adotar modelo cívico-militar
atualizado
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O engenheiro Ivo Herzog, filho do jornalista Vladimir Herzog, criticou nesta sexta-feira (19/7) a manifestação de interesse da Escola Vladimir Herzog, em São Bernardo do Campo (SP), em aderir ao modelo cívico-militar do estado de São Paulo. Na contramão do Ministério da Educação, o governo Tarcísio de Freitas pretende implantar o modelo em 45 escolas no próximo ano.
“Lugar de militar é nos quartéis, não nas escolas. A família Herzog protesta fortemente em relação ao projeto de tornar a Escola Estadual Jornalista Vladimir Herzog, uma escola civil-militar. Caso o projeto caminhe, iremos tomar as medidas cabíveis para que o nome do meu pai não se associe a esta atrocidade”, afirmou Ivo Herzog à coluna.
A diretoria da escola manifestou o interesse na educação militarizada na quinta-feira (18/7). A comunidade escolar ainda precisa ser ouvida em três consultas públicas no próximo mês. O governo paulista fará o anúncio final em 30 de agosto.
Presidente do Conselho do Instituto Vladimir Herzog, Ivo tinha 9 anos quando seu pai foi preso, torturado e morto pela ditadura militar. Em outubro de 1975, Herzog se apresentou ao Destacamento de Operações e Informações-Centro de Operações e Defesa Interna (DOI-Codi) depois que foi intimado a “prestar esclarecimentos”. Herzog foi assassinado na prisão, a exemplo de dezenas de outros crimes cometidos pelas Forças Armadas na ditadura.
O Exército, na época, alegou que o jornalista da TV Cultura cometera suicídio, e divulgou uma foto em que Herzog aparecia enforcado com os joelhos rentes ao chão. Em 1978, a Justiça atendeu a um pedido da família Herzog e condenou a União como responsável pela prisão, pela tortura e pelo assassinato do jornalista.
Em 2013, a Comissão da Verdade embasou a mudança do atestado de óbito de Vlado para “lesões e maus-tratos sofridas em dependência do Exército”. Já em 2018, a Corte Interamericana de Direitos Humanos condenou o Estado brasileiro pelo homicídio. Foi o primeiro julgamento em que o órgão reconheceu como crime contra a humanidade um assassinato cometido pela ditadura militar.