Ex-funcionária acampa na frente da Petrobras e pede tratamento médico
Edilene Farias foi diagnosticada com diversas doenças causadas por trabalho em refinaria e acusa Petrobras de demissão política
atualizado
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Uma ex-servidora da Petrobras está acampada há vinte dias na frente da sede da estatal, no Rio de Janeiro, para pressionar a estatal a pagar seu tratamento médico. De dentro de um barraco erguido com uma lona azul na calçada da avenida Henrique Valadares, no Centro da Cidade, Edilene Farias afirma que as doenças foram causadas pelos dez anos que trabalhou na Refinaria de Mataripe, na Bahia. O tratamento foi interrompido após sua demissão da estatal, situação que ela alega ter sido uma “punição política”.
Ativista dos direitos de servidores acidentados no ambiente de trabalho, Farias entrou na Petrobras no concurso de 1987, aos 20 anos. Durante os dez primeiros anos na estatal, trabalhou como técnica química dentro da Refinaria de Mataripe. Após ser diagnosticada pelos médicos da própria Petrobras com dermatite causada pelo contato diário com toxinas, a concursada foi transferida de área. Longe das refinarias, Leninha, como é conhecida por “companheiros”, recebeu um afastamento de quatro anos pelo INSS para tratar outros problemas de saúde que foram aparecendo com o tempo, como a presença de sulfetos metálicos no sangue e constantes choques anafiláticos.
Entre reclamação de dores da polineuropatia crônica, doença causada pelo contato com metais pesados, a ex-funcionária deita na pequena cama de solteiro que ganhou de sindicalistas petroleiros e explica por que considera que sua demissão foi política:
“No primeiro governo Lula, os companheiros que denunciavam acidentes e o descaso da Petrobras eram censurados por diretores de lá [Petrobras]. A gente não podia falar mal do ‘governo dos trabalhadores’. Eu não parei de fazer as denúncias e recebi diversos avisos, até que um dia, no meio de uma licença médica toda documentada, fui demitida. Eles alegaram que eu abandonei o trabalho, mesmo tendo aprovado, meses antes, minha licença”, disse a ex-servidora à coluna.
Em setembro de 2009, ao fim dos quatro anos de licença do INSS, Farias voltou ao trabalho. E-mails da época enviados à coluna pela ex-funcionária, e que constam no processo que tramita até hoje na Justiça, mostram que, dias após sua volta, ela comunicou ao Recursos Humanos da Petrobras que ainda estava inapta para cumprir as jornadas de expediente. A ex-funcionária pediu mais 90 dias de licença e apresentou recomendações de seus médicos e um comunicado de acidente de trabalho, emitido pelo Ministério do Trabalho. Um mês e meio depois, no dia 13 de novembro de 2009, ela foi demitida.
Segundo Farias, sua doença está se agravando e não tem mais como arcar com R$ 4 mil em medicamentos todos os meses. Além do alto gasto com remédio, não tem plano de saúde e, portanto, não consegue fazer os exames médicos que precisa para o tratamento de suas doenças. Cansada, ela explica por que, depois de 14 anos, decidiu acampar na frente da sede da Petrobras:
“Eu estou aqui porque minha doença está se agravando. Em vez de eu ficar sozinha em casa com medo de morrer, eu vim para cá fazer a mesma coisa que eu faço em casa, a única que consigo fazer por causa da minha doença: ficar deitada. Eu quero compartilhar o meu medo de morrer com eles. Melhor morrer na frente da Petrobras do que em casa sozinha. Eu só saio daqui para o hospital, com tratamento, ou para o cemitério. Eu só não imaginava que iria durar tanto tempo”, disse, olhando para as caixas de remédios quase vazias sobre a mesa de plástico.
Farias levou para o Rio de Janeiro medicamentos para 20 dias. Não imaginava, afirma, que demoraria tanto para a Petrobras tomar uma posição. Sua esperança é a reunião que, segundo ela, aconteceu entre um diretor da Frente Nacional dos Petroleiros (FNP) e o chefe de gabinete de Jean Paul-Prates, presidente da estatal, na última semana. O petroleiro levou à Presidência da Petrobras uma lista das reivindicações dela sobre sua saúde.
O que diz a Petrobras
Em nota à coluna, a Petrobras alegou que Edilene Farias abandonou o emprego após faltar por 46 dias. A estatal disse também que um médico indicado pelo juiz da ação trabalhista “não confirmou” as doenças da ex-funcionária. Contudo, afirmou que “buscará articulação com órgãos do governo visando obter apoio de tratamento médico para a ex-empregada”.