Testemunhas de defesa de Marcius Melhem dão sua visão sobre o caso
Nelito Fernandes, Gabriela Amaral e Alice Demier, que trabalhavam no Zorra, dizem que só souberam das denúncias pela imprensa
atualizado
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Testemunhas indicadas pela defesa do ator Marcius Melhem, ouvidas pela coluna, sustentaram que uma parte dos funcionários do Núcleo de Humor da TV Globo tiveram uma experiência diferente das mulheres que acusam o diretor de assédio sexual. Por indicação de Melhem, a coluna obteve o contato com três nomes: os roteiristas Nelito Fernandes e Gabriela Amaral e a diretora Alice Demier.
Nelito Fernandes e Gabriela Amaral, que trabalhavam na redação do Zorra, e a diretora Alice Demier, que era uma das diretoras do programa, afirmam que nunca haviam escutado os relatos de assédio no ambiente de trabalho até o caso sair na imprensa. Os três conversaram com a coluna, mas não gravaram entrevista em vídeo.
O jornalista Nelito Fernandes, que foi redator-final do Zorra Total, trabalhou ao todo por cerca de oito anos com Melhem. Disse que nunca presenciou ou foi informado de qualquer atitude suspeita do colega. Fernandes elogiou Melhem e também disse que o ambiente de trabalho de um programa de humor não é convencional e precisa ser analisado sob esse ângulo.
“Eu não posso avaliar acusação. Isso quem tem que fazer é o Ministério Público e a Justiça. O que eu posso falar é da minha experiência com o Marcius. Ele sempre foi um cara muito correto, educado, paciente e gentil. Nunca vi nada anormal, nem ouvi falar. Nunca chegou para mim. Eu fiquei surpreso. Por muitas vezes parece que descreveram um lugar que eu nunca vi. O ambiente é muito pouco convencional na redação de um programa de humor”, disse.
“É de muita brincadeira, é divertido. As pessoas não têm comportamento quadrado, convencional de um escritório com todos falando baixo, onde só se ouve o barulho de teclado. Existe uma efervescência ali. Determinadas coisas precisam ser olhadas sob esse contexto. Não estou tentando amenizar. Também não dá abertura para ninguém ter nenhum comportamento inadequado, nada disso”, continuou Nelito Fernandes.
À coluna, a roteirista do programa Zorra, Gabriela Amaral, que foi uma das testemunhas de Melhem na Justiça, disse que sempre foi “muito respeitada” pelo ator e que “nunca presenciou” e “nem ouviu” casos de abusos sexuais ou morais vindos de Melhem.
Amaral contou à coluna que foi convidada pela defesa do ator para ser testemunha no processo. A roteirista trabalhou com o ator em diferentes ocasiões, entre 2004 e 2019. Melhem foi chefe de Amaral na redação do Zorra Total.
“A nossa relação sempre foi muito cordial. Ele ouvia muito, até quando tínhamos problemas no programa, no roteiro. Eu nunca fiquei sabendo de nada, nem em conversas de corredor. Foi uma surpresa pra mim quando as denúncias vieram à tona”, disse Amaral à coluna.
A roteirista disse que a redação, por ser um programa de humor, sempre teve um ambiente “muito descontraído” e com “muitas piadas”, mas que nunca ouviu nada vindo do ator que tenha considerado como desrespeitoso ou “fora dos limites”.
Já a diretora do Zorra Alice Demier ponderou os dois lados. Para ela, o ex-chefe do núcleo de humor da TV Globo Marcius Melhem errou no seu comportamento e não soube delimitar seu papel como chefe, mas foi vítima de “inverdades” nas acusações de assédio sexual.
Demier foi diretora do Zorra, programa de humor da Globo, de janeiro de 2017 a outubro de 2020, período em que trabalhou com Melhem. Ela relata que o ambiente de trabalho era “muito feliz” e que, embora reprove o comportamento “permissivo” dele com a equipe, nunca percebeu constrangimento das mulheres que trabalhavam com ele.
“Não acho que o Marcius agiu de forma correta em toda a vida profissional dele, não. Muito pelo contrário. E não escondo isso dele em hora nenhuma. Acho que ele vacilou muito, porque quando você assume um papel, um cargo da relevância que ele tem, algumas coisas você tem que parar de fazer”, afirma Alice Demier.